Historicamente as ariranhas (Pteronura brasiliensis) ocorriam em todos os biomas brasileiros, exceto na Caatinga. No entanto, a espécie passou a ser extinta na Mata Atlântica: nas bacias do Rio Doce, Itabapoana e outros rios do sudeste e nordeste do Brasil, a espécie não é vista há quase 100 anos. Na bacia do Paraná ela persistiu até a década de 1990.
De acordo com pesquisas, a perda de habitat natural e a caça (para venda da pele do animal, usada na produção de casacos comercializados no exterior) provocaram o desaparecimento das ariranhas no bioma.
O pesquisador Guilherme Garbino ‘voltou no tempo’ para coletar dados e fazer um levantamento histórico da espécie – considerada rara na natureza. Além dele, outros oito pesquisadores da Fiocruz, USP (Universidade de São Paulo) e UFV (Universidade Federal de Viçosa) contribuíram com o estudo.
“Nós tínhamos um crânio coletado pelo engenheiro Cornélio Schmidt, no Rio Tietê, em São Paulo (SP), além de uma pele encontrada em Viçosa, Minas Gerais (MG), coletada pelo pesquisador de mamíferos brasileiros, João Moojen. Até onde eu sei são os únicos espécimes de ariranha da Mata Atlântica de coleções brasileiras”, conta ele.
Além dos materiais foi preciso analisar também os registros históricos do mamífero. “Primeiro descobrimos que elas não são vistas nas bacias do Rio Doce e São Francisco há muito tempo (desde os anos 1940), e que na bacia do rio Paraná elas demoraram mais para serem extintas, com registros até a década de 1990”, conta o especialista.
A partir disso, foi desenvolvido um modelo ecológico para estimar onde ainda seria viável reintroduzir ariranhas na Mata Atlântica. Para fazer essa análise foi considerada a paisagem fragmentada atual e as barragens do bioma.
“Os melhores lugares para a reintrodução da espécie seriam nas matas do sul da Bahia, também na região do Rio Doce na divisa entre os estados de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES) principalmente na região do Parque do Iguaçu no Paraná (PR)”, destaca.
Os dados podem ajudar a guiar futuros esforços de reintrodução da espécie na Mata Atlântica. “Nós conseguimos sugerir regiões de Mata Atlântica que seriam mais adequados para a espécie recolonizar, e também sugerir áreas em que elas nunca ocorreram – para não acontecer por exemplo de soltarem ariranhas num rio onde ela não ocorria e correr risco de causar mais desequilíbrio ainda”, ressalta o especialista.