O resultado das eleições na Groenlândia, nesta quarta-feira (7/3), colocou em xeque o andamento de um grande projeto de mineração na ilha que envolve grandes interesses internacionais no Ártico – e, por isso, tem sido acompanhado de perto por grandes potências.
A Groenlândia é um território pertencente à Dinamarca, mas é autônomo, portanto pode escolher seus próprios governantes. Localizada entre a América do Norte e a Europa, a Groenlândia tem uma área de mais de 2 milhões de quilômetros quadrados e é considerada a maior ilha do mundo. E também é o território menos densamente povoado do mundo: tem uma população de apenas 56 mil pessoas.
A economia da ilha depende da pesca e de subsídios dinamarqueses, mas o derretimento do gelo tem aberto caminho para a exploração de recursos minerais – especificamente para um projeto de mineração de elementos raros no sul da ilha e que virou um tema central da eleição desta semana.
O pleito parlamentar foi vencido com folga pelo partido de esquerda Inuit Ataqatigiit, que conquistou 37% dos votos e prometeu fazer oposição ao projeto de mineração. O partido agora terá que compor um novo governo.
A vitória tira a maioria do partido governista Siumut, que manteve o poder pela maior parte do tempo desde que a Groenlândia obteve autonomia da Dinamarca, em 1979. O partido defende o projeto de mineração.
Entenda o que está em jogo e qual o interesse internacional na região.
O que está em jogo
A empresa proprietária da mina em Kvanefjeld, sul da Groenlândia, afirma que o local tem “potencial para se tornar o mais significativo produtor do mundo ocidental” de minerais de terras raras, um grupo de 17 elementos (como neodímio, praseodímio, disprósio e térbio) usados na fabricação de eletrônicos e armas.
O Partido Siumut apoia o desenvolvimento da mina, argumentando que o projeto forneceria centenas de empregos e geraria centenas de milhões de dólares anualmente ao longo de várias décadas, o que poderia levar a uma maior independência em relação à Dinamarca.
Mas o oposicionista (e agora vencedor) Inuit Ataqatigiit, ligado aos povos originários da região, os Inuit, critica a proposta, em meio a preocupações sobre a produção de poluição radioativa e lixo tóxico.
O futuro da mina Kvanefjeld é significativo para vários países — o local é propriedade de uma empresa australiana, a Greenland Minerals, que é apoiada por uma empresa chinesa.
Por que a Groenlândia é importante?
A Groenlândia esteve nas manchetes várias vezes nos últimos anos, com o então presidente americano Donald Trump sugerindo, em 2019, que os EUA poderiam comprar o território.
A Dinamarca rapidamente descartou a ideia como “absurda”, mas o interesse internacional no futuro do território continuou.
A ilha se tornou centro de uma disputa estratégica entre EUA e China tanto por sua importância econômica para a mineração quanto por sua posição geográfica entre a América e a Europa.
A China já tem acordos de mineração com a Groenlândia, enquanto os EUA — que têm uma base aérea importante da era da Guerra Fria na cidade de Thule — ofereceram milhões em ajuda.
A própria Dinamarca reconheceu a importância da ilha: em 2019, colocou a Groenlândia como prioridade em sua agenda de segurança nacional pela primeira vez.
E diversos outros países, como Reino Unido, Austrália, Canadá e Nova Zelândia, também têm interesse na região para reduzir sua dependência da China para suprimentos minerais.
No entanto, a mineração não é a única questão no centro do debate na Groenlândia.
O território está entre os mais afetados pelo aquecimento global, com cientistas relatando perda recorde de gelo no ano passado.
Mas o recuo do gelo também aumentou as oportunidades de mineração e de novas rotas de navegação através do Ártico, o que poderia reduzir os tempos de transporte global.
Essa realidade em mudança também aumentou o foco em disputas territoriais de longa data, com Dinamarca, Rússia e Canadá buscando a soberania sobre uma vasta cadeia de montanhas subaquáticas perto do Pólo Norte conhecida como Lomonosov Ridge.
A Rússia vem aumentando suas atividades econômicas e militares no Ártico, onde possui uma longa costa costeira, gerando preocupação por parte dos governos ocidentais.