O conflito entre Rússia e Ucrânia continua impulsionando os preços de commodities agrícolas utilizadas pela indústria de alimentos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). No caso do trigo e do óleo de soja, a oferta desses produtos está diretamente relacionada ao conflito. Já os preços do café refletem a volatilidade do mercado financeiro em meio à guerra.
O preço do trigo subiu 2,3% de março a abril no mercado interno. Em um ano (abril de 2021 a abril de 2022), a alta do valor pago pelo cereal no mercado interno foi de 18,5%, atingindo R$ 1.903 por tonelada, conforme o levantamento da Abia. O preço em dólar do cereal importado avançou 1,8% no mês e 76% no ano, de acordo com o relatório da Abia.
A Abia lembra que a commodity é dos principais produtos exportados por Rússia e Ucrânia. O presidente executivo da associação, João Dornellas, ressalta em nota que o mercado global de trigo continua com “muitas incertezas” em virtude do conflito no Leste Europeu, que prejudica a oferta mundial da commodity, em meio à demanda aquecida e estoques globais reduzidos.
“Os preços internacionais permanecem com tendência de alta, elevando os do mercado interno e os dos demais países do Mercosul”, afirmou Dornellas, acrescentando que a entidade não trabalha com o risco de desabastecimento interno da commodity, já que a Argentina é o principal fornecedor do Brasil.
Os impactos da guerra também foram observados no mercado de óleos vegetais, de acordo com a Abia. A associação destaca que a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo e, consequentemente, em meio ao conflito, o preço do óleo bruto subiu, impulsionando também o biodiesel – feito à base de óleo de soja. Este cenário de demanda firme por óleos vegetais, pela elevada paridade do petróleo, e de restrições na oferta levaram os preços do óleo de soja a um patamar recorde, segundo a Abia.
De acordo com o levantamento da entidade, no mercado interno, o preço do óleo de soja caiu 1,9% em abril ante março, mas acumula alta de 37,3% em um ano, para R$ 11.189 a tonelada ao fim de abril. A entidade atribui a queda mensal do óleo à valorização do real ante o dólar na primeira quinzena do mês.
Já os preços internacionais da commodity, em dólar, ficaram estáveis em abril ante março e subiram 39,1% em relação a abril do ano passado. “Os preços tendem a permanecer elevados nos mercados interno e externo devido ao aumento da demanda mundial por óleo de soja, diante das restrições de oferta. Maior exportadora mundial, a Argentina está com restrição de produção e a Indonésia restringiu a exportação de óleo de palma, o que aumenta a demanda por óleo de soja, pressionando a oferta de óleos vegetais no curto prazo”, projeta Dornellas.
Outra commodity que tende a seguir em alta, na avaliação da Abia, é o café robusta. A entidade estima que os preços do café robusta seguirão pressionados no mercado interno. De março para abril, a cotação do café robusta subiu 6,1% no mercado interno, para R$ 13.561 por tonelada ao fim de abril.
O aumento foi impulsionado, segundo a associação, pela maior demanda pela indústria brasileira. Em um ano, os preços da commodity subiram 80,7% no mercado doméstico. “No curto prazo, os preços permanecerão em patamares altíssimos, pois a disponibilidade de cafés no mercado interno continua restrita até a entrada da nova safra, a partir de maio”, aponta o presidente executivo da Abia.
No mercado internacional, os preços do café robusta em dólar ficaram estáveis em abril e acumulam alta de 39,7% em um ano, mostra o levantamento da Abia. A associação aponta que a guerra entre Rússia e Ucrânia reflete no mercado de commodities em geral, com impacto nos preços e maior volatilidade no mercado financeiro. “A indústria de alimentos, por sua vez, é afetada pelos custos de suas matérias-primas, por isso a importância em monitorar atentamente as variações do mercado e a disponibilidade de abastecimento destes produtos”, afirmou Dornellas.
Milho em baixa
Por outro lado, o preço do milho, também uma das commodities mais utilizadas pela indústria de alimentos, recuou em abril ante março no mercado interno. A Abia atribui o arrefecimento da commodity à oferta do grão da nova safra que estimula a expectativa em relação à produção e contribui para reduzir as pressões sobre os preços.
De março para abril deste ano, as cotações do cereal recuaram 10,9% no mercado interno e somam queda de 8,6% em relação a abril do ano passado. Dornellas pondera, contudo, que a disponibilidade interna do grão pode ser afetada pela seca que atinge pontualmente o Centro-Oeste e pela chuvas no Paraná.
Já no mercado internacional, os preços do cereal em dólar subiram 3,8% em abril ante março e 29,8% em um ano, base Estados Unidos, segundo relatório da Abia.
“Os preços internacionais seguem pressionados e com grande volatilidade, diante da permanência da guerra na Ucrânia, importante país produtor e exportador da commodity. Outro fator de pressão é o atraso na semeadura nos EUA”, apontou Dornellas.
Além disso, o preço recorde do trigo é fator adicional de pressão às cotações do milho já que são substitutos na alimentação animal, destaca a Abia.