A Polícia Federal encontrou indícios de lavagem de dinheiro em uma série de negócios milionários envolvendo fazendas e imóveis feitos pelo conselheiro do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado) Waldir Neves. As transações são investigadas no âmbito da Operação Mineradora de Ouro, deflagrada na semana passada.
As movimentações suspeitas foram identificadas a partir da quebra de sigilos do conselheiro. As apurações devem se aprofundar ainda mais, uma vez que a decisão que autorizou os mandados cumpridos na última semana, proferida pelo ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Francisco Falcão, também determinou novo afastamento de sigilos bancário e fiscal dos alvos, no período compreendido entre 2012 e 2021.
Conforme relatos policiais colados no despacho do ministro, Neves recebeu pelo menos três fazendas da Agropecuária Água Viva, no valor declarado de aproximadamente R$ 4 milhões. Os pagamentos teriam origem em uma dívida da empresa com o conselheiro, que seria quitada com uma área de 621 hectares. Waldir Neves foi sócio do grupo até 2009.
Ele só passou a declarar à Receita Federal que tinha créditos a receber da Água Viva em 2016. O primeiro imóvel repassado teria 455 hectares e valeria R$ 1,9 milhão, embora o valor que serviu de base para cálculo dos impostos sobre transmissão fosse muito superior – R$ 3,9 milhões.
Neves declarou que permutou a propriedade rural por um apartamento no Bairro Santa Fé, área nobre de Campo Grande, em 2017. Mas, segundo a PF, o imóvel já vinha sendo declarado em notas fiscais destinadas ao conselheiro desde 2013, “restando dúvidas quanto à data da aquisição do referido imóvel e se, de fato, fez parte de uma operação de permuta”, indicou relatório de investigação.
Em 2018, Waldir Neves declara nova permuta, desta vez do apartamento por uma casa no Residencial Damha, condomínio de luxo em Campo Grande. Ocorre que a casa também consta em notas fiscais eletrônicas emitidas para o conselheiro desde 2015, “anos antes de sua suposta aquisição, suscitando dúvidas quanto ao tempo e forma que ocorreu tal operação”, revela a polícia.
No mesmo ano de 2018, a Agropecuária Água Viva repassa outra fazenda a Waldir Neves, desta vez de 70 hectares, localizada em Bonito, cujo valor declarado foi de R$ 1,1 milhão.
Os agentes também identificaram outra operação imobiliária em 2019, quando a empresa transferiu uma área com os 103 hectares faltantes do suposto débito com o conselheiro. O valor declarado do imóvel foi de R$ 936 mil, ainda que a base para o cálculo de impostos tenha sido de R$ 1,2 milhão.
Para a Polícia Federal, o repasse de imóveis pela Água Viva ao conselheiro configura “situação extremamente suspeita”, já que Neves só passou a declarar o suposto débito da empresa com ele sete anos depois de sair do quadro de sócios.