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Agronegócio de MS corre risco de sofrer um “apagão logístico”

Por Redação

Em 10 de dezembro de 2024

Agronegócio de MS tem risco de sofrer um “apagão logístico” por conta da alta demanda do transporte portuário – Foto: Marcelo Victor / Correio do Estado

O agronegócio de Mato Grosso do Sul pode enfrentar um colapso logístico nos próximos anos, com a infraestrutura de transporte sendo pressionada pela crescente demanda de exportação de grãos. A predominância do modal rodoviário e a saturação da capacidade portuária nacional, que já opera acima do limite de segurança, ameaçam comprometer o escoamento da produção e inflacionar os custos logísticos.

No cenário nacional, o panorama é igualmente preocupante: mais de 91% da capacidade dos portos brasileiros já está destinada à exportação de grãos, superando o limite operacional seguro, estabelecido em 85%. As projeções pessimistas foram apontadas pela consultoria Macroinfra, em reportagem da Folha de São Paulo.

Conforme o levantamento, a situação poderá se agravar se não houver ampliação da infraestrutura: a demanda projetada para 2028, de 238,9 milhões de toneladas, ultrapassará a capacidade instalada, que hoje é de 234 milhões de toneladas, evidenciando um gargalo crítico para o setor.

De acordo com o analista em comércio exterior Aldo Barrigosse, a infraestrutura de transporte é uma preocupação crescente no Brasil, especialmente para estados estratégicos como Mato Grosso do Sul, que tem o agronegócio como um dos principais setores da economia.

“MS está em posição geográfica privilegiada, mas também enfrenta desafios logísticos estruturais que podem limitar seu potencial competitivo no comércio exterior. Com o aumento esperado na produção agrícola, sem investimentos em infraestrutura, a sobrecarga será adicional, afetando qualidades na cadeia de exportação e na competitividade dos produtos de MS nos mercados internacionais”, diz.

Economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo avalia que há uma deficiência estrutural no agronegócio.

“Nosso agro cresce tanto todos os anos que o incremento nas estruturas logísticas não consegue acompanhar este avanço. Em 2016, por exemplo, tínhamos mais de 163 navios graneleiros encalhados nos portos. Na pandemia, também vimos ocorrer a mesma coisa. Agora, em 2024, já se fala em aumento nos custos dos fretes, novamente causados pela pouca oferta de contêineres. E sem medidas para ampliar e modernizar nossa capacidade portuária, certamente veremos episódios cada vez mais frequentes de filas e atrasos em nossas exportações”, avalia Melo.

Ainda de acordo com o economista, a logística nacional afeta sobremaneira o Estado. “A solução do problema passa por entender a necessidade de se investir em novos modais e melhorar os investimentos em infraestrutura de armazenamento”.

ESCOAMENTO

Para os analistas ouvidos pelo Correio do Estado, a principal solução para não sobrecarregar as rodovias é destravar as ferrovias, além de tentar melhorar o transporte hidroviário, para que o escoamento da produção sul-mato-grossense ocorra sem maiores problemas.

A forte dependência do modal rodoviário, que responde por dois terços do transporte de grãos, segundo a consultoria Macroinfra, eleva os custos logísticos e reduz a eficiência. “O caminhão tem um custo muito, muito mais elevado do que uma ferrovia ou uma hidrovia”, afirma Olivier Girard, da Macroinfra, à Folha de São Paulo.

Barrigosse avalia que a alternativa estratégica e viável para mitigar os gargalos é a reativação da malha ferroviária, oferecendo uma solução de médio a longo prazo. “Projetos como a Rumo Malha Oeste, integração com a Ferrovia Norte-Sul e a Nova Ferroeste podem transformar a logística regional, reduzindo custos e aumentando a capacidade de escoamento”.

Conforme publicado na edição de ontem do Correio do Estado, após travar o processo de relicitação da BR-163 por um longo período, é o processo de reativação da ferrovia Malha Oeste que segue parado no Tribunal de Contas da União (TCU).

As tratativas para relicitar a malha ferroviária que corta Mato Grosso do Sul de leste a oeste estão travadas há pelo menos 10 meses e, mesmo com novas conversas sobre um acordo entre a concessionária Rumo Logística e o Ministério dos Transportes, nada foi concretizado.

O Ministério dos Transportes quer acelerar a renovação da concessão da ferrovia entre MS e São Paulo com um novo contrato de 30 anos. A promessa era de que uma proposta de solução consensual seria apresentada em junho deste ano, por um grupo de trabalho (GT) criado pelo Ministério.

A Malha Oeste tem 1.973 km de extensão, entre as cidades de Corumbá e Mairinque (SP). A maior parte da ferrovia está em MS, que abrange um trecho de aproximadamente 800 km, entre Corumbá e Três Lagoas, e outro de pouco mais de 300 km, entre Campo Grande e Ponta Porã.

De olho no corte de custos, o plano é prorrogar a concessão por mais 30 anos, evitando o vencimento do contrato atual, pois um novo processo de relicitação seria mais extenso e custoso.

O analista em comércio exterior ainda destaca outras possibilidades para melhorar o transporte da produção.

“Desenvolver hubs logísticos próximos às áreas produtoras e conectados a diferentes modais e ampliar e modernizar as hidrovias. Essas ações em conjunto são fundamentais, já que focar exclusivamente nas ferrovias pode não ser suficiente para atender à demanda crescente. É crucial que o planejamento seja integrado, com políticas que incentivem investimentos contínuos em todos os modais logísticos”, finaliza Barrigosse.

Fonte: CE/ML

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