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O eficiente sistema japonês que devolve celulares, carteiras e até dinheiro perdidos aos donos

Por Redação

Em 24 de fevereiro de 2022

Foto: Divulgação

Todos os anos, milhões de pertences pessoais são perdidos no Japão.

Mas, ao contrário do que acontece em outros países, se você perder qualquer objeto por ali, como um telefone celular ou carteira, provavelmente vai recuperá-lo.

Os pertences perdidos no país são armazenados no centro de achados e perdidos de Lidabashi, em Tóquio. Em 2019, um número recorde de 4,15 milhões de itens perdidos foram entregues de volta aos donos nesse local.

Atualmente, o centro armazena mais de 600 mil objetos.

Como explica Yukiko Igarashi, chefe do centro, cerca de 7,7 mil itens perdidos são recebidos no local diariamente.

“Tóquio tem 20% de todos os itens perdidos no Japão”, diz ela. “E o item que tem maior índice de recuperação é o celular”.

Cerca de 90% dos celulares perdidos são devolvidos aos seus donos. O segundo item mais recuperado são as carteiras, diz Igarashi. Quase 70% delas são devolvidas aos seus proprietários.

“Outra coisa muito comum que as pessoas costumam perder são documentos oficiais”, diz ela, “como carteiras de motorista, cartões de plano de saúde, cartões de crédito ou cartões de desconto de lojas”.

A maioria dos itens perdidos é geralmente devolvida no mesmo dia em que são perdidos.

Mas alguns objetos raramente retornam a seus donos.

“A taxa de recuperação mais baixa é para guarda-chuvas, com menos de 1%. Você pode substituir facilmente um guarda-chuva de plástico barato, então as pessoas geralmente não os procuram”, diz Igarashi.

Caso de Polícia

Mas qual é o segredo do sucesso do sistema de achados e perdidos do Japão?

“Basicamente, todos os pertences perdidos são entregues ao ‘Koban’, a delegacia de polícia local”, diz Igarashi.

“Os deveres do policial no Koban incluem patrulhar a área, aceitar objetos perdidos e arquivar relatórios de objetos perdidos”, explica o policial Wada, do Sukiyabashi Koban, em Tóquio.

Outras funções dos agentes de segurança pública são cuidar de pessoas perdidas ou bêbadas, ouvir cidadãos sobre questões que possam causar problemas e lidar com acidentes de trânsito ou com criminosos.

Os policiais passam uma imagem diferente da polícia no restante do mundo.

A abordagem baseada nas necessidades da comunidade e a onipresença do Koban facilitam a entrega e comunicação sobre um item perdido.

“Em média, recebemos sete itens perdidos por dia neste Sukiyabashi Koban”, diz Wada.

Prazos e leilões

Mas o que acontece se ninguém reivindicar os itens perdidos?

“Se o dono não aparecer depois de um certo tempo (no Koban), o item será transferido para o Centro (de Achados e Perdidos)”, explica Yukiko Igarashi.

Caso ninguém apareça para reivindicá-lo após três meses, a pessoa que o devolveu poderá ficar com o objeto. Se ela preferir abrir mão do item, ele será transferido para posse da cidade, que poderá leiloá-lo.

“O item mais memorável que já recebi foi um envelope contendo US$ 8,8 mil (R$ 45 mil em valores atuais) em dinheiro”, diz o agente Wada. “Fiquei surpreso!”

Igarashi explica que não é incomum ver grandes somas de dinheiro como a que o policial recebeu.

“Para mim, os objetos mais memoráveis foram uma dentadura e muletas. Me pergunto como o dono poderia voltar para casa sem eles?”, diz ela. “Há tantos itens raros que se perdem!”

O sistema eficiente facilita a devolução de itens perdidos. Mas esse processo não seria possível sem a ajuda da população.

“Por mais de mil anos, o Japão teve uma lei sobre objetos perdidos”, explica Igarashi. “Pessoalmente, acredito que a educação moral do Japão desempenhou um papel importante na formação de nossa atitude em relação a itens perdidos.”

Ainda hoje, as crianças são ensinadas a devolver itens perdidos. “Muitas vezes você vê crianças entregando itens perdidos no Koban com seus pais”, diz Igarashi, “mesmo que seja apenas uma moeda de 100 ienes (R$ 4,50)”.

O professor Masahiro Tamura, da Universidade Kyoto Sangyo, acredita que a primeira vez que a maioria das pessoas interage com a polícia em suas vidas é quando vão entregar bens perdidos aos Koban.

“Isso cria uma relação próxima entre os agentes e o cidadão comum”, diz.

O conceito japonês de “hitono-me”, que significa “olho da sociedade”, é uma parte importante do processo.

“Nossa moralidade interna muitas vezes nos ajuda a modificar nosso comportamento”, diz Tamura, “mas o mesmo acontece com ‘o olho da sociedade'”.

A cultura impede que as pessoas façam coisas erradas, mesmo sem a presença da polícia.

“Os japoneses se preocupam muito com a forma como as outras pessoas veem seu comportamento, então sua atitude em relação a objetos perdidos está ligada à sua imagem na sociedade”, diz Tamura.

A disciplina moral é mantida mesmo quando ocorrem desastres naturais.

“Muitas vezes, quando os desastres acontecem no Japão, o crime não aumenta”, diz Tamura. “A única exceção foi durante o desastre de Fukushima, quando tivemos casos de crimes.”

“Então, acredito que o poder dos olhos das pessoas sobre nós é muito maior do que o poder da autoridade pública”, acrescenta.

A pandemia reduziu o número de objetos perdidos no Japão. Ainda assim, o centro recebeu 2,8 milhões de itens.

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