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Especialistas de MS alertam que vídeos de redes sociais sobre ‘traição’ podem ser ‘gatilho’ para violência doméstica e até feminicídios

Por Redação

Em 29 de novembro de 2021

Vídeos são postados em rede social — Foto: Reprodução/TikTok

Especialistas da área de saúde e profissionais de segurança pública de Mato Grosso do Sul estão preocupados com os efeitos que vídeos publicados em redes sociais abordando a questão da “traição” podem ter. Eles alertam que essas publicações podem servir de “gatilho” para a violência doméstica e até feminicídios.

Os diversos conteúdos fazem parte das famosas “trends” das redes sociais, ou seja, repetições de vídeos sobre um mesmo assunto, editados de forma diferente e postados por influenciadores e usuários.

Alguns deles têm mais de 30 mil visualizações e mais de seis mil curtidas. Para Keila de Oliveira Antonio, psicóloga atuante no Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), da Defensoria Pública, esse tipo de conteúdo pode causar sérias consequências.

“São desnecessários e podem estimular o aumento do controle sobre a vida e comportamento das mulheres, podem estimular a tensão entre casais que vivem relacionamentos abusivos e, sim, desencadear violência e tentativas de feminicídio”, pontua Keila.

Há sete anos, a profissional trabalha diretamente com mulheres vítimas de violência doméstica. Dentre as narrativas que ela escuta diariamente, muitas são atitudes abusivas por parte dos homens.

“Ouço que já tiveram as roupas rasgadas, que são impedidas de sair com amigas, obrigadas a manterem relações sexuais mesmo sem vontade, tudo em nome de uma suspeita de estarem traindo ou medo de que a mulher possa trair”, revela Keila.

Teor machista

A psicóloga clínica, Tatiana Samper também se espantou com os vídeos. “Um profissional não daria dicas desse gênero”, afirma. Ela também chama atenção para o teor das gravações. “Eu notei que o título é bem machista e já coloca a mulher em uma posição de infiel, uma figura perigosa, duvidosa, que merece atenção redobrada”, destaca.

A psicóloga também visualiza um outro perigo comum nos vídeos: o crime de estupro. “A gente sabe que existe um considerável número de estupro dentro de relacionamentos estáveis. Nesse sentido, vejo risco, tanto de pessoas leigas como também essa perpetuação de que a mulher comprometida e fiel deve estar sempre disponível para o sexo. Achei péssimo”, completa, analisando outra parte dos vídeos.

Já para Elaine Benicasa, delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), a “brincadeira” fica séria quando o casal apresenta alguma tensão na relação. “Os vídeos não são graves por si só, porém, penso que, a depender da situação atual de quem vê, podem causar algumas discussões e eventualmente resultar em algumas situações mais graves”, explica.

Gatilhos

Muitos dos vídeos são gravados por mulheres, gerando um choque para quem está do outro lado da tela. “Eu não acredito que elas tiveram coragem de gravar isso!”, alegou Marianne Tavares. A dentista, de 29 anos, se surpreendeu também com o vocabulário. “Todos ofendem demais a gente. Eu, particularmente, me senti muito ofendida e humilhada”, confessa.

Há quem não veja maldade nos vídeos, como é o caso de Augusto Pires, de 19 anos. “Eu consigo ver que tem muito humor nisso tudo. Não levei a sério! Tem gente levando a sério?”, indaga o estudante.

Em relação aos jovens, a psicóloga Tatiana faz uma observação. “Estão descobrindo o que é um relacionamento, mas mesmo os adultos podem acreditar nessas informações”, completa.

A perplexidade gerada pelos conteúdos alcança até mesmo quem já sofreu uma agressão. “É sempre um gatilho ver esse tipo de coisa. Os momentos de terror vêm à tona”, revela uma jovem de 26 anos, que foi agredida pelo namorado quando estava grávida dele.

As agressões aconteceram há quatro anos. Contudo, as marcas, segundo ela, serão eternas. “É impossível esquecer. No momento de mais fragilidade ele me machucou”, lembra a vítima.

De acordo com a secretaria estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), em 2021 foram registrados em Mato Grosso do Sul,15.669 casos de violência doméstica. Como os números são parciais – até 15 de novembro – o temor da secretaria é que a quantidade de registros deste ano ultrapasse a de 2020, que chegou a 15.783.

Em Campo Grande essa situação já ocorre. Na mesma parcial de 2021, foram registrados 5.351 casos de violência doméstica, enquanto que em todo o ano de 2020 foram 5.276.

Na capital sul-mato-grossense foram registrados 31 casos de femicídio neste ano e determinadas pela Justiça 4.494 medidas protetivas contra agressores.

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Crédito: Coxim Agora.