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O sítio arqueológico de Toro Muerto, no Peru, é um dos mais importantes complexos de artes rupestres da América do Sul. Feitos há 2 mil anos, alguns dos entalhes encontrados na região aparentam ser de humanos dançando, cercados por linhas e formas geométricas.
Essas figuras despertam a curiosidade dos pesquisadores – que sugerem que elas possam ser representações de canções usadas em rituais com plantas alucinógenas. Os especialistas publicaram a descoberta no periódico Cambridge Archaeological Journal na última quarta-feira (03).
As figuras humanas dançantes, conhecidas como danzantes, alinhadas a padrões geométricos em forma de zigue-zague e pontos, seriam “metáforas gráficas de transferência para o outro mundo”. A hipótese foi estabelecida por meio da observação de semelhanças entre as gravuras de Toro Muerto e artes rupestres da cultura Tukano, que ocupam partes da Amazônia colombiana e brasileira.
Análises prévias mostram uma possível ligação entre esses desenhos e formas às experiências provocadas pelo consumo ritualístico da bebida alucinógena ayahuasca, utilizada pelas comunidades indígenas amazônicas por milênios.
![Variedade de dançantes em Toro Muerto — Foto: Equipe de pesquisa polaco-peruana/JZ Wołoszyn/Cambridge A Archeological Journal (CC BY 4.0)](https://s2-galileu.glbimg.com/cWnUenh1e5Qwt-UMlCs0tJpVjQM=/0x0:2000x974/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/T/3/H4kvmUQWW3OFwCgU33rw/urn-cambridge.org-id-binary-20240403043924300-0574-s0959774324000064-s0959774324000064-fig3.png)
Segundo o site IFL Science, as canções gravadas, chamadas de ícaros, eram entoadas por xamãs que conduziam o ritual para estabelecer uma “comunicação” com divindades religiosas através de uma jornada no universo espiritual. Pesquisas antropológicas com o povo Tukano apontam que, para eles, as músicas alinhadas ao efeito do ayahuasca levavam os indivíduos a um “mundo paralelo”, onde conseguiam se conectar com seus ancestrais.
Essa interpretação, quando replicada à cultura de Toro Muerto, leva a entender que as linhas onduladas ao redor dos danzantes são as canções entoadas, que agem como uma força de transferência para outro plano. “O cosmos constituiu o espaço que o xamã explorou em sua jornada visionária, enquanto as linhas onduladas e em zigue-zague poderiam ter sido visualizações de ambas as canções, levando-o também a essa realidade paralela”, explicam os autores no artigo.
Contudo, eles alertam que a hipótese ainda é muito especulativa: as gravuras “ilustravam uma esfera cultural graficamente indescritível: cantos e canções” – não sendo possível realizar interpretações precisas de uma rica cultura, que ainda deve ser explorada.
As pesquisas vêm sendo realizadas em Toro Muerto desde 2015, e já revelaram cerca de 2,6 mil pedras com pinturas rupestres sobreviventes ao tempo. Realizadas com diferentes instrumentos que se assemelham a martelos e ao cinzel (item de corte manual), a iconografia vista na região apresenta uma série de representações zoomórficas, geométricas e antropomórficas, em menor escala.
Neste momento, uma equipe composta por arqueólogos do Peru e da Polônia está conduzindo a documentação do sítio, dando início a uma nova fase de intervenções.
Fonte: Galileu Galilei