O deputado federal Loester Trutis (PSL-MS) foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República pelos crimes de comunicação falsa de crime, porte ilegal de arma de fogo e disparo de arma de fogo. Trutis é acusado pela PGR de ter forjado o próprio atentado à bala, em 16 de fevereiro de 2020, na BR-060, entre Campo Grande e Sidrolândia.
Se aceita a denúncia pelo Supremo Tribunal Federal (STF) Trutis deverá tornar-se réu pela prática destes crimes.
A investigação começou imediatamente após o atentado, após Trutis ir às redes para denunciar que o carro em que ele e sua equipe estavam, havia sido alvo de um atentado a tiros. Nenhum deles se feriu na ocasião.
Na ocasião, o próprio Trutis foi à Superintendência Regional da Polícia Federal, em Campo Grande, denunciar a suposta tentativa de homicídio.
A investigação, que começou para tentar identificar quem teria tentado matar o deputado que está em seu primeiro mandato, porém, converteu-se em uma investigação para investigar se Trutis teria forjado o próprio atentado, o que a PF veio a comprovar em novembro do mesmo ano, após desencadear uma operação em que foram alvos o deputado federal e seus assessores.
A denúncia encaminhada ao STF é assinada pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, conforme informou o portal G1.
“O que de fato ocorreu foi uma verdadeira simulação de tentativa de homicídio, na qual o parlamentar (A) e seu assessor (B), portando irregularmente arma de fogo de uso permitido, efetuaram disparos em via pública (estrada vicinal adjacente à Rodovia BR, 060) contra o veículo”, afirmou Jacques.
Medeiros ainda disse que, “ambos tiveram protagonismo na empreitada criminosa e concorreram igualmente para a prática dos delitos”.
Para Jacques, Trutis fez uso político do suposto atentado, sobretudo por fazer várias postagens relacionando o atentado que supostamente sofrera com a bandeira da flexibilização do uso de armas.
“Assim, considerando que o porte de arma é uma pauta política defendida intensamente pelo deputado Loester Trutis; o parlamentar, ao noticiar o episódio, atribui ao porte de arma a ausência de lesões e, até mesmo, o escape da “morte”; e, ainda, ele aduz ter sido “vítima’ em razão de embates políticos no Estado de representação, vislumbra-se a conexão dos fatos apurados com a atividade parlamentar”, escreveu.
Todas as vezes em que foi procurado pelo Correio do Estado, Trutis disse que o deputado disse que o inquérito tem motivação política.
“A investigação é cheia de erros grosseiros o que leva a acreditar que também há interesse em proteção do verdadeiro culpado”, alegou Trutis.
O que a PF alega:
– “Não se verificou a existência de qualquer veículo automotor que pudesse estar realizando o acompanhamento do deputado federal e seu assessor, muito embora diversas imagens de câmeras de segurança, durante todo o percurso realizado, tenham sido analisadas”;
– “O veículo descrito pelo deputado Loester como autor dos disparos, foi exaustivamente procurado e não foi localizado”;
– “Tanto o deputado federal quanto seu assessor, Ciro Fidelis, faltaram como a verdade durante os seus depoimentos. Deixaram de informar que saíram da rodovia BR 060 para duas estradas vicinais, onde inclusive chegaram a parar e desligar a ignição do veículo, tal como se pode verificar da análise dos dados do rastreador do veículo”;
– “Em uma dessas estradas vicinais onde se verificou que o veículo em que os citados estavam, parou e desligou a ignição. Foram encontradas 6 cápsulas/estojos de munição calibre 9mm, que foram provavelmente disparadas por uma pistola da marca Glock, além de um pequeno fragmento de vidro, que pode ser do carro”;
– “Conforme se observa do laudo pericial, bem com das declarações de Loester, seria extremamente improvável que o parlamentar, na posição em que se encontrava no interior do veículo, não teria sido atingido por um dos disparos efetuados”;
– “Não seria possível que um dos disparos que atingiram o veículo ocupado pelo Deputado pudesse ser realizado por alguém que estivesse embarcado em outro veículo agressor, ou seja, o atirador deveria necessariamente estar desembarcado”
– O relatório ainda relembra as três armas de fogo de uso restrito que foram apreendidas na residência do deputado federal, em novembro de 2020, sendo que todas elas estavam em nome de terceiros (duas pistolas no nome de Ciro Fidelis e um fuzil, no nome de Jovani Batista da Silva). Trutis chegou a ser preso, mas foi solto após habeas corpus.