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Rio Paraguai: principal bacia do Pantanal registra níveis negativos e projeções indicam pior seca da história

Por Redação

Em 7 de setembro de 2024

Vista da seca no rio Paraguai – 08/06/2024 — Foto: Jorge Adorno/Reuters

O Rio Paraguai está secando. Dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) indicam que a principal bacia do Pantanal pode enfrentar a maior seca já registrada. Alguns pontos do curso d’água já atingiram marcas negativas históricas neste ano.

⚠️Ao longo de 2.695 mil quilômetros, dos quais 1.693 km ficam no território brasileiro existem 21 réguas que medem o nível do Rio Paraguai. Do total, 18 pontos de medição estão com níveis menores do que o esperado para este momento. Destes locais críticos, três réguas estão em patamares negativos. Os dados são do SGB.

🔎O Rio Paraguai passa também pela Bolívia, Paraguai e desagua na Argentina. É o principal rio do Pantanal, e tem registrado níveis baixíssimos desde o início de 2024 — em julho registrou o menor nível em quase 60 anos. O rio abrange 48% no estado do Mato Grosso e 52% do Mato Grosso do Sul e atravessa os biomas Cerrado, Pantanal e também o Chaco, considerado bioma paraguaio semelhante ao Pantanal.

Rio Paraguai enfrenta seca. — Foto: TV Morena/Arquivo

Rio Paraguai enfrenta seca. — Foto: TV Morena/Arquivo

Nesta sexta-feira (6) em Ladário (MS), a régua indicou que o nível do rio estava em -25 centímetros . O esperado para este momento do ano era de 3,53 metros. As réguas de Porto Esperança e no Forte Coimbra, em Corumbá, também estão em níveis negativos, com -93 cm e -150 cm, respectivamente.

Veja na tabela abaixo como estão e como deveriam estar os níveis em todas as estações ao longo do curso do Rio Paraguai:

Rio Paraguai: como estão e como deveriam estar os níveis de água

Local Nível atual Nível esperado
Barra do Burgres 26 cm 62 cm
Cáceres 37 cm 1,44 m
Porto Conceição 1,73 m 3,31 m
Bela Vista do Norte 3,02 m 0 m
Cuiabá 92 cm 1,03 m
Sto. Antônio do Leverger 2,22 m 3,08 m
Barão de Melgaço 1,68 m 2,28 m
Acima do Córrego Grande 23 cm 72 cm
São Jerônimo 1,99 m 0 m
São José do Piquiri 1,82 m 2,07 m
Pousa Taimã 2,07 m 2,76 m
Porto São Francisco 3,95 m 5,93 m
Ladário -25 cm 3,53 m
Coxim 3,67 m 3,05 m
Estrada MT-378 87 cm 0 m
Miranda 1,05 m 1,66 m
Palmeiras 1,26 m 1,46 m
Aquidauana 1,54 m 2,48 m
Porto Esperança – 93 cm 0 m
Forte Coimbra -150 cm 2,97 m
Porto Murtinho 96 cm 5 m

Prognósticos indicam pior seca da história

Os índices negativos não indicam que o rio está completamente seco, mas sim abaixo do “marco zero” das réguas de medição. O coordenador nacional do Sistema de Alertas Hidrológicos do SGB, Artur Matos, explica que esses marcos não significam o leito do rio. Diante disso, número negativos também são esperados na série de dados.

“O zero da régua não é o fundo do rio. Quando a régua foi instalada, lá em 1900 por exemplo como a de Ladário, o “zero” da régua foi determinado. Não se mudou a régua para se ter a mesma referência. Podemos comparar a partir da mesma referência”, contextualizou o especialista.

Rio Paraguai pode enfrentar seca histórica, no Pantanal

Artur lembra que as piores secas no Pantanal foram em 1964 e 2021, quando o nível do rio atingiu -0,61 e -0,60 metros, respectivamente. O ano de 2020 também ficou marcado como ano recorde de incêndios no bioma quando o fogo consumiu cerca de 4 milhões de hectares — o equivalente a cerca de 26% do Pantanal.

“Com o nível do rio diminuindo, vamos a chegar a mesma dimensão ou até pior do que de 1964 e 2021. A previsão para Ladário é chegar próximo ao -60 cm ou menos ainda. A projeção é estimada a partir do que está acontecendo, com base no histórico e dados climáticos”, detalha o pesquisador do SGB.

As previsões do SGB indicam cenários críticos para as regiões de Cáceres, Ladário e Porto Murtinho. Nas três cidades, as projeções indicam níveis de seca históricos ou semelhantes aos piores já registrados pelo sistema.

“Neste ano, o nível está em -25, descendo ainda mais. Em alguns pontos descem 15 centímetros por dia. Este ano, podemos dizer, que é a seca de mesma dimensão de 2021 e 1964. A situação pode se tornar pior do que estas duas vezes. Se não tiver chuvas nos próximos dias, podemos caminhar para um cenário alarmante”, pontua.

