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Poluição por chumbo de antigos romanos pode ter causado declínio no QI da Europa

Por Redação

Em 9 de janeiro de 2025

Mineração de prata foi uma das principais responsáveis pela poluição por chumbo — Foto: Pexels

O chumbo é um dos elementos químicos mais densos e prejudiciais à saúde encontrados na natureza. Proveniente da queima de combustíveis fósseis e de diversos processos industriais, sua contaminação pode perdurar no solo e nos leitos dos rios por séculos. Quando presente no organismo humano, o chumbo pode afetar gravemente o sistema nervoso, os rins e até causar danos cerebrais.

Com o objetivo de compreender os níveis de poluição por chumbo no Ártico entre os anos 500 a.C. e 600 d.C. — período que inclui o surgimento e a queda do Império Romano —, pesquisadores realizaram uma análise de núcleos de gelo extraídos dessa região.

Os resultados indicaram a prática de mineração e fundição em diversas partes da Europa, atividades que possivelmente contribuíram para a diminuição do QI da população. Esses achados foram divulgados em um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences na última segunda-feira (6).

“Este é o primeiro estudo a pegar um registro de poluição de um núcleo de gelo e invertê-lo para obter concentrações atmosféricas de poluição e então avaliar impactos humanos”, diz Joe McConnell, professor pesquisador de hidrologia da Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, e autor principal do estudo, em comunicado. “A ideia de que podemos fazer isso há 2.000 anos é bem nova e empolgante.”

Para alcançar tais resultados, a equipe analisou amostras de gelo de lugares como Groenlândia e Antártida. Usando enormes brocas, eles extraíram colunas de gelo acumulado de até 3.400 metros de comprimento, alcançando profundidades mais distantes da história da Terra. Essas amostras carregam importantes informações do passado, incluindo a quantidade de chumbo presente na atmosfera da época, possível de ser identificada a partir da presença de seus isótopos.

As investigações laboratoriais, combinadas com pesquisas históricas, resultaram em uma modelagem computacional dos níveis de poluição atmosférica por chumbo no continente europeu. Com isso, foi possível identificar um aumento significativo na contaminação por chumbo por volta de 15 a.C., pouco após a ascensão do Império Romano. Esse pico de poluição continuou até o fim da Pax Romana (“paz romana”), um período de prosperidade e riqueza que se encerrou em 180 d.C.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, os pesquisadores estimaram que o Império Romano liberou mais de 500 mil toneladas de chumbo na atmosfera, em razão das atividades de mineração de prata, que empregavam um material abundante em chumbo para a extração do metal. Esse aumento nas emissões causou sérios efeitos sobre a função cognitiva da população.

A equipe de pesquisa detectou uma provável queda nos níveis de QI de pelo menos 2 a 3 pontos entre os habitantes da Europa. “Sabe-se que o chumbo tem uma ampla gama de impactos na saúde humana, mas escolhemos focar no declínio cognitivo porque é algo que podemos quantificar”, disse Nathan Chellman, também professor na Universidade de Nevada. “Uma redução de 2 a 3 pontos no QI não parece muito, mas quando você aplica isso a praticamente toda a população europeia, é algo muito grande.”

A exposição ao chumbo pode causar sérios danos à saúde humana. Em um estudo realizado pelo Banco Mundial em 2019, foi estimado que 5,5 milhões de pessoas com 25 anos já morreram devido a doenças cardiovasculares associadas à intoxicação por chumbo. Além disso, elevados níveis de exposição a esse metal tóxico estão relacionados a problemas como infertilidade, anemia e perda de memória.

Os pesquisadores explicam que a quantificação da poluição e seus impactos na antiguidade demonstra como “os humanos têm impactado sua saúde por milhares de anos por meio de atividades industriais”.

Fonte: Galileu

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