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“Não estamos esperando uma supersafra de soja, porém imaginamos que seja melhor”

Por Redação

Em 17 de setembro de 2022

André Figueiredo Dobashi – MARCELO VICTOR

Em entrevista ao Correio do Estado, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Figueiredo Dobashi, fala sobre os resultados conquistados na 2ª safra de milho 2021/2022 e perspectivas em relação a soja 2022/2023.

Após passar por uma quebra nas duas últimas colheitas, tanto de milho, no ciclo 2020/2021, quanto de soja, 2021/2022, o agricultor de Mato Grosso do Sul colhe bons resultados na safrinha finalizada agora.

“Ela veio com uma produtividade mais alta, dada o clima e tudo mais, então a gente passa dos 10,5 milhões de toneladas de milho. Isso é muito bom, uma vez que a produtividade por área aumentou em função do desenvolvimento da safra que foi boa”, avalia.

O vazio sanitário da soja, período em que é proibido o plantio da oleaginosa no Estado, a fim de evitar doenças, terminou na última quinta-feira (15). A partir de agora, o sojicultor já pode iniciar a semeadura em MS.

Para Dobashi, ainda é cedo para falar em supersafra de soja, principalmente por causa da previsão da meteorologia para intempéries climáticas.

No entanto, a estimativa é de uma colheita 41,72%  acima do último ciclo. Na safra 2021/2022, foram colhidas 8,6 milhões de toneladas de soja e neste ano a estimativa aponta para 12,3 milhões de toneladas.

André Figueiredo Dobashi

Produtor rural no município de Antônio João, onde se dedica à produção de soja, milho, sorgo, aveia e pastagens.

Também é consultor técnico da empresa AgroExata em Mato Grosso do Sul, na área de implantação e condução de sistemas integrados de lavoura e pecuária.

Engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e especialista em Engorda Intensiva de Bovinos de Corte (Califórnia/EUA) e em Nutrição de Plantas e Manejo de Pastagens, também pela Esalq/USP.

Confira a entrevista:

Para a 2ª safra de milho temos uma projeção local de 9,3 milhões de toneladas colhidas, e a do IBGE fala em 11,9 milhões de toneladas. Como foi o desenvolvimento dessa safra de milho? Tivemos números além do esperado?

Nós temos uma projeção de 1,9 milhão de hectares que ainda vai ser revisto. A gente acha que passa um pouquinho dos 2 milhões de hectares.

Mas isso é uma coisa que a gente ainda está tabulando esse dado com a empresa que nos auxilia para essa tomada de decisão. A gente imaginava que a média de produção seria abaixo de 80 sacas por hectare.

Porém, ela veio com uma produtividade mais alta, dada o clima e tudo mais, então a gente passa dos 10 milhões de toneladas de milho. Isso é muito bom, uma vez que a produtividade por área aumentou em função do desenvolvimento da safra que foi boa.

A nossa perspectiva, projeção local, era de 9,3 milhões de toneladas, porque era isso mais ou menos 78 sacas por hectare de média que a gente previa.

Porque era um ano difícil, que começamos semeando de uma maneira difícil, o produtor enfrentou replantios, depois a gente tinha uma perspectiva de geada que acabou sendo bem pontual mais na fronteira.

E depois vieram umas boas chuvas, e a gente acabou colhendo mais do que essas 78 sc/ha. Foi para noventa e poucas sacas. O que vai levar a produção para um patamar bem maior do que esses 9,3 milhões. A gente passa de 10 milhões de toneladas.

Como funciona a revisão dos dados ao término de uma safra?

Existe uma revisão diária que a gente deve publicar caso a empresa que nos assessora via satélite consolide áreas que não tinham aparecido até então no nosso uso e ocupação.

Como funciona o uso de ocupação do solo onde a gente determina as áreas de soja e milho no Estado? Primeiramente, a empresa vem com um tratamento de imagem e nos manda essa figura da área cultivada no Estado inteiro.

Depois a gente pega nossos 10 polos de monitoramento e saímos a campo com todos os colaboradores, os técnicos da Aprosoja, marcando os pontos de onde é milho, sorgo, milheto, pastagem, floresta e a gente gera uma infinidade de pontos.

Mais de três mil pontos que a gente manda de volta para empresa de satélite, e ela vai confirmar aqueles pontos com a imagem que ela tinha lá para falar se estava correta ou não. E ela faz um novo tratamento, manda de novo e a gente sai a campo rever alguns pontos.

