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‘Antes eram duas, hoje são quatro refeições’: os efeitos do Ensino Médio Integral na alimentação de estudantes

Por Redação

Em 21 de junho de 2024

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A adolescente Fernanda de Souza*, de 16 anos, faz hoje quatro refeições diárias, sendo que três são na escola estadual de Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI) em que ela estuda no Grajaú, Zona Sul de São Paulo. Sua alimentação é diversificada: conta com arroz, feijão, macarrão, diferentes tipos de carnes, leite, frutas e saladas. Mas nem sempre foi assim. Antes, ela se alimentava no máximo duas vezes por dia, uma no café da manhã e outra no jantar, e comia o que era possível para a mãe comprar ou o que era recebido de doações.

“Ao longo do dia, eu sentia fome. Já cheguei a pedir para minha mãe, ela dava um jeitinho, pedia na casa do vizinho, dava alguma coisa para aliviar e depois servia a janta”, lembra Fernanda, em conversa com a reportagem do Terra. “No café da manhã, eu comia pão com margarina e tomava suco de saquinho. Na janta, era sempre um arroz e feijão com salsicha, ovo ou uma carne”, conta.

Fernanda é um dos dez filhos de Angélica de Souza*, de 48 anos, que é mãe solo e, atualmente, está desempregada. Na casa de aluguel onde moram no Grajaú, hoje vivem cinco pessoas: a mãe, a Fernanda e mais três filhos, um de 15 anos, outro de 7 e um de 6. A renda mensal deles vem do Bolsa Família.

“Tem dificuldade, mas a gente vai vivendo, recebe cesta básica também ou pede aqui para o pessoal que ajuda. Não é igual na escola que a gente come tudo certinho, mas a gente consegue se alimentar. Na janta, a gente sempre se vira aqui”, diz a adolescente.

Ela passou a estudar no Ensino Integral desde o 8º ano e fica na escola das 7h às 16h. Fernanda vê isso como algo positivo não só na parte educacional, mas também na sua alimentação. “Antigamente, ficava tudo desregulado, não tinha hora certa para comer, comia qualquer coisa. Não tinha uma alimentação saudável que uma criança ou adolescente deveria ter. Hoje, eu tenho. Quando já dá a hora de comer, eu já sinto fome”. Ela considera que isso contribuiu inclusive com o seu aproveitamento escolar, melhorando as suas notas.

Diferentemente de Fernanda, Ângela Lopes, de 18 anos, sempre teve uma alimentação adequada em casa, onde mora com os pais e uma irmã mais nova, mas afirma que foi muito importante continuar com o consumo alimentar saudável enquanto frequentou o Ensino Médio em Tempo Integral em uma escola em Rio Branco, no Acre, até o ano passado, quando se formou. Ela também recorda de como também eram valorizadas as três refeições por outros colegas de classe em situação de vulnerabilidade social.

“Tenho um amigo da minha sala que sempre falava quando a gente ia para o intervalo da manhã, quando ia lanchar, que não tinha comida em casa. Ele ficava muito apressado para comer, porque queria comer bem justamente porque em casa não tinha. Infelizmente, eu via essas coisas. E a alimentação na escola ajudava esses estudantes.”

Divulgado no início de junho, o estudo Efeitos do Ensino Médio Integral sobre padrões de alimentação e estado nutricional, realizado pelas pesquisadoras Flávia Mori Sarti e Marislei Nishijima, da Universidade de São Paulo (USP), e encomendado pelo Instituto Natura, corrobora com essa percepção das estudantes sobre o potencial de influência do EMTI em outras dimensões da vida dos alunos além da educação.

Os resultados na alimentação
O estudo, que explorou indicadores relativos ao consumo de alimentos marcadores de padrões alimentares saudáveis, aponta que estudantes expostos ao Ensino Médio em Tempo Integral em 2019 apresentaram maior aderência à alimentação saudável quando comparados com estudantes do Ensino Médio regular, tanto em escolas públicas como em privadas. Segundo os resultados, o efeito da escola de EMTI é no mínimo um aumento estatisticamente significante de 0,189% no padrão de consumo de feijão, frutas e legumes e verduras.

Além disso, o estudo investigou os efeitos do Ensino Médio Integral sobre severidade das internações hospitalares por anemia, desnutrição e suas sequelas entre adolescentes residentes em municípios com diferentes densidades de escolas com essa política pública.

