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Arte rupestre de 2 mil anos no Peru retrata possíveis canções psicodélicas

Por Redação

Em 6 de abril de 2024

A gravura mostra uma figura humana dançando, além de linhas retas e em zigue-zague — Foto: A. Rozwadowski/Cambridge A Archeological Journal (CC BY 4.0)

O sítio arqueológico de Toro Muerto, no Peru, é um dos mais importantes complexos de artes rupestres da América do Sul. Feitos há 2 mil anos, alguns dos entalhes encontrados na região aparentam ser de humanos dançando, cercados por linhas e formas geométricas.

Essas figuras despertam a curiosidade dos pesquisadores – que sugerem que elas possam ser representações de canções usadas em rituais com plantas alucinógenas. Os especialistas publicaram a descoberta no periódico Cambridge Archaeological Journal na última quarta-feira (03).

As figuras humanas dançantes, conhecidas como danzantes, alinhadas a padrões geométricos em forma de zigue-zague e pontos, seriam “metáforas gráficas de transferência para o outro mundo”. A hipótese foi estabelecida por meio da observação de semelhanças entre as gravuras de Toro Muerto e artes rupestres da cultura Tukano, que ocupam partes da Amazônia colombiana e brasileira.

Análises prévias mostram uma possível ligação entre esses desenhos e formas às experiências provocadas pelo consumo ritualístico da bebida alucinógena ayahuasca, utilizada pelas comunidades indígenas amazônicas por milênios.

Variedade de dançantes em Toro Muerto — Foto: Equipe de pesquisa polaco-peruana/JZ Wołoszyn/Cambridge A Archeological Journal (CC BY 4.0)
Variedade de dançantes em Toro Muerto — Foto: Equipe de pesquisa polaco-peruana/JZ Wołoszyn/Cambridge A Archeological Journal (CC BY 4.0)

Segundo o site IFL Science, as canções gravadas, chamadas de ícaros, eram entoadas por xamãs que conduziam o ritual para estabelecer uma “comunicação” com divindades religiosas através de uma jornada no universo espiritual. Pesquisas antropológicas com o povo Tukano apontam que, para eles, as músicas alinhadas ao efeito do ayahuasca levavam os indivíduos a um “mundo paralelo”, onde conseguiam se conectar com seus ancestrais.

Essa interpretação, quando replicada à cultura de Toro Muerto, leva a entender que as linhas onduladas ao redor dos danzantes são as canções entoadas, que agem como uma força de transferência para outro plano. “O cosmos constituiu o espaço que o xamã explorou em sua jornada visionária, enquanto as linhas onduladas e em zigue-zague poderiam ter sido visualizações de ambas as canções, levando-o também a essa realidade paralela”, explicam os autores no artigo.

Contudo, eles alertam que a hipótese ainda é muito especulativa: as gravuras “ilustravam uma esfera cultural graficamente indescritível: cantos e canções” – não sendo possível realizar interpretações precisas de uma rica cultura, que ainda deve ser explorada.

As pesquisas vêm sendo realizadas em Toro Muerto desde 2015, e já revelaram cerca de 2,6 mil pedras com pinturas rupestres sobreviventes ao tempo. Realizadas com diferentes instrumentos que se assemelham a martelos e ao cinzel (item de corte manual), a iconografia vista na região apresenta uma série de representações zoomórficas, geométricas e antropomórficas, em menor escala.

Neste momento, uma equipe composta por arqueólogos do Peru e da Polônia está conduzindo a documentação do sítio, dando início a uma nova fase de intervenções.

Fonte: Galileu Galilei

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