![](https://coximagora.com.br/wp-content/uploads/2023/01/lascaux-696x437-1.jpg)
Além de uma das manifestações de arte mais antigas conhecidas, os desenhos rupestres feitos por caçadores-coletores europeus durante a Idade do Gelo tinham um propósito inesperado. As imagens de 20 mil anos também eram um sistema de escrita primitivo que registrava informações detalhadas sobre a vida dos animais e uma espécie de calendário lunar, mostram novas pesquisas.
Foi um conservador de móveis e arqueólogo amador britânico, chamado Ben Bacon, quem fez a descoberta inicial de um “sistema de protoescrita” dessas marcas antigas encontradas em mais de 600 imagens da Idade do Gelo em toda a Europa. Depois que Bacon passou incontáveis horas tentando decodificar os pontos, formas e outras marcações – ao lado de representações de animais como renas, cavalos selvagens, peixes e bovídeos extintos –, ele consultou uma equipe de especialistas e pesquisadores independentes sobre suas ideias. Foi aconselhado a persistir no esforço, mesmo não sendo um acadêmico.
![](https://coximagora.com.br/wp-content/uploads/2023/01/espanha1.jpg)
Tony Freeth, professor honorário do University College London (UCL, no Reino Unido), foi um dos especialistas consultados por sobre sua teoria. Freeth acabou por tornar-se parceiro de pesquisa do colega amador. “Fiquei surpreso quando Ben veio até mim com sua ideia subjacente de que o número de pontos ou linhas nos animais representava o mês lunar de eventos-chave nos ciclos de vida dos animais”, disse ele à BBC.
Pioneirismo
Os pesquisadores compararam os ciclos de nascimento das versões modernas dos animais com o número de marcas para determinar que eles faziam referência a um calendário lunar e acompanhavam os ciclos reprodutivos. Para eles, a inclusão de um sinal “Y”, formado pela adição de uma linha divergente a outra, significava “dar à luz”. Essa descoberta é anterior a outros sistemas de manutenção de registros em pelo menos 10 mil anos.
O trabalho de Bacon, Freeth e de Paul Pettitt e Robert Kentridge, da Universidade de Durham (Reino Unido), bem como dos pesquisadores independentes Azadeh Khatiri e James Palmer, foi publicado na revista Cambridge Archaeological Journal.
“Os resultados mostram que os caçadores-coletores da era do gelo foram os primeiros a usar um calendário sistêmico e marcas para registrar informações sobre os principais eventos ecológicos dentro desse calendário”, disse Pettit.
Segundo Bacon, ele recorreu a informações e imagens de arte rupestre disponíveis publicamente online e por meio da Biblioteca Britânica para coletar dados e procurar padrões repetidos. “O significado das marcações nesses desenhos sempre me intrigou, então comecei a tentar decodificá-los, usando uma abordagem semelhante à que outros adotaram para entender uma forma primitiva de texto grego”, disse ele à BBC. “Foi surreal sentar na Biblioteca Britânica e descobrir lentamente o que as pessoas diziam há 20 mil anos, mas as horas de trabalho duro certamente valeram a pena.”
A equipe está empolgada para fazer novas pesquisas sobre o significado de outras marcas encontradas em desenhos rupestres. “O que esperamos, e o trabalho inicial é promissor, é que desbloquear mais partes do sistema de protoescrita nos permitirá entender quais informações nossos ancestrais valorizavam”, afirmou Bacon.