Estiagem compromete existência do Pantanal

A maior planície alagável de água doce do mundo. Abrigo de animais que dependem do ecossistema úmido para sobrevivência. Bioma único em todo o mundo. O Pantanal é o que é pela água. O professor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal Carlos Padovani explica que a seca tem feito as principais características do território pantaneiro serem relativizadas.

Animais no Pantanal de M — Foto: Reprodução/TV Globo

Animais no Pantanal — Foto: Reprodução/TV Globo

“O histórico de estiagem é enorme, não há um histórico de renovação. Vemos o efeito acumulativo, de catástrofes, não temos uma visão mais ampla, um cenário que indique a capacidade de resiliência do Pantanal. Isso tudo tem abalado a principal característica do bioma: a resiliência. Isso ocorre por causa da questão das queimadas, uso desenfreado de agrotóxicos e outros químicos para matar vegetação. É uma junção de catástrofes que caminham para perda do Pantanal. O Pantanal pode perder bastante sua biodiversidade, sua abundância. O ecossistema está extremamente fragilizado”, afirma o pesquisador.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou na quarta-feira (4) que o Brasil pode perder o Pantanal por completo, até o fim deste século, se o mundo não for capaz de reverter o cenário de aquecimento global.

Marina participava de uma sessão da Comissão de Meio Ambiente do Senado para falar sobre as queimadas e a estiagem prolongada que atinge a maior parte do país – com prejuízo maior ao Pantanal e à Amazônia.

O fogo consome o Pantanal há mais de três meses. Mais 2,6 milhões de hectares foram destruídos pelas chamas, o que deixa um rastro de devastação ambiental e morte de animais. Para se ter uma dimensão, a área completamente destruída representa quase 18% de todo o território pantaneiro no Brasil.

Padovani é categórico ao dizer que não há uma expectativa próxima de chuva. “Se chover, vai ser abaixo da média. Os rios vão acabar drenando o Pantanal, o principal desgaste da planície. As áreas mais baixas ainda tinham pouca água, mas com a continuidade do período seco, estas áreas estão mais secas”.

Com mais seca, mais fogo. Padovani explica que as chamas são suscetíveis em locais mais expostos e mais secos. “Vão ter mais secas e nova frente de risco para fogo. Estes trechos serão favoráveis à queimadas”.

“Para fauna terrestre, os riscos são as queimadas. A drenagem dos rios causa uma perda para os anfíbios e organismos aquáticos, que vão estar mais expostos, sem capacidade de sobreviver. Na água é complicado, os peixes vivem ao longo do rio, vão descendo e vão ficar na planície sem abrigo”.

Navegabilidade e abastecimento de água comprometidos

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) identificou 18 pontos críticos e 15 pontos potencialmente críticos no Rio Paraguai. Os transportes de ferro, soja e outros itens de exportação por meio da hidrovia estão comprometidos. Setores da pesca e turismo também sofrem com a seca.

Barco de pescadores à margem do Rio Paraguai, em Corumbá — Foto: Fabiano do Valle

Barco de pescadores à margem do Rio Paraguai, em Corumbá — Foto: Fabiano do Valle

A Marinha do Brasil informou que a navegação ocorre normalmente, mas com a adoção de medidas por parte dos navegantes. Os cuidados são os seguintes:

  • Redução da carga embarcada;
  • Redução do número de barcaças dos comboios;
  • Uso de cartas náuticas atualizadas.

Em 13 de maio deste ano, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou “situação crítica de escassez” na bacia do rio Paraguai. A decisão foi embasada diante do cenário crítico e da queda drástica do nível d’água do rio, por toda extensão.

O comunicado da ANA apontou que “o nível d’água do rio Paraguai em abril de deste ano atingiu o pior valor histórico observado em algumas estações de monitoramento ao longo de sua calha principal, sendo que o cenário de escassez ocorre desde o início deste ano na Região Hidrográfica do Paraguai”.

Além das perdas para o meio ambiente, a escassez do rio já afeta outros setores da sociedade. A ANA elencou os problemas ocasionados com o baixo nível:

  • Impactos aos usos da água, sobretudo em captações para abastecimento de água – especialmente em Cuiabá (MT) e Corumbá (MS);
  • Impedimento na navegação;
  • Baixos aproveitamentos hidrelétricos a fio d’água (neles, as vazões que chegam são praticamente iguais às que saem dos reservatórios);
  • Complicação para atividades de pesca, turismo e lazer.

A resolução da ANA sobre a escassez no rio Paraguai tem vigência até 31 de outubro, quando está previsto o fim do período seco na bacia, mas a medida pode ser prorrogada.

Fonte: g1MS/ML

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