O sorgo, o milheto, a própria cana-de-açúcar, alguns tipos de pastagens, quando estão novinhas, elas são confundidas com o milho. E isso precisa ser revisto três ou quatro vezes ao longo da safra. Quando termina a área de safra de milho que a gente realmente tem a consolidação da produção.

Por exemplo, saiu realmente milho daquela área ali e foi consolidado como produção, como produtividade, a gente revê todas essas áreas e passa o número correto para o conhecimento de toda a sociedade.

Isso ainda vai acontecer, a gente espera que aconteça ainda no mês de setembro. Até esperamos um incremento nesses dois milhões de hectares, e claro que com o incremento vem uma nova perspectiva de produção de grãos, mas não deve ficar muito longe do que a gente tem aí divulgado em torno dos 10 ou 10,5 milhões de toneladas.

O aumento de colheita é suficiente para abastecer o consumo e a agroindústria do próprio Estado?

A gente exporta bastante não só para estados vizinhos como também para fora do País. Temos uma produção além do que o Estado consegue consumir, indicando então uma necessidade de industrialização maior,  e isso a gente percebe que Mato Grosso do Sul está indo para esse caminho.

Haja vista a chegada das empresas de etanol de milho de DDG (sigla em inglês para grãos secos e destilados) que estão vindo com uma fome bastante grande pelo nosso milho.

Para a safra de soja 2022/2023 podemos esperar uma supersafra novamente, caso não enfrentemos novamente intempéries climáticas como na última safra? Quais as perspectivas?

Não estamos esperando uma supersafra, porém imaginamos que seja uma safra melhor que a passada, porque a safra passada foi muito ruim. Não é hora de falar de supersafra, até porque temos uma previsão de La Niña acentuada para essa safra 2022/2023.

E normalmente o que determina  supersafras e safras ruins são intempéries climáticas. Então essa perspectiva de uma supersafra não está correta, ela seria prevista se a gente não tivesse nenhuma perspectiva de intempéries. Estamos rezando para que a meteorologia esteja errada.

Este ano tem sido um pouco diferente na comparação com 2021, do ponto de vista climático. A partir daí é possível vislumbrar um novo patamar de produtividade para a soja sem necessariamente ter de aumentar tanto a área plantada?

Este ano não está tão diferente do ano passado. A previsão é de que teremos a predominância de La Niña até outubro, novembro, o que foi  característico da safra passada também.

A intensidade é que vai ser um pouco menor, a gente ainda não sabe o quanto, mas esperamos que seja bem menos.  Um novo patamar de produtividade a gente tem condição de perseguir, primeiro  porque o produtor sul-mato-grossense é ávido por tecnologia, faz seu uso e está muito bem preparado.

Tem condições de atingir grandes patamares de produtividade, se o clima deixar, e a área plantada aumenta organicamente muito pouco. E é muito mais nítido o incremento de produção que o avanço em área. Então você tem uma correlação muito mais favorável em função da tecnologia que o produtor adota.

O custo da produção de soja aumentou 42% em um ano, quais os principais motivos?

Os custos aumentaram principalmente em função do sobrepreço dos insumos. A gente tem um custo de fertilizantes muito maior em função deles serem importados da Rússia.

E todo esse ambiente de guerra e de pandemia que a gente passou por dois anos faz com que a gente tenha um problema de abastecimento e de sobrepreço para esse fertilizante chegar.

A gente não está desabastecido, Mato Grosso do Sul está com os estoques de fertilizantes em dia, porém, há um custo maior. Nós tivemos uma importação maior de fertilizantes do Canadá a um preço maior também, mas isso garantiu que o produtor estivesse abastecido, infelizmente por patamares de custos mais altos.

E todos os insumos de uma maneira geral ficaram mais caros. O fertilizante puxa a fila como principal ator dos preços mais altos, mas defensivos, sementes, óleo diesel, todos esses ativos de produção ficaram mais altos.

Ainda existe uma forte pressão do diesel sobre os custos de frete no Brasil. Essa alta é repassada no preço de quase todos os produtos transportados pelas nossas rodovias. Hoje, a maioria da produção de MS é transportada dessa forma. Caso o diesel se mantenha em alta, quais efeitos podemos ter na próxima safra?

Sim, o óleo diesel é uma grande preocupação para nós. A gente não tem uma perspectiva do óleo diesel baixar, infelizmente estamos experimentando valores de diesel mais alto, e com isso o escoamento da safra fica comprometido.

E a safra fica comprometida do ponto de vista de custo e fica mais cara também, porque o óleo diesel acompanha esses valores. A gente não consegue reverter esse cenário.

Na mesma linha do transporte da produção, queria saber o que o senhor acha do plano logístico apresentado pelo governo do Estado para diversificar os modais de escoamento? Qual papel a Aprosoja-MS desempenhou nesse projeto?

A Aprosoja-MS trabalha muito em contato com o governo do Estado e governo federal, porque a gente entende que um bom debate com o governo é o que vai trazer o alinhamento entre a produção e o Estado.

Sempre defendemos uma diversificação de modal de escoamento, a gente sabe que existe uma importância muito grande em ferrovias, que precisamos melhorar esse modal. Uma estruturação diferenciada nas rotas das próprias rodovias.

E a gente acha que a diversificação é a melhor forma de a gente reduzir custo de logística. O nosso papel foi  de total empenho para que ocorra realmente esse plano logístico de diversificação dos modais de escoamento.

Há pouco menos de uma década, dizia-se que MS teria 10 milhões de hectares de áreas degradadas. A maior parte desta área teria se formado pelo antigo modelo de pecuária extensiva. Deste total, que porcentual poderia ser reaproveitado para a soja e o milho?

Não vamos falar em áreas degradadas mais. Esse termo praticamente não existe em Mato Grosso do Sul.

Quando a gente fala das áreas de pastagem, são pastagens de baixa produção e que podem, sim, acredito que quase que a totalidade, ser reaproveitadas com soja e milho desde que exista uma integração entre as culturas.

É muito válido ressaltar que essas culturas vão integrar com a pecuária de baixa produção, transformando a baixa em uma alta produtividade e que depende bastante de tecnologia como irrigação, conectividade, sensoriamento remoto, para que o produtor tenha mais ferramentas de segurança na produção.

Estamos falando de tecnologias que visam diversificar o portfólio de culturas incluindo soja, milho, arroz, sorgo, outras culturas como as de inverno em áreas mais frias, as que aceitam uma estiagem mais longa, como grão-de-bico, gergelim e lentilha.

Enfim, existe uma infinidade de culturas que podem ser empregadas de maneira integrada com as pastagens, mas  o uso de tecnologia é primordial e pensar em rotação de cultura também para que se tenha um aproveitamento melhor das áreas.

Existe uma forte demanda por milho e soja no Estado para os próximos anos e o mercado exterior deve seguir como grande comprador. Queria que você comentasse sobre esse novo perfil comprador. Como ele agrega à produção rural e as perspectivas de a produção acompanhar essa demanda mais forte por grãos?

O que acontece é que há a demanda por grãos no Estado, no Brasil e no mundo, em função de uma população crescente e que precisa comer, e a gente sabe que o Brasil é um dos principais atores para que essa produção seja alcançada e de maneira sustentável, que é o que eu entendo que é o novo comprador.

Então o nosso novo comprador quer grãos de qualidade, mas que venha de uma origem sustentável, origem não poluente, e de um mercado que é consciente em serviços ambientalmente correto, socialmente justos. E com uma governança ligada ao desenvolvimento social e ambiental.

Nesse ponto,  Mato Grosso do Sul está completamente alinhado com essa demanda. Eu diria que é o estado do Brasil que mais tem condições de atender essa demanda.

Nós temos aí uma promessa que vai ser cumprida, antes do tempo, que é de colocar o Estado a carbono neutro até 2030. E se depender da produção agropecuária sul-mato-grossense, esse prazo vai ser cumprido antes do tempo. Nós temos um produtor rural superantenado em sustentabilidade.

Acredito que um comprador, de qualquer lugar do mundo, que venha para MS andar nas nossas lavouras, pastagens, todo o nosso sistema produtivo tenha mais vontade de comprar nossos produtos do que em qualquer outro lugar do mundo.

Mato Grosso do Sul com certeza enche os olhos de qualquer comprador. E agora com essa industrialização que temos experimentado e o processamento dos nossos produtos sendo feito de maneira mais intensiva, com certeza, a gente gera uma competitividade muito maior para o Estado e faz com que o produtor seja melhor remunerado.

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