Com a saúde debilitada e sem o poder de décadas passadas, Fahd Georges Jamil, de 82 anos, o chamado “Rei da Fronteira”, declarou em seu depoimento à Justiça que não tem relação próxima com a família Name porque seriam estes os responsáveis pelo assassinado de um de seus filhos, Daniel Alvarez Georges, o Danielito, que desapareceu em maio de 2011 e seus restos mortais nunca foram localizados.
Para tentar se desvincular dos crimes cometidos pelos Name, o “Rei da Fronteira” afirmou, em seu interrogatório judicial, que “nunca pediu para eles me ajudarem, principalmente depois que chegou essa notícia dos NAMEs estarem envolvidos na morte de Daniel”.
Historicamente, as duas famílias, uma da fronteira e outra de Campo Grande, foram aliadas. Jamil Name Filho, inclusive, permaneceu escondido na casa de Fuad depois da apreensão de um arsenal de armas em uma casa da família Name no bairro Monte Líbano, em Campo Grande.
Naquela época, em setembro de 2019, porém, a informação de que os Name estariam envolvidos no desaparecimento de Danielito ainda eram desconhecidas. Isso somente foi descoberto cerca de um ano depois, no segundo semestre de 2020.
Uma das testemunhas da Operação Omertà disse ter ouvido do pistoleiro José Moreira Freires, o Zezinho, morto pela polícia do Rio Grande do Norte em dezembro de 2020, que Danielito teria sido atraído por Jamil Name Filho para uma emboscada fatal no dia 3 de maio de 2011.
Depois deste desaparecimento, vários assassinatos ocorreram em Campo Grande e na região de fronteira, todos de pessoas supostamente envolvidas do desaparecimento do filho mais velho da Fuad.
Mas somente depois de ter a prisão decretada e após de entregar à Justiça é que soube que um de seus mais tradicionais aliados teria sido o mandante do crime que nunca foi esclarecido.
Jamilzinho teria encomendado a morte de Danielito porque este estaria tentando desbancar a família Name do domínio do jogo do bicho em Campo Grande, atividade que rendia R$ 80 mil por dia aos Name.
E apesar de Jamilzinho, suposto assassino do filho, estar recolhido no presídio federal de Mossoró, e de seu pai estar morto desde junho de 2021, Fuad deixou claro que temia destino parecido ao do filho em Campo Grande.
Em setembro do ano passado, quando foi internado no hospital da Unimed, na Capital, “ele exigiu a presença de dois guarda-costas temendo a ação de algum desafeto”, conforme texto da denúncia de quase 700 páginas anexadas nesta quarta-feira (17) ao processo de dez mil páginas que pede a condenação de Fuad como principal chefe de uma organização criminosa e grupo de extermínio.
Inicialmente, acreditava-se que ele temesse possíveis ataques de integrantes da fação criminosa do Primeiro Comando da Capital, o PCC. Mas, em seu interrogatório o próprio Fuad já havia deixado claro que “ao ser indagado pelo magistrado sobre o motivo pelo qual teme sofrer retaliação por parte da organização criminosa do Primeiro Comando da Capital , FAHD JAMIL (“FUAD”) afirmou que “nunca teve problemas com eles” e que “respeita essa facção criminosa”.
Mas apesar desta relação respeitosa com o PCC, Fuad tinha muito cuidado com sua segurança. Conforme o MPE, “o acusado FAHD JAMIL sempre anda com segurança armada (valia-se inclusive de policiais para lhe garantir proteção) e possuía ao menos dois seguranças armados em sua residência em Ponta Porã, em cujo quarto, aliás, foi instalada uma janela de chapa de aço visando a “dificultar o serviço de pistoleiro”, tudo em conformidade com suas próprias declarações (interrogatório) prestadas em juízo”.
Depois de uma passagem rápida pelo hospital de Campo Grande, Fuad obteve autorização judicial, em outubro do ano passado, para continuar com o tratamento cardíaco no hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
No processo em que está prestes a ser julgado, Fuad Jamil não teve seus supostos crimes na região de fronteira investigados, conforme deixa claro o MPE. Ele foi denunciado somente por “ilícitos relacionados, de alguma forma, à organização criminosa liderada por JAMIL NAME (“JN” ou “VELHO”), que é seu compadre, mais precisamente na aquisição/transporte de armas de fogo de grosso calibre (fuzis) e na preparação/execução de alguns homicídios, a exemplo de Ilson Martins Figueiredo”, diz o texto assinado por uma procuradora e seis promotores do Gaeco.
Fonte: Correio do Estado