A grande maioria (90%) dos brasileiros considera que o local de maior risco de assassinato para as mulheres é dentro de casa, por um parceiro ou ex-parceiro. Os dados são da pesquisa “Percepções da população brasileira sobre feminicídio”, realizada pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva com apoio do Fundo Canadá e obtida com exclusividade pelo g1.
Essa noção é reforçada pelo número de mulheres que dizem já terem sido ameaçadas de morte por companheiros ou ex: 30% delas, o equivalente a 25,7 milhões de brasileiras. Entre elas, 1 em cada 6 já sofreu tentativa de feminicídio.
A maioria delas (57%) disseram ter terminado o relacionamento, enquanto 34% denunciaram à polícia e 12% não tomaram nenhuma atitude.
Participaram da pesquisa 1.503 pessoas (1.001 mulheres e 502 homens), com 18 anos de idade ou mais, entre 22 de setembro e 6 de outubro de 2021 em todo o país. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.
93% dos entrevistados concordam que a ameaça de morte é uma forma de violência psicológica tão ou mais grave que a violência física;
68% dizem saber ao menos um pouco sobre a lei do feminicídio e apenas 7% nunca ouviram falar sobre ela
A maioria da população (57%) conhece alguma vítima de ameaças de feminicídio íntimo, o que representa 91,2milhões de pessoas, segundo os institutos Locomotiva e Patrícia Galvão.
Já 41% disseram conhecer um homem que já ameaçou de morte a atual ou ex-parceira, o equivalente a 65,6 milhões de pessoas.
Relacionamentos e feminicídio
A ameaça de feminicídio é considerada uma forma de violência grave e maioria entende que, embora as ameaças muitas vezes não sejam levadas a sério, relações violentas podem resultar em feminicídio.
- 97% concordam que mulheres que permanecem em relações violentas estão correndo risco de serem mortas;
- 87% disseram que terminar a relação é a melhor forma de acabar com o ciclo da violência doméstica e evitar o feminicídio.
Apesar desses números, 49% das pessoas entendem que o momento de maior risco de assassinato da mulher que sofre violência doméstica pelo parceiro é o do rompimento da relação – para 28%, isso pode ocorrer a qualquer momento.
Aumento da violência e impunidade
- Entre as mulheres, 93% consideram que esse crime tem aumentado muito nos últimos 5 anos;
- entre os homens são 77%;
- para 86%, os feminicídios estão se tornando mais cruéis e violentos do que os cometidos no passado;
- 90% das mulheres consideram que arma de fogo em casa dificulta a denúncia e aumenta o risco de assassinato (80% dos homens ouvidos têm a mesma opinião);
- 65% consideram que o homem que comete feminicídio é o responsável pelo crime e deve ser punido;
- 30% culpam ambos (homem e mulher);
- 3% culpa a mulher pelo feminicídio;
- 92% consideram que os homens que cometem violência doméstica contra mulheres sabem que isso é crime, mas continuam a agredir porque confiam que não serão punidos.
Ainda que parcialmente, um terço das pessoas atribuem a culpa do feminicídio à mulher que é morta pelo parceiro ou ex-parceiro.
A percepção de impunidade é alta: apenas 25% acreditam que a maioria dos homens que ameaçam suas parceiras ou ex-parceiras são punidos na maior parte das vezes. Para 27%,há punição para quem tenta ou pratica feminicídio.
Para 92% dos entrevistados, a sensação de impunidade incentiva a agressão contra as mulheres.
Canais de denúncia e apoio
Secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Claudia Carletto, mostra um ‘X’ na mão para lembrar da campanha que pede para mulheres vítimas de violência usarem a letra com sinal de que estão em perigo — Foto: Everton Clarindo / SMDHC
- 91% disseram que a delegacia da mulher é o principal serviço que a mulher ameaçada de feminicídio deve buscar;
- 95% concordam que se alguém vê ou ouve um homem ameaçando de morte uma mulher essa pessoa deve denunciar;
- 79% concordam que muitos policiais não acreditam na seriedade da denúncia de ameaça;
- 90% acreditam que se as mulheres se sentiriam mais seguras para denunciar e sair da relação violenta se tivessem apoio do estado;
- 85% acreditam que os serviços de atendimento à mulher agredida sejam bons, mas estão presentes em poucas cidades e não dão conta de atender as mulheres em todo o país.