Os resultados indicaram redução em aproximadamente 1,5% nos dias de internação por 1.000 indivíduos nas faixas etárias de 14 a 19 anos e 15 a 17 anos de idade no período de 2015 a 2022 a partir da implantação de escolas de EMTI no País.

As regiões com maiores efeitos observados foram as regiões Norte, com redução de 11,6% entre jovens de 14 a 19 anos, e Centro-Oeste, com redução de 7,4%, nos dias de internação por anemia, desnutrição e suas sequelas. Por outro lado, os efeitos em municípios da região Sul não foram significativos.

“Com os resultados, a gente é capaz de dizer que os indivíduos que estão em municípios que têm mais escolas de Ensino Médio Integral têm maior chance de ter contato com essa política pública. Portanto, o município que tem essa iniciativa de incentivar o EMTI também está promovendo a saúde, alimentação e nutrição da sua população via alimentação escolar, uma vez que os municípios que têm maior número de escolas de Ensino Médio Integral têm menor probabilidade de ter internações mais longas por desnutrição”, explica a pesquisadora Flávia Mori Sarti.

Ainda segundo o estudo, os estados de Rondônia (-28,9%), Pará (-23,6%), Acre (-15,0%), Goiás (-9,9%) e Amazonas (-7,15%) são os que apresentaram os maiores efeitos na redução de internações por anemia, desnutrição e sequelas no período de 2016 a 2022 com a implantação de escolas de EMTI. Em contrapartida, Rio de Janeiro e Espírito Santo teriam resultado em aumento das hospitalizações entre adolescentes.

“A principal hipótese para explicação dos efeitos contraintuitivos identificados reside no potencial efeito da criminalidade sobre hospitalizações entre jovens, considerando níveis de violência registrados nos dois estados ao longo das últimas décadas, que teria precarizado suas condições de vida, principalmente entre indivíduos mais pobres”, explica o estudo.

O Ensino Médio em Tempo Integral é uma política pública que nasceu em Pernambuco em 2004 e passou a ser realidade em todo o Brasil a partir da política de fomento do Ministério da Educação (MEC), lançada em 2016. A proposta do programa é ampliar a carga horária do Ensino Médio de 4 horas para, no mínimo, 7 horas diárias (totalizando o mínimo de 35 horas semanais – do ensino médio regular e não integral é de 20). O programa faz repasses de recursos para as Secretarias de Educação adequarem às escolas ao tempo integral e busca diminuir a evasão escolar.

Conforme dados do último Censo Escolar, de 2023, 33,2% (6.640) das escolas de Ensino Médio oferecem Ensino Médio em Tempo Integral. No total, 18,1% de matrículas correspondem ao EMTI, ou seja, 1.100.624 estudantes estão matriculados nessa modalidade.

Embora o programa tenha sido criado com o propósito de ampliar a jornada escolar, a implantação do Ensino Médio em Tempo Integral vem evidenciando resultados positivos em outras áreas. “Quando, no estudo, a gente traz que ele tem o efeito de aumentar o acesso a uma alimentação mais saudável, de diminuir o risco de internação por dia de nutrição grave, isso mostra que, mesmo sendo uma política educacional, tem um efeito maior do que só a educação. Tem um efeito que vai ser de formação de recursos humanos para o Brasil, recursos humanos saudáveis e com melhor nível educacional para o País”, afirma a pesquisadora Flávia.

De acordo com dados divulgados no ano passado pelo Centro de Evidências da Educação Integral, parceria entre Insper, Instituto Natura e Instituto Sonho Grande, para cada estudante que frequentou o EMTl, o benefício socioeconômico da política é seis vezes maior que o seu custo.

Outros estudos do Instituto Natura, que atua com o apoio à implantação e expansão do EMTI em estados brasileiros, ainda indicam que, em São Paulo, por exemplo, o Ensino Médio Integral reduziu em 10,6 pontos percentuais as chances de um estudante deixar a escola. Já em Pernambuco, a política pública reduziu em até 50% as taxas de homicídios entre jovens de 15 a 17 anos. “O tempo integral vai para além da aprendizagem e a gente gosta de colocar isso bem na rua sempre”, ressalta Yuri Oliveira.

“As políticas educacionais têm um efeito muito importante em várias dimensões da vida do adolescente e depois da população adulta. Porque esses adolescentes, quando se tornarem adultos, vão valorizar isso e vão trazer isso para os filhos deles também no futuro”, acrescenta Flávia.

Fonte: Terra/ME05

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