Pesquisa divulgada pelo MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil) mostra que o Pantanal é o bioma brasileiro que mais perdeu superfície alagada desde 1985. De lá para cá, houve diminuição de 68% da área coberta por água e Mato Grosso do Sul é o estado mais afetado pela seca.
Se em 1985 o Estado tinha mais de 1,3 milhão de hectares cobertos por água, em 2020 eram apenas pouco mais de 589 mil hectares. Essa redução se deu basicamente no Pantanal, mas toda a bacia do Paraguai perdeu superfície de água.
Além de mudar a paisagem pantaneira, a diminuição de áreas alagadas impacta na natureza e até na reprodução de espécies aquáticas, explica o biólogo José Milton Longo.
“Não vão se formar lagoas e baías para a reprodução de determinadas espécies de peixes. Isso vai causar impacto negativo quanto à cobertura vegetal e reprodução das espécies”, explica o especialista.
Causas
A causa dessa diminuição é a seca histórica que vem se agravando nos últimos anos. Mas o que está por trás dessa seca é que levanta discussões. Especialistas apontam que tudo é consequência de desajustes climáticos, mas que foi agravado no Pantanal por conta do desmatamento e uso excessivo de fogo para queimar pastagens.
Além disso, os pesquisadores responsáveis pelo MapBiomas afirmam que a perda da superfície de água natural por causa da água armazenada em estruturas construídas pelo homem tem consequências preocupantes na alteração do regime hídrico, afetando a biodiversidade e a dinâmica dos rios. O Pantanal é um desses exemplos, com a construção de hidrelétricas nos rios que formam o bioma. Porém, há dezenas de outras barragens projetadas para esta região, com pouca contribuição para o sistema elétrico e um grande potencial de impactos.
Há esperança de reversão?
Os números revelados pela pesquisa servem para levantar debate sobre conscientização e quais as ações necessárias para evitar uma tragédia ainda maior no futuro. “O primeiro passo é ter um diagnóstico do problema na escala de bacias hidrográficas para identificar quais fatores estão comprometendo a disponibilidade de recursos hídricos. Segundo, é possível desenvolver um plano de ação multissetorial para mitigar e até mesmo reverter o problema. Mas, não podemos nos esquecer que boa parte da solução vai depender em reduzir as emissões de gases estufa para controlar o aumento da temperatura global”, explica o coordenador do MapBiomas Água, Carlos Souza Jr.
O biólogo José Milton complementa, explicando que somente o restabelecimento das condições normais do clima é que podem salvar o bioma. “Teria que chover muito e regularmente nas cabeceiras dos rios que drenam para o Pantanal, principalmente na principal artéria do Pantanal, que é o Rio Paraguai”.
Falando em Rio Paraguai…
O maior rio do Pantanal, o Paraguai é o ‘termômetro’ da seca no bioma. Este ano, o gigante atingiu o 3º pior índice da história, marcando 60 centímetros abaixo de zero.
Apesar do bom volume de chuvas em outubro e novembro, o Paraguai continua com índices negativos e permanece em alerta para estiagem, marcando 20 centímetros abaixo de zero. Para se ter uma ideia, o Rio Paraguai entra em alerta de estiagem quando atinge a marca de 52 cm (positivo), ou seja, ainda precisa subir 72 cm para entrar no nível considerado normal.
Boletim do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) prevê chuvas abaixo da média ao longo do verão para grande parte do Pantanal, Cerrado e Caatinga — justamente as regiões já afetadas pela estiagem neste ano. Esta diminuição das chuvas pode ter como explicação a volta do fenômeno La Niña.
Segundo a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), dos EUA, após um período de relativo equilíbrio atmosférico desde o início do ano, o La Niña se intensificará nas próximas semanas e não deve perder força até o outono de 2022, diminuindo as chuvas na América do Sul justamente no período chuvoso, responsável pela recarga de rios e aquíferos.
Onde está a água no Brasil
O Brasil possui 12% das reservas de água doce do planeta, constituindo 53% dos recursos hídricos da América do Sul. Existem 83 rios fronteiriços e transfronteiriços, assim como bacias hidrográficas e aquíferos. As bacias hidrográficas transfronteiriças ocupam 60% do território brasileiro.
O bioma com a maior área coberta por água no Brasil é a Amazônia, com mais de 10,6 milhões de hectares de área média, seguido pela Mata Atlântica (mais de 2,1 milhões de hectares) e pelos Pampas (1,8 milhão de hectares). O Pantanal ocupa a quinta posição, com pouco mais de 1 milhão de hectares de área média, atrás do Cerrado (1,4 milhão de hectares).