As notificações de casos de dengue em Mato Grosso do Sul estão no menor patamar dos últimos oito anos, período que representa toda a série histórica dos dados feita pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).
De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado nesta semana, desde o início deste ano, foram apenas 1.911 casos notificados em todo o Estado.
Apesar de os casos não contabilizarem o ano por completo, as notificações da doença são principalmente registradas a partir de janeiro e início de abril. Nos outros meses do ano, a doença costuma afetar poucas pessoas, por se tratar de período mais seco. É a partir de dezembro que os casos voltam com mais intensidade.
Conforme a série histórica, 2017 foi o ano com o segundo menor número de notificações do Estado até agora, com 2.356. O maior foi em 2019, quando em todo o Mato Grosso do Sul foram registrados 65.675 casos suspeitos da doença.
A utilização das notificações de dengue como parâmetro se deve ao fato de que poucos casos são efetivamente investigados a fundo, já que por ser uma doença considerada sazonal, os médicos já estão familiarizados com os sintomas e fazem a notificação do paciente com a certeza do resultado.
Para a superintendente de vigilância em saúde da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Veruska Lahdo, a redução em Campo Grande, que dos 1.911 casos é responsável por apenas 335 notificações, deve-se à antecipação de ações para combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.
“A gente antecipou algumas ações por estarmos preocupados com uma possível epidemia. Geralmente, a gente começa essas ações em dezembro/janeiro, mas decidimos começar em outubro do ano passado”, conta a chefe da vigilância da Pasta.
Segundo Lahdo, entre as ações iniciadas está a Operação Mosquito Zero, que percorreu regiões com o maior número de casos e que levou conscientização para a população, com o apoio de outras Pastas ligadas à administração municipal.
“Nós também fizemos o monitoramento de locais onde geralmente são identificados focos da doença. Então, demos continuidade às vistorias em borracharias, floriculturas e cemitérios. O trabalho de campo continuou sendo feito mesmo com a pandemia, porque a gente tem de frisar que a dengue é uma doença sazonal, então o trabalho tem de ser feito”, completa a superintendente da Sesau.
SAZONALIDADE
A última epidemia de dengue em Mato Grosso do Sul e também em Campo Grande foi registrada em 2020, ano em que foram notificados 52.280 casos suspeitos em todo o Estado, a segunda maior de toda a série histórica divulgada pela SES.
Apesar de ter ocorrido na sequência da maior epidemia de dengue da série, a de 2019, não é comum que a doença venha forte por anos consecutivos. Especialistas avaliam que a sazonalidade da doença tenha espaçamento de dois anos entre uma epidemia e outra.
Se esse fator for levando em consideração, o ano de 2023 pode representar um risco para uma nova epidemia da doença. Pensando nisso, Veruska afirma que a Pasta já está alerta sobre os passos da doença para o próximo ano.
“A gente passou por duas epidemias grandes, 2019 e 2020, com grande circulação da dengue tipo 2, por conta disso, a gente sempre pensa nas ações para o próximo ano, porque geralmente o terceiro [ano] acaba tendo epidemias e a dengue tipo 1 volta a circular”, explicou Lahdo.
WOLBACHIA
Entre as ferramentas que também podem estar contribuindo para a redução dos casos este ano é a soltura dos mosquitos com a bactéria Wolbachia, que impede que o Aedes aegypti desenvolva tanto dengue como zika e chikungunya.
Os primeiros mosquitos com a bactéria foram soltos em Campo Grande entre dezembro de 2020 e julho de 2021.
Até agora, 40 bairros já foram contemplados na Capital, e a quarta fase da soltura começou a ser feita nesta semana, tendo previsão para ser encerrada até junho deste ano.
SAIBA
Um dos motivos para a queda drástica de dengue neste ano em Campo Grande pode estar relacionado ao baixo acumulado de chuvas.
Até ontem, de acordo com o Inmet, o acumulado era de 316 milímetros. Menor que o registrado na última epidemia, em 2020, quando de janeiro a março foram contabilizados 505,6 mm.