A nova temporada do fogo no Pantanal, que ainda em junho já demonstra potencial mais devastador do que em 2020, deixa no ar, além da fumaça e fuligem, uma questão: por que o bioma voltou a ser devastado pelas chamas?
Para o Instituto SOS Pantanal, o ano de 2024 é o retrato da soma de falta de prevenção, seca muito extrema e o fator homem.
“O fogo de 2020 foi devastador pelos mesmos motivos desse ano. Falta de prevenção, seca extrema e o homem. Mais de 95% dos incêndios são causados pelo homem. Por enquanto não se tem certeza de quem começou o fogo, são vários focos de incêndio. Mas o poder público precisa investigar fortemente onde começou e punir quem for culpado. A investigação precisa ocorrer para saber a origem desses incêndios, afirma o biólogo Gustavo Figueiroa.
Ainda no começo do mês, a SOS Pantanal cruzou dados sobre o bioma para reforçar o alerta para o risco de nova tragédia com queimadas.
Presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Ângelo Rabelo destaca que o Pantanal tem cerca de 300 mil hectares abandonados, áreas compradas para compensação de reserva ambiental ou em litígio entre herdeiros.
“Por isso, não tem ninguém lá para alertar quando o fogo chega ou alguma brigada nesses locais para evitar que o fogo se propague”, afirma Rabelo, sobre a situação das fazendas que denomina como “desmobilizadas”. Ele ainda afirma não acreditar que sejam fazendeiros colocando o fogo.
Em novembro do ano passado, incêndio em fazenda inativa se espalhou por outras 69 propriedades, dando origem à multa de R$ 19,7 milhões. A defesa da proprietária, que mora no Rio de Janeiro, alegou que a área não tem nenhuma atividade econômica que justificasse uso do fogo, tanto que, diante da ausência de estradas, a equipe da PMA (Polícia Militar Ambiental) não chegou ao local de ignição (onde o fogo começou), apontado pelo satélite.
Segundo o Corpo de Bombeiros, é difícil precisar a origem do fogo, mas a maioria tem origem antropológica. No popular, causado pelo homem. Seja provocado (queima de área) ou acidental (cigarro e fogueira) perto de rio. Os bombeiros repassam as informações para o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS) e PMA (Polícia Militar Ambiental) para responsabilizaçao dos proprietários.
A reportagem também pediu posicionamento da Semadesc (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) sobre a atual situação do Pantanal, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.
Nesta segunda-feira (dia 24), o governo de Mato Grosso do Sul publicou decreto que declara situação de emergência em municípios que enfrentam incêndios florestais no Estado, como é o caso de Corumbá e Ladário.
O fogo que avança no Pantanal já destruiu área equivalente a cinco cidades de Campo Grande, conforme boletim emitido pelo Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da UFRJ (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Desde o começo do ano até 22 de junho, foram queimados 541.575 hectares.
A volta da tragédia – Em 2020, o ecossistema foi devastado por incêndios, numa emergência ambiental resultante da falta de chuva e queima de área para pecuária.
Moradores ribeirinhos enfrentaram fogo, chuva de cinzas, enquanto o sofrimento de onças, macacos, jacarés, tamanduás foi eternizado em registros fotográficos que correram o mundo.
Naquele ano, um fenômeno meteorológico natural similar ao da crise hídrica em São Paulo, que ocorreu entre 2014 e 2016, resultou na maior seca em cindo décadas no Pantanal.
O bioma é casa de mais de 3.500 espécies de plantas, 300 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 177 espécies de répteis, 600 espécies de pássaros e mais de 150 espécies de mamíferos.
Fonte: Campo Grande News