
Uma operação conjunta envolvendo o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Polícia Federal resultou no resgate de 15 trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão em uma fazenda no Pantanal sul-mato-grossense, a cerca de 425 km de Campo Grande. A ação foi desencadeada após denúncias que levaram as autoridades a uma área isolada no município de Corumbá.
Situação Alarmante
De acordo com nota da Polícia Federal, os trabalhadores estavam em uma região de difícil acesso, alcançada somente após três dias de viagem de barco. Lá, enfrentavam severas violações de direitos, como falta de água potável, alimentação insuficiente e restrição de locomoção.
As investigações revelaram que a água disponível era imprópria para consumo, ocasionando frequentes episódios de diarreia entre os trabalhadores. Além disso, a alimentação, fornecida semanalmente pelos empregadores, era insuficiente, forçando os trabalhadores a caçarem para complementar suas refeições.
Condições Precárias
O alojamento era improvisado: estruturas feitas com madeira, cobertas por lonas e vegetação seca. Sem proteção adequada contra animais ou intempéries, os trabalhadores dormiam em camas e redes precárias, utilizando mosquiteiros para se proteger. Não havia instalações sanitárias nem acesso a água para banho, agravando ainda mais a vulnerabilidade das vítimas.
Segundo a Polícia Federal, os trabalhadores eram ainda ameaçados para que não denunciassem a situação, criando um ambiente de medo e submissão.
Resgate e Assistência
Após a operação, as vítimas receberam assistência imediata, incluindo apoio social e trabalhista para restabelecimento de seus direitos. “Os empregadores responderão pelas sanções administrativas e trabalhistas cabíveis, além de enfrentarem processos criminais por reduzir trabalhadores a condições análogas à escravidão”, afirmou a PF.
A “Lista Suja” e o Contexto no Estado
O caso reforça a preocupação com o trabalho escravo no Mato Grosso do Sul. Segundo o MTE, o estado registrou, até 2024, seis propriedades incluídas na chamada “Lista Suja”, que identifica empregadores envolvidos com práticas de trabalho escravo.
Na última atualização da lista, divulgada em outubro de 2023, 13 propriedades sul-mato-grossenses foram incluídas. Em um dos casos mais notórios, o cantor Leonardo também foi relacionado.
Desde 1995, mais de 3.100 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão no estado. Corumbá, cenário do recente resgate, lidera o ranking de autos de infração em 2023, com 49 registros, seguida por Porto Murtinho (30), Aquidauana (25), Bela Vista (20) e Nova Alvorada do Sul (14).
Conclusão
O resgate no Pantanal é mais um alerta para as condições degradantes que persistem no mercado de trabalho em regiões isoladas do país. A atuação conjunta das autoridades mostra a importância da denúncia e do combate contínuo a práticas que violam a dignidade humana.
Fonte: CE/ML