Recadastramento de indígenas aldeados e ribeirinhos, iniciado nessa semana pela Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos (Sead), dará para os povos originários sul-mato-grossenses um “crachá QR code” para identificação na costumeira entrega de cestas alimentares fornecidas pelo Governo do Estado.
Esse processo de “digitalização indígena