O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou nesta quinta-feira (6) seu antecessor, Donald Trump, de “perdedor” e “mentiroso” e o acusou de representar uma ameaça contínua à democracia, em discurso no aniversário de um ano do violento ataque ao Capitólio.
Logo após o discurso, Trump reagiu à fala de Biden e divulgou um comunicado em que acusa o presidente americano de “tentar dividir ainda mais a América” e diz que “todo esse teatro político é apenas uma distração para o fato de Biden ter falhado completa e totalmente”.
Seguidores de Trump invadiram a sede do Congresso americano em 6 de janeiro de 2021 para tentar reverter sua derrota eleitoral. O ataque deixou cinco mortos, inclusive um policial, e mais de 700 pessoas já foram presas e indiciadas.
“Para dizer o obvio, há um ano, neste local sagrado, a democracia foi atacada. A nossa constituição enfrentou a sua maior ameaça”, começou Biden em seu discurso. Ele afirmou que quem salvou o Estado de direito foi a polícia e que “nós, o povo, aguentamos e prevalecemos”.
Biden, que em nenhum momento pronunciou o nome de Trump e o chamou de “ex-presidente derrotado”, afirmou que o então ocupante da Casa Branca “não fez nada durante horas enquanto o Capitólio estava cercado”.
O discurso de um ano da invasão ao Capitólio marca uma forte escalada na estratégia do presidente americano em relação aos distúrbios, de culpar Trump diretamente por seu papel no ataque sem precedentes à democracia americana.
Biden alertou que o prejuízo causado por Trump antes da invasão — em um discurso enfurecido no qual afirmou falsamente que sua derrota era resultado de fraude generalizada — continua. Disse também que as mentiras que conduziram à raiva e à loucura do ataque não acabaram.
‘Nem durante a guerra civil
O presidente americano chamou as pessoas que entraram no prédio do Congresso de invasores, que violaram o local com bandeiras que simbolizavam as causas para destruir os EUA. “Nem durante a guerra civil isso aconteceu. Mas aconteceu aqui em 2021″.
Biden listou os atos que os invasores fizeram: quebraram vidros, chutaram portas, jogaram extintores nos policiais, pisotearam os agentes e defecaram nos corredores. “Nós vimos com os nossos próprios olhos, ameaçaram a vida da presidente da Câmera, queriam enforcar o vice-presidente dos EUA”.
Ele, então, começou a criticar Trump.“O ex-presidente, sentado em uma sala de jantar vendo tudo na TV, não fez nada por horas”.
Mentiras contadas por Trump
Biden diz que há três mentiras que foram contadas pelo seu antecessor:
- O dia da eleição não representou a vontade dos americanos, mas, sim o dia da invasão;
- Os resultados das eleições de 2020 não eram confiáveis;
- Quem invadiu o prédio do Congresso eram patriotas.
Ele, então, criticou leis estaduais que dificultam o acesso ao voto. De acordo com Biden, isso é um reflexo da derrota de 2020 —os republicanos deveriam se reciclar, procurar novas ideias, mas, ao invés disso, tentam simplesmente dificultar a votação.
Ao defender os resultados das eleições, ele afirmou que a votação foi mantida em todas as instâncias jurídicas, estaduais e nacionais. Biden chamou a atenção para um fato: as cédulas de votação têm espaço para distintos temas, mas só foram criticados os votos para presidente.
“O ex-presidente estava em dúvida de que iria vencer e construiu essa mentira por meses. Não era baseado em fatos. Ele queria uma desculpa para cobrir a verdade. Ele não é um ex-presidente, ele é um ex-presidente derrotado. Não há nenhuma prova de que os resultados eram errados.”
Por fim, Biden disse que os invasores não eram patriotas.
O presidente americano, então, criticou a China e a Rússia. Ele afirmou que, nesses dois países, os líderes “apostam que os dias da democracia estão contados”. “Eles apostam que nós, nos EUA, nos tornaremos mais como eles. Que os EUA vão ser um lugar para autocratas”.
Biden refutou essa ideia e disse que, nos Estados Unidos, o poder é transferido pacificamente, sem armas, e que “todos são criados iguais”.