O músico Gilberto Gil, de 79 anos, foi eleito na quinta-feira (11/11) para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Dos 34 acadêmicos que voltaram presencial ou virtualmente, 21 votaram no artista.
Ele sucederá o ocupante anterior da cadeira, o jornalista Murilo Melo Filho, que morreu em 27 de maio de 2020. Concorriam à vaga também o poeta Salgado Maranhão e o escritor Ricardo Daudt.
“Gilberto Gil traduz o diálogo entre a cultura erudita e a cultura popular. Poeta de um Brasil profundo e cosmopolita. Atento a todos os apelos e demandas de nosso povo. Nós o recebemos com afeto e alegria”, declarou em comunicado o presidente da ABL, o acadêmico Marco Lucchesi.
No Twitter, Gil escreveu: “Muito feliz em ser eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras. Obrigado a todos pela torcida e obrigado aos agora colegas de Academia pela escolha”.
Nascido em Salvador, na Bahia, o artista começou a se envolver com a música nos anos 1950. Foi um dos expoentes do movimento cultural Tropicália nos anos 1960 e exilado durante a ditadura militar. Com a redemocratização, o baiano que precisou se refugiar em Londres para escapar do autoritarismo décadas antes se tornou ministro da Cultura, ocupando o cargo de 2003 a 2008.
Na quinta-feira passada (4/11), a atriz Fernanda Montenegro foi eleita para a cadeira 17 da AB. Nas próximas semanas, até dezembro, haverá mais três eleições.
Disputas acirradas
A ABL foi fundada em 20 de julho de 1897 e é sediada na cidade do Rio de Janeiro. Ela tem 40 membros, e quando algum deles morre, isto vira notícia não só pela vida e obra do acadêmico, mas também pela abertura de uma cadeira para aspirantes a “imortais”.
Escrevendo a Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector afirmou que “apesar do grande respeito” pela Academia, “jamais aceitaria entrar nela” por isso.
“A gente dá um espirro, já pensam que estamos morrendo e querem a nossa vaga”, diz um trecho transcrito no livro Todas as Cartas (2020).
Os candidatos interessados devem enviar uma correspondência, telegrama ou email ao presidente da ABL. Para ser eleito, o postulante deve ter metade dos votos mais um. Se esta quantidade não for atingida, a eleição é encerrada, e inicia-se uma nova fase de inscrições.
Em valores anteriores à pandemia de coronavírus, um acadêmico podia receber até R$ 12 mil, incluindo uma ajuda de custo mensal e plano de saúde.
De acordo com o estatuto da ABL, “só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário”.
Enquanto Gil concorreu com mais dois postulantes, já houve na ABL eleições mais acirradas — a maior delas foi em 21 de agosto de 2008, com 19 inscritos. Venceu o jornalista Luiz Paulo Horta (1943-2013).
Entretanto, muitos autores célebres tentaram mas não conseguiram conquistar uma cadeira, como Monteiro Lobato, Lima Barreto e Mário Quintana.