Aquele vestido azul, costurado pela avó e com asas às costas, talvez roubasse a atenção de tudo o que estava por trás naquele vídeo. Àquela altura, aos 7 anos, Rayssa Alves não sabia, mas dava, ali, sua primeira manobra rumo à história. O apelido, Fadinha, ainda indicava uma brincadeira naqueles dias. Mas hoje, aos 13 anos, a skatista pinta a realidade com traços de contos de fada. A prata conquistada em Tóquio alça Rayssa ao templo máximo dos heróis olímpicos brasileiros.
– Saber de todas as meninas que me mandaram mensagens no Instagram, dizendo que começaram a andar de skate por causa de um vídeo meu, eu fico muito feliz. Aconteceu o mesmo comigo. Eu via vídeos da Letícia (Bufoni) andando de skate. Mostrei para o meu pai, ele viu e falou: “Beleza, pode andar”. O Matheus, amigo meu, apareceu com skate e era minha chance. A minha história e as de outras skatistas quebraram toda essa barreira de que skate era só para homens. Hoje, eu posso segurar uma medalha olímpica, e isso é muito importante para mim.
Ao compartilhar as imagens de alguns tombos até conseguir completar o movimento, a menina de Imperatriz, no Maranhão, deu início a um caminho sem volta. Ainda que não esperasse nada, Rayssa ganhou as redes sociais e chegou aos principais nomes da modalidade. Tony Hawk, a maior lenda da história do skate, apresentou Rayssa ao mundo com o tweet abaixo. O vídeo original ultrapassou as 20 milhões de visualizações. Hoje, o ídolo já não se mostra tão distante. Na intimidade de quem sabe o que faz, Fadinha segue o legado de quem a inspirou.
– Toninho, meu amigo. Na verdade, eu encontrei ele só uma vez hoje. Não, eu menti. Foram duas. Dei um oizinho, ele me deu um oi de volta. Aí eu pedi uma água a um voluntário, ele veio até mim e falou: “Good luck”. Enfim, eu fico muito feliz por conhecer essa lenda que me inspira todos os dias. Ele repostou meu vídeo lá no início. Ele gosta muito de mim – disse.
Durante todo o dia de disputa em Tóquio, Rayssa não pareceu sentir qualquer pressão. O peso de ser a mais jovem atleta da delegação brasileira se transformou em uma simples brincadeira. Na pista, a cada intervalo, aproveitava para brincar com a filipina Margielyn Didal. Rolou no chão, dançou e esqueceu da competição. A tática de se manter leve funcionou.
– Eu tento ao máximo me divertir. Porque eu tenho certeza que me divertir deixa as coisas fluírem. Elas acontecem naturalmente. E ficar dançando ali é muito engraçado. Eu tento ao máximo ficar mais leve e não pegar a pressão.
Rayssa também não quer pensar no que vai mudar. Por enquanto, só quer aproveitar a medalha pendurada ao peito. Em meio a tantos parabéns e comemorações, tudo tem acontecido muito rápido para a medalhista mais jovem da história do Brasil.
– Não consigo pensar em nada ainda, está tudo muito rápido. Fico muito feliz por isso.