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Por que muitos pais têm filhos favoritos

Por Redação

Em 7 de fevereiro de 2022

(Crédito:Pixabay)

Joanna soube que tinha um filho favorito assim que seu segundo filho nasceu.

Moradora de Kent, no Reino Unido, ela afirma que ama os dois filhos, mas o mais novo a “cativa” de uma forma que o primogênito não consegue fazer.

Quando o primeiro filho de Joanna nasceu, ele foi separado da mãe devido a um problema de saúde — e ela não pôde vê-lo por 24 horas.

Joanna acredita que a falta deste período valioso de vínculo foi o início de uma preferência duradoura pelo seu segundo filho, com quem ela conseguiu ficar junto logo após o nascimento.

“Para resumir nossos relacionamentos, eu preciso marcar hora para falar com meu mais velho”, conta Joanna (seu nome completo foi omitido para proteger os filhos).

“Com o mais novo, posso ligar às 2h30 da manhã, e ele percorreria quilômetros para me encontrar. Meu filho mais novo é a melhor pessoa do mundo. Ele é atencioso, generoso, gentil, amigo. É o tipo de pessoa que ajudaria qualquer um.”

Joanna lutou contra seus sentimentos por anos, mas agora diz que aceitou a situação. “Eu poderia escrever um livro sobre como amo mais um do que o outro”, afirma ela. “É difícil, mas não sinto mais culpa.”

Diferentemente do caso de Joanna, o favoritismo da maioria dos pais é sutil e ignorado.

Ter um filho favorito talvez seja o maior tabu da maternidade/paternidade, mas pesquisas mostram que a maioria dos pais realmente tem um filho favorito.

Com tantas evidências indicando que ser o filho menos favorecido pode moldar a personalidade e gerar intensas rivalidades entre irmãos, não é surpresa que os pais possam se preocupar e não deixar transparecer suas preferências.

Mas as pesquisas indicam que a maioria dos filhos não é capaz de dizer quem realmente é o preferido dos pais. A verdadeira questão então é como os pais gerenciam sua percepção de favoritismo em relação aos filhos.

Quem são os favoritos

“Nem todos os pais têm filhos favoritos — mas muitos, sim”, afirma Jessica Griffin, professora de psiquiatria e pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos.

“Dados sugerem que particularmente as mães demonstram favoritismo em relação aos filhos que possuem valores similares aos delas e se dedicam mais à família, em detrimento de qualidades como ser muito ambicioso ou focado na carreira”.

Independentemente do motivo, pesquisas indicam que muitos pais quase certamente têm seus favoritos, quer admitam ou não.

Em um estudo, até 74% das mães e 70% dos pais no Reino Unido demonstraram dar tratamento preferencial a um dos filhos.

Em outra pesquisa, apenas 10% admitiram ter um filho favorito, o que indica que, para a maioria das mães e pais, os sentimentos de favoritismo permanecem um segredo de família muito bem guardado.

Mas, na maioria dos casos, este tema não é discutido abertamente. Quando os pais admitem ter um filho preferido, pesquisas sugerem que a ordem de nascimento desempenha um papel importante em quem eles favorecem.

Segundo a mesma pesquisa do instituto britânico YouGov, os pais que admitem ter um filho favorito demonstraram uma preferência esmagadora pelo caçula da família, com 62% dos pais que têm dois filhos optando pelo mais novo.

Já 43% dos pais com três ou mais filhos preferem o caçula, enquanto um terço elege um dos filhos do meio e apenas 19% se voltam para o mais velho.

Vijayeta Sinh, psicóloga clínica do Hospital Monte Sinai em Nova York, nos Estados Unidos, afirma que o favoritismo dirigido ao filho mais novo muitas vezes tem relação com as aptidões sociais e emocionais associadas à ordem de nascimento.

À medida que os pais ganham mais prática na criação dos filhos, eles têm uma ideia melhor de como desejam moldar a infância deles e de que atributos são mais importantes para serem passados adiante.

“Os pais tendem a favorecer o filho que seja mais parecido com eles, que os fazem lembrar de si mesmos ou que represente o que eles consideram como uma criação de filhos bem-sucedida”, diz ela.

