Para algumas pessoas, 20 anos podem parecer pouco tempo. Mas, para quem começou em um ponto que parecia deserto e mal tinha porta, duas décadas valem por cinquenta de histórias. É mais ou menos assim para os donos da Parada Jatobá, em Jaraguari, às margens da BR-163. O lugar acabou impulsionando outros negócios na região e já fez famílias saírem de Campo Grande nos fins de semana só para um lanche ou um almoço no fogão à lenha, com sabor de comida caseira.
Hoje, depois de todo esse tempo, o espaço foi colocado à venda por R$ 7 milhões. Tudo porque os proprietários querem, enfim, ter tempo para curtir a aposentadoria em paz.
Osmar Pereira Dias, hoje com 64 anos, foi quem enxergou no trecho vazio da rodovia uma oportunidade. “Eu passava sempre aqui porque tenho propriedade rural em Bandeirantes. E não tinha o lugar de tomar uma água, comprar um pão. Olhei e vi que o lugar era bom”, lembra.
A decisão de abrir o negócio veio da necessidade e do espírito empreendedor. “Um dia eu parei o carro, entrei pra olhar o terreno e decidi comprar. Coloquei 600 caminhões de aterro aqui pra erguer tudo. O povo dizia que eu era louco de abrir panificadora e restaurante nesse lugar porque na época não tinha nada em volta. Mas eu acreditava que ia dar certo”, relata
E deu. A Parada Jatobá atraiu novos empreendimentos para a região e virou ponto de encontro de moradores de Jaraguari e cidades vizinhas. Até gente de Campo Grande pegava estrada só para um lanche ou almoço.
Osmar já vinha de experiências no setor. Foi sócio da Cantina Mato Grosso por anos em Campo Grande. Mas foi na beira da BR que ele e a esposa, Sandra Luísa de Rezende, criaram um espaço que virou referência.
“Tivemos movimento forte, música ao vivo, muita gente parando. Já cheguei a trabalhar das 5 da manhã às 11 da noite. Teve época que nem porta tinha, ficava tudo aberto”, conta.
Sandra guarda só boas memórias do negócio de família. “Aqui não teve coisa ruim, só coisa boa. Se eu fosse mais nova, não pensaria em vender. Mas estou há quase 21 anos aqui. Agora quero descansar. Tenho 60 anos e penso vou ter só mais uns 10 com saúde. É hora de aproveitar”, afirma.
Apesar do apego, o casal decidiu que é hora de encerrar o ciclo. “Você não pode se agarrar demais às coisas materiais. Eu adoro aqui é uma passagem”, reflete Osmar.
Problemas de saúde também pesaram na decisão. “Fiz 54 tipos de exames e deu problema em oito. Trabalhei muito, fumei 40 anos, toquei a noite. Chega uma hora que o corpo cobra”, admite.
O plano agora é vender o local, viajar e aproveitar o descanso merecido. “Quero ir a Lisboa, minha filha está lá há 23 anos. Tenho neto e bisneto que nem conheço. Quero passar uns dias com eles e descansar”, explica.
Leandro Feitosa Ferreira, corretor responsável pela venda, explica que são 10 mil metros quadrados que reúnem o prédio da panificadora e restaurante, uma casa, duas kitnets e até a estrutura de um hotel desativado, com salão desativado o térreo, onde já funcionou uma churrascaria. Quem comprar leva tudo de uma vez, num pacote que mistura negócios e muitas memórias.
Enquanto não aparece comprador, a Parada Jatobá segue funcionando, servindo café, almoço, cerveja e lembranças de duas décadas de história. Osmar sabe que a despedida aperta, mas acredita que o próximo dono terá em mãos um negócio para continuar fazendo parte da história de Jaraguari e da rodovia.
“Isso aqui ajudou a população também. De manhã, o povo vinha buscar pão e o que precisasse. Nunca deixei cliente sem resposta. Agora é hora de passar adiante. Que venha alguém com energia nova pra tocar o negócio”, finaliza.
CGN/ML
