As fortes chuvas que atingiram a região pantaneira, principalmente no sábado à noite, ajudaram a melhorar o nível de oxigênio na água e a mortandade de peixes provocada pelo fenômeno da decoada acabou momentaneamente no Rio Miranda na altura do Passo do Lontra.
“A água ainda está muito escura, mas não estamos mais vendo peixes agonizando nem mortos nas últimas horas”, afirmou nesta manhã, aliviado, o empresário Rogério Iehle Walter, que tem pesqueiro no Passo do Lontra, povoado que fica na altura do KM 08 da estrada parque, no município de Corumbá.
Por causa do baixo nível de oxigênio na água, resultado da decomposição da vegetação seca e das cinzas arrastadas para o leito depois das fortes chuvas das últimas semanas, a mortandade de peixes assustou moradores e empresários do Passo do Lontra na última sexta-feira.
De acordo com eles, centenas de exemplares de todas as espécies e tamanhos estavam boiando e sendo levados pela correnteza ou agonizando às margens do rio em busca de água limpa e com maior teor de oxigênio. A chuva de sábado à noite parece ter trazido um alívio e renovado a qualidade das águas, acredita Rogério.
A decoada acontece praticamente todos os anos no começo do ciclo da cheia. Desta vez, porém, a quantidade de peixes mortos logo nas primeiras horas em que o fenômeno foi percebido causou temor aos pantaneiro, que temiam perder as reservas feitas por turistas que estão agendando pescarias no período de cheia do pantanal.
E após quatro anos de pouca chuva, a tão esperada cheia na planície está virando realidade. Em algumas das mais de 90 pontes de madeira da estrada parque a água já está tomando conta, de acordo com Rogério.
No começo de março o nível do Rio Miranda chegou ao pico de 7,34 metros na cidade de Miranda, desalojando pelos cinco famílias e ilhando outras sete (sete metros é nível de emergência). Neste domingo, o nível havia recuado para 6,83, ainda bem acima do normal.
Isso indica, segundo Rogério, que ainda tem muita água descendo em direção ao Passo do Lontra e que boa parte da região da estrada parque será inundada a partir de agora. “Para nós isso é ótimo. Isso com certeza vai trazer turistas para nossa região”, comemora Rogério.
Porém, a morte de centenas de peixes na semana passada assustou moradores e empresários, pois existia o receio de que o fenômeno pudesse se estender por longo período e provocar o cancelamento das reservas, que já estavam 30% maiores que nos anos anteriores.
Mas, de acordo com Rogério, o risco de ocorrerem novos ciclos de mortandade não está afastado, pois à medida que a água se espalha pela planície a quantidade de vegetação que se decompõe é cada vez maior. Porém, a previsão de que continue chovendo pelas próximas duas semanas reduz este risco, acredita ele.
FISCALIZAÇÃO
Enquanto os peixes estão agonizando na água, eles seguem próprios para o consumo humano, mas mesmo assim a legislação permite que cada pessoa capture apenas um exemplar e mais cinco piranhas para o consumo próprio, conforme o tenente coronel Edmilson Queiroz, chefe de comunicação da Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul.
De acordo com ele, a decoada é um fenômeno natural que ocorre ciclicamente no pantanal e os peixes mortos acabam servido de alimento para outros peixes, jacarés, pássaros e outros animais. “Existe toda uma cadeia alimentar que acaba reduzindo os efeitos negativos deste fenômeno”, explica o coronel.
Porém, de acordo com ele, as espécies mais nobres, como o dourado, são as mais sensíveis ao fenômeno. Por outro lado, os cascudos, que são os mais resistentes, dificilmente morrem, mas também não servem de atrativo para os turistas.
Conforme o comandante da Policia Militar Ambiental de Corumbá, Kelvim Valente, “infelizmente existem pessoas que não possuem consciência e realizam pesca de forma ilegal” em meio a este fenômeno e por isso a fiscalização será intensificada imediatamente onde a decoada for registrada.