
Após mais um encontro direto entre humanos e onças-pintadas no Pantanal de Mato Grosso do Sul, o grupo técnico onça urbana Corumbá-Ladário esclareceu em coletiva ontem (07) o ocorrido com Valdinei da Silva Pereira, dizendo que o felino silvestre mirou o cachorro do homem e classificaram o episódio como um “incidente”.
Na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Cidade Branca, a coletiva do grupo técnico contou com a presença dos seguintes representantes:
José Borges de Medeiros, Polícia Militar Ambiental (PMA);
Yves Costa Pereira, PMA, 2ª CIA;
Cristina Ferreira Leming, presidente Fundação de Meio Ambiente do Pantanal;
Diego Viana, pesquisador da Jaguarte;
Fabiane Souza, analista Ambiental do Ibama;
Luka Gonçalves, analista ambiental do Instituto Homem Pantaneiro (IHP);
Sérgio Barreto, biólogo do Instituto Homem Pantaneiro (IHP)
Nas palavras de Diego Viana, o episódio ocorrido trata-se de um “incidente” e não um “ataque” propriamente dito, uma vez que a onça-pintada teria mirado o cachorro de estimação de Valdinei e não o homem em si.
“A gente tem que lembrar que os racionais somos nós, o animal é irracional então, pra ele, é oportunidade mesmo que saiu para caçar e encontrou uma presa fácil, se tem um cachorro com um gasto energético menor eu não vou precisar correr atrás de macaco”, disse.
Episódio recente
Como bem acompanhou o Correio do Estado, essa nova suspeita de ataque de onça-pintada no coração do Pantanal sul-mato-grossense aconteceu na noite de quarta-feira (06), com a vítima socorrida na manhã de ontem (07).
Esse episódio teria sido registrado próximo a uma área conhecida como Mirante da Capivara, com Valdinei sendo encontrado com lesão na testa e olho direito, apresentando um corte superficial no nariz e indicando sentir fortes dores na região do tórax.
Diferente do caso registrado no Pantanal corumbaense em abril deste ano, o homem atacado pela onça desta vez voltava para casa no período noturno quando o animal silvestre teria ido para cima de seus cachorros, com ele conseguindo fugir e sendo encaminhado para atendimento médico junto ao Pronto-Socorro, porém seu “melhor amigo canino” não teve a mesma sorte, sendo levado pelo “felino gigante”.
Conforme repassado pelas representantes do Ibama durante a coletiva, desde março, com os primeiros avistamentos de onças próximo ao perímetro urbano, a população havia sido orientada a respeito da guarda dos animais domésticos e coleta de lixo, na tentativa de evitar atrair essas espécimes silvestres da região.
“Nós sempre fomos bem enfáticos o quanto que os cães soltos nessas regiões, nesses bairros, são atrativos, uma espécie de ceva indireta para esses animais felinos, e que atrai esses animais”.
Segundo repassado pelo grupo, em teor de conscientização, esses animais domésticos ficam ainda mais vulneráveis se estiverem ao ar-livre nos períodos noturno e crepuscular, como ocorrido na última quarta-feira.
“Fica parecendo que o felino, ele teve a intenção de atacar o ser humano. E tudo que a gente consegue constatar é que não foi um ataque ao ser humano, mas sim àquele animal doméstico que era uma presa fácil”, complementa.
Médica veterinária do Ibama, Fabiane aponta que as ações para afugentar os animais silvestres foram reforçadas entre os parceiros envolvidos, uma vez que o trabalho conjunto busca empregar repelentes luminosos e demais ferramentas que envolvem até mesmo o monitoramento por câmeras.
Ataque fatal
O episódio recente com Valdinei foi registrado menos de seis meses após o caso da morte de Jorge Ávalo, que começou a ser investigado após seu desaparecimento, posteriormente apontado como ataque fatal de animal silvestre.
Esse ataque teria acontecido por volta de 5h do último feriado de Tiradentes, sendo que uma foto de circuito interno divulgada indica que por volta de 06h52, no ponto do bote, só restavam marcas de sangue e os animais carniceiros no local.
Familiarizados com a região, os locais identificaram o “modus operandi” do ataque da onça foi desvendado, com o animal se escondendo às margens do rio antes de partir em arrancada.
Região conhecida por ser destino de turistas e pescadores, esse ponto do Rio Miranda costuma atrair animais para próximos das regiões mais habitadas em épocas de cheia, o que favorece o encontro de seres humanos com a fauna local.
A confirmação de que a ceva foi a causa da morte de Jorge veio por meio da fala do secretário adjunto da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Educação), Arthur Falcette, em afirmação durante entrevista coletiva em 23 de abril na sede do 1º Batalhão da Polícia Militar Ambiental.
Ceva e animais silvestres
Predadores do topo da cadeia, as onças-pintadas costumam ser alvo de ceva profissional por parte de pesquisadores com ojbetivo de atrair animais para observação, monitoramento, registro ou estudo científico.
Sendo uma palavra do meio rural e significa basicamente ‘isca’ ou ‘alimentação oferecida’ com a intenção de atrair determinados bichos a um local específico, a ceva de onça-pintada costuma ser feita com pedaços de carne ou carcaças de animais mortos, usada especialmente em projetos de pesquisa e documentação fotográfica.
Vale lembrar que ceva já é proibida no Mato Grosso do Sul há cerca de uma década, regulamentada entretanto por uma resolução que data de 2015 da então chamada Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico (Semade).
Porém, nos últimos anos, alguns pesqueiros no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul passaram a fazer uso da ceva para atrair turistas, prática essa condenada por ambientalistas justamente pelos perigos de trazer esses animais silvestres para perto da atividade humana.
No caso da espécime que atacou Jorginho em abril, a onça batizada de “Irapuã” (“Colmeia” na tradução livre do Tupi) precisou ser extraída e deixar o Pantanal.
Sobre a captura dessa nova espécime, o grupo afirmou que antes dessa etapa é necessário um estudo comportamental, registrada através de armadilhas fotográficas e relatos de moradores, pelo qual a gente consegue determinar uma área com a maior probabilidade dela passar pra gente conseguir montar uma armadilha de laço pra gente comentar a chance de captura.
Inclusive, através do projeto de lei número 139, de autoria da deputada estadual Gleice Jane (PT), MS tentou recentemente proibir a prática de ceva, com um PL que prevê multas que variam entre mil e quinhentos reais até R$ 78,9 mil, baseada nos valores da Unidade Fiscal Estadual de Referência de Mato Grosso do Sul (UFERMS).
**(Colaborou Rodolfo César)
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