Diante do otimismo de que a Rota Bioceânica tenha o potencial de movimentar cerca de 1,5 bilhão de dólares ao ano, a Capital de Mato Grosso do Sul se viu “esquecida” – nas palavras da prefeita, Adriane Lopes – e tem “corrido atrás do prejuízo” evidenciando a tecnologia e “virtualização” de processos em busca do protagonismo nesse cenário de mudanças.
Sendo um imenso corredor rodoviário com 2.396 km de extensão, será a ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico, que partirá do Brasil até os portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, além de passar pelo Paraguai e pela Argentina, o que justifica as esperanças no incremento das exportações.
Durante o 2º Congresso Sul-Mato-Grossense de Cidades Digitais e Inteligentes, Adriane Lopes admitiu que, ao ver o projeto avançar tanto no interior de Mato Grosso do Sul, com as conexões aos Estados de São Paulo e Mato Grosso, “nossa cidade estava sendo esquecida nesse processo”, disse a prefeita.
Com isso, a chefe do Executivo Municipal reforçou que há trabalhos buscando colocar Campo Grande em uma posição de protagonismo, tratando dos gargalos existentes quanto à integração e logística.
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“São novas possibilidades econômicas na rota que está sendo construída pela rodovia. Existe um mercado consumidor no entorno de 20 milhões de pessoas. A população dos países que integram esta rota chega a 180 millhões”, lembrou a prefeita quanto às possibilidades de avanço também para Campo Grande.
Justamente o chamado “Sistema Eletrônico de Informações” (conhecido por SEI), desenvolvido há tempos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), aparece como um dos “carros chefes” nos planos da Capital para modernizar os processos de protocolização.
O SEI tem a ideia de reduzir custos justamente por “virtualizar” o que as gestões municipais têm, hoje, em papel, oferecendo ainda “suporte para produção, edição, assinatura e trâmite de documentos”.
Sendo exemplo
Em entrevista ao Correio do Estado durante o 2º Congresso sediado na Capital, o diretor-presidente Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação (Agetec), Paulo Fernando Garcia Cardoso, esclareceu que desde 2019 Campo Grande começou a implantação do SEI em sua gestão.
Entretanto, segundo o próprio diretor-presidente, desde 2017 a gestão da prefeitura de Campo Grande mostra confiança na área da tecnologia, o que Paulo considera essencial.
“Se as obras, a educação, a habitação, todos os setores estiverem envolvidos, sentarem com a tecnologia, a gente consegue implementar soluções. O governo federal editou normas recentemente, estimulando o processo eletrônico nos municípios e ofereceu o SEI, que é uma plataforma que o governo federal já usa e é gratuita”, aponta ele entre as vantagens.
Ou seja, além de não pesar no bolso do executivo municipal, a plataforma em si traz como objetivo e consequência a economia, uma vez que os gastos com papel e o próprio espaço físico para manter esse arquivo são drasticamente reduzidos.
“Campo Grande desde 2019 já começou a implantação do SEI. Então a gente ficou muito feliz com isso, porque a gente está maduro nesse sentido e vai poder compartilhar sobre a implantação do sistema eletrônico. É a substituição do processo de papel pelo eletrônico, trazendo economia, celeridade e transparência”, afirma o diretor-presidente da Agetec.
Entre outros processos tecnológicos que auxiliam a gestão, Paulo Fernando Garcia destaca o “data center” municipal, o que diz ser de “altíssima confiabilidade” e comparável ao de grandes empresas do setor privado; a implantação de telefonia digital na prefeitura e demais órgãos, entre outras medidas que trouxeram economia e eficiência.
“Nós implantamos ferramentas tecnológicas; serviços digitais que reduziram o uso do papel; o portal das certidões; o IPTU todo online. Nós criamos também aplicativos para segurança pública, como a educação mais segura, onde a ideia do botão do pânico, que foi aperfeiçoada e melhorada para ajudar essa cooperação entre alunos, administrativos, professores e a segurança pública do municipal e do estado”, expõe.
Além de relembrar o “SEI” como grande projeto, ele cita a disponibilização da cobertura de fibra para mais de 500 localidades em Campo Grande, o que cita como “muito bem organizado” e amadurecido quanto às fases administrativas como a licitação, o que ele espera que contribua na busca por esse lugar de protagonismo que o Executivo Municipal tanto busca.
Rota Bioceânica
Ainda em 2014 o projeto da Rota Bioceânica começou a ser discutido, com o pontapé inicial dado em 2017, vindo como a promessa de ampliação da relação comercial de Mato Grosso do Sul com países asiáticos e sul-americanos.
Entre os “agentes fiscalizadores” na sociedade, a própria Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) analisou que, o simples efeito de encurtar em até 17 dias o tempo de viagem rumo ao mercado asiático deve contribuir para redução dos custos de envio, ou seja, barateando o processo.
Entretanto, vale lembrar o teste mal-sucedido da comissão local em transportar 13 toneladas de carne bovina no ano passado.
Em 24 de novembro, a terceira expedição buscava fazer um “test drive” da Rota, transitando os 2,3 mil km rumo ao Chile com 107 pessoas em 36 caminhonetes, além do caminhão frigorífico.
Além de sair um dia antes, enquanto o pessoal das 36 caminhonetes, de fato, conseguiu chegar ao Chile, o caminhão frigorífico (e consequentemente as 13 toneladas de carne) sequer saíram do Estado, sendo retidos em Ponta Porã após chegaram à aduana “sem nenhuma documentação em mãos” segundo funcionários da Receita Federal à época.
Mais recente, ainda neste mês de março, o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, afirmou a expectativa de que “até o fim de 2026 a Rota Bioceânica deve estar operacional”.
**(Colaboraram Eduardo Miranda e Laura Brasil)
Fonte: Correio do Estado