
O governo federal e o Congresso estão debatendo possibilidades de mudança na forma como os juros do cartão de crédito são cobrados. Na esteira do assunto, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sugeriu medidas para desincentivar as compras parceladas sem juros no cartão de crédito.
Representantes do comércio de Mato Grosso do Sul temem impacto negativo, caso o parcelamento sem juros seja reduzido.
A modalidade de compra é amplamente utilizada no varejo em todo o País. Em contrapartida, é também uma das maiores responsáveis pela alta taxa de inadimplência que se acumula nos últimos anos. Segundo o Mapa da Inadimplência da Serasa Experian, em julho deste ano, a maior parte das dívidas no Estado estava concentrada em bancos e cartões, 31,98% do total.
Levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostra que a eliminação do parcelamento sem juros no cartão de crédito poderia reduzir pela metade o custo com o pagamento de juros nominais no País, dos atuais 12,42% ao mês para cerca de 6,6%.
A pesquisa vem no mesmo momento em que os juros do cartão de crédito estão em pauta em Brasília. A ideia é criar um teto para que as taxas do rotativo, que hoje passam de 400%, sejam controladas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que vai apresentar uma proposta para o problema em até 90 dias.
Na Câmara dos Deputados, a proposta em debate é de reduzir os juros do rotativo de 12% ao mês para 8%, o que, segundo a Febraban, tiraria de circulação 65 milhões de cartões de crédito, prejudicando a oferta do produto para a classe mais baixa.
A presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso do Sul (FCDL-MS), Inês Santiago, afirma que o entendimento por parte da federação é o de que devolver o problema para as “vítimas”, punindo o consumidor e o varejo, não é o caminho mais assertivo para a retomada da economia.
“O verdadeiro problema são os juros abusivos, e não o parcelamento sem juros, que por vezes é o único crédito disponível para as classes C e D, além dos pequenos e microempresários, que também lançam mão desse parcelamento para repor estoques”, analisa.
A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) saiu em defesa da autonomia dos empresários do comércio, apontando que o cartão de crédito é o principal meio de venda e uma ferramenta que facilita o consumo.
“A entidade preza pela liberdade das empresas em continuar oferecendo o parcelamento sem juros, pois a redução de parcelas vai impactar o desempenho do comércio e afetar o poder de compra dos consumidores, principalmente daqueles com menor poder aquisitivo”, destaca em nota enviada ao Correio do Estado.
“A possibilidade de ter um maior parcelamento sem juros favorece a compra de bens de maior valor agregado, com uma condição de pagamento favorável ao consumidor”, ressalta a nota da ACICG.
A presidente da FCDL-MS comenta sobre as consequências para o varejo, pontuando que os juros do rotativo no Brasil são extorsivos, chegando a mais de 430% ao ano.
“A solução apontada pelo Banco Central tem mais o viés de punir a ‘vítima’ dos juros altos praticados do que apontar os culpados. Sem dúvida que a falta de concorrência entre os bancos, aliada à ausência de uma regulamentação rigorosa e severa, nos leva a esse cenário negativo”, reforça Inês Santiago.
Fonte: Correio do Estado








