O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse ontem (30/6) que o Ministério da Saúde “sempre foi um lugar onde a corrupção andou”.
Mourão foi questionado por jornalistas, na saída de seu gabinete, no Palácio do Planalto, sobre as denúncias de irregularidades em negociações para a compra de vacinas contra a Covid-19 (leia mais abaixo).
“O Ministério da Saúde sempre foi um lugar onde a corrupção andou lá dentro, né? E você não consegue, da noite para o dia, desmanchar uma estrutura que se encontra lá dentro. Então, eu vejo que isso é responsabilidade dos gestores que têm de estar atentos a isso o tempo todo”, afirmou.
O vice-presidente foi perguntado sobre o relato do deputado Luis Miranda (DEM-DF), de que teria levado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) as suspeitas de corrupção envolvendo as negociações de importação da Covaxin.
Na semana passada, durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro confirmou que se reuniu com Miranda, mas ressaltou que o parlamentar não apresentou denúncias.
“Eu nunca soube que alguma coisa estivesse ocorrendo lá dentro do Ministério da Saúde, não é? E eu acredito que o presidente, quando tomou conhecimento, ele acionou o ministro, que era o [Eduardo] Pazuello [ex-ministro da Saúde], para que ele investigasse o que que estava acontecendo – que seria a mesma reação que eu teria, né?”, disse Mourão.
Covaxin
O deputado Luis Miranda e o irmão, Luis Ricardo Miranda, que coordena a área de importação de insumos no Ministério da Saúde, depuseram à CPI da Covid na última semana. Na ocasião, o deputado afirmou que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), foi mencionado pelo presidente Jair Bolsonaro como possível envolvido em esquema de corrupção, ao ouvir denúncia sobre os supostos problemas no contrato da vacina Covaxin. Barros nega envolvimento.
Segundo um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério da Saúde levou 97 dias para fechar o contrato, enquanto demorou 330 dias para ter um acordo com a Pfizer.
Além disso, segundo documentos do TCU, a Covaxin foi uma das mais caras negociadas pelo governo federal, custando US$ 15 a unidade. O valor é quatro vezes maior que o da vacina da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a AstraZeneca, por exemplo.
O contrato entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos para compra da Covaxin foi o único acordo do governo que teve um intermediário sem vínculo com a indústria de vacinas – o que foge do padrão das negociações e dos contratos de outros imunizantes.
O Ministério da Saúde firmou um acordo de R$ 1,6 bilhão para a compra de 20 milhões de doses. O valor ainda não foi pago, mas está empenhado (reservado para desembolso e não pode ser usado em outro pagamento), e as doses não foram importadas para o Brasil.
Pedido de propina
Além disso, a CPI da Covid irá investigar outra denúncia, essa voltada à compra de vacinas da AstraZeneca/Fiocruz. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o representante da empresa de vacinas Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, afirmou ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose, em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde.
O pedido teria partido de Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística do Ministério da Saúde, durante um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, localizado na região central de Brasília, em 25 de fevereiro.
Roberto Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). A nomeação do servidor ocorreu em 8 de janeiro de 2019, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Após as denúncias, Dias foi exonerado do cargo.