“Os filhos mais jovens têm maior probabilidade de ser criados por pais que, com o tempo e a experiência, são mais confiantes e experientes na criação de filhos.”

O favoritismo é ruim?

Embora os pais tenham frequentemente um filho favorito, muitos sofrem com a culpa. Eles sabem que demonstrar preferência trará impactos de longo prazo à autoestima dos filhos. Uma preocupação que tem fundamentos.

“Os filhos que crescem em famílias em que sentem que são tratados de forma injusta podem ter uma profunda falta de autoestima”, afirma Sinh.

“Podem sentir que não merecem ser amados de alguma forma ou não possuem as características necessárias para serem amados pelos outros. Se sentir a ovelha negra da família pode causar medos e inseguranças — as crianças podem se tornar autoprotetoras e tentar ser excessivamente gentis e agradáveis perante os outros.”

Mas, para a maioria dos pais, essas preocupações são desnecessárias.

Evidências sugerem que, a menos que o tratamento preferencial seja muito exagerado, a maioria das crianças não sofre impactos por não ser o filho favorito.

“Às vezes, os pais são descarados demais ao demonstrarem seu amor e afeição”, afirma Sinh. “Mas, quando os pais são conscientes, cuidadosos e fazem o melhor que puderem para garantir que qualquer sentimento de proximidade ou simpatia não fique claro e evidente, os filhos se sentem dignos do amor e apoio dos pais.”

A verdade é que, na maior parte dos casos, as crianças podem nem sequer saber que seus pais preferem um de seus irmãos.

Em um estudo, que envolveu pessoas que declararam que seus pais têm um filho favorito, quatro em cada cinco indicaram que seu irmão era favorecido em detrimento delas — uma estatística aparentemente improvável.

Outros estudos mostraram que os filhos erram ao identificar quem é o filho favorito em mais de 60% das vezes.

É claro que os pais podem estar fazendo um trabalho muito melhor que o esperado para disfarçar suas preferências. Ou, como Griffin sugere, nós simplesmente não sabemos identificar quem realmente é o filho favorito.

“Você pode achar que as crianças sabem instintivamente se os pais têm um filho favorito e quem ele é, mas os dados são surpreendentes”, diz ela.

“As crianças podem supor que o filho mais velho ou o caçula da família é o favorito, ou o filho mais bem-sucedido e que causa menos estresse aos pais. Mas, na verdade, os pais podem ter razões diferentes e variadas para o favoritismo — como favorecer o filho que tem mais dificuldades ou o mais parecido com eles.”

Griffin defende que é perfeitamente aceitável — e até esperado — que os pais tenham filhos favoritos, e que eles não devem se sentir culpados se descobrirem que se sentem mais próximos de um filho do que de outro.

Ela afirma que, embora as crianças que acreditam ser o filho menos favorecido costumem ter autoestima mais baixa e maiores taxas de depressão, elas normalmente não têm ideia de qual irmão é realmente o preferido dos pais.

E talvez, no fim das contas, saber quem realmente é o filho favorito não seja tão importante.

O amor não é menor

Griffin se deparou com o dilema do filho favorito na sua vida profissional e pessoal: seus três filhos sempre brincam sobre quem deve ser o “preferido” dela.

Ela recomenda aos pais ou filhos que acreditam que o favoritismo está afetando seu relacionamento ou saúde mental a procurar um pediatra ou profissional de saúde mental — mas ela acredita que a maioria dos desequilíbrios pode ser resolvida com técnicas simples de demonstração de cuidado e atenção.

Griffin afirma que, embora os pais possam ter dificuldade de admitir seu favoritismo, eles certamente não estão sozinhos ao se sentirem mais próximos de um filho do que dos outros. A maioria dos pais e mães tem favoritos — e não há nada de errado nisso.

“Haverá dias em que vamos preferir estar com um filho, e não com outro, por uma série de razões distintas”, explica.

“O importante é lembrar que ter um filho favorito não significa que você ama menos os demais.”

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