
Campo Grande chega aos 126 anos carregando não apenas a história oficial, mas também um acervo de mitos, lendas e curiosidades que revelam o lado misterioso da capital sul-mato-grossense. Essas narrativas, transmitidas de geração em geração, ajudam a compor a identidade cultural da cidade. Em comemoração ao aniversário de Campo Grande, vamos relembrar alguns dos mitos mais conhecidos da Capital.
A Praça Ary Coelho, no coração da cidade, já foi o primeiro cemitério de Campo Grande, desativado em 1914, no início do século 20 e, em seguida, transferido para onde hoje é o Cemitério Santo Antônio. O espaço ganhou o nome do prefeito Ary Coelho, assassinado em Cuiabá em 1952. O detalhe curioso é que sua morte aconteceu em 26 de agosto, mesma data em que a cidade comemora aniversário.
O pontilhão do Itamaracá também é cenário de histórias sobrenaturais. Moradores relatam vultos que atravessam a pista durante a noite, sons estranhos vindos debaixo da estrutura e até aparições repentinas que assustam motoristas. Muitos acreditam que as “visagens” seriam espíritos de pessoas que morreram em acidentes, foram assassinadas ou “desovadas” ali. Até hoje, o lugar mantém a fama de ponto mal-assombrado.
Na região da Sapolândia, a lenda ganhou corpo com a história real de Célia de Souza, mulher de 51 anos que ficou conhecida como a “Bruxa da Sapolândia”. Em 1969, ela foi acusada da morte de quatro crianças que estavam sob seus cuidados, em um caso que chocou Campo Grande. Presa, foi apontada como responsável por rituais e maus-tratos, mas acabou absolvida em 1971 por falta de provas. Após a soltura, desapareceu dos registros oficiais e seu paradeiro nunca mais foi confirmado. Mesmo inocentada, a imagem de Célia ficou marcada no imaginário popular como a “bruxa” que assombrava o bairro.
Nos cemitérios da cidade, as histórias ganham ares de devoção popular. No Santo Amaro, o túmulo da menina Fatinha se tornou um dos mais visitados. Morta ainda criança, em 1979, vítima de um acidente com fogo, aos sete anos, ela foi sepultada no local e, com o tempo, passou a ser vista pelos fiéis como intercessora de milagres. Conhecida como “Santa Fatinha”, sua sepultura recebe flores, brinquedos, bilhetes e pedidos de graça até hoje. Algum tempo depois de sua morte, uma mina de água foi descoberta atrás de seu túmulo. Muitos afirmam que a ingestão daquela água e orações diante do túmulo já resultaram em curas e soluções para problemas familiares, reforçando a aura de santidade em torno da menina. Atualmente, no entanto, a fonte parece ter secado.
Outro exemplo de devoção é a “capela” de Carminha, na Rua Joaquim Nabuco, região Central de Campo Grande. Estuprada e assassinada por um amigo de seus pais que a teria aliciado com balas e doces – não há consenso se no ano de 1919 ou se entre as décadas de 30 e 40 -, teve seu corpo abandonado onde hoje fica a capelinha. A menina ficou conhecida como “Santa Carminha”, por conceder graças aos devotos, desde problemas envolvendo saúde e área financeira, até a vida amorosa. Ainda hoje recebe flores, velas e preces de moradores que acreditam em seu poder de intercessão.
Essas lendas e curiosidades, contadas e recontadas ao longo do tempo, ajudam a manter viva a memória da cidade. No aniversário de 126 anos, Campo Grande mostra que sua história não se escreve apenas com progresso e concreto, mas também com fé, medo, misticismo e mistério, que seguem encantando e assustando gerações.
TMN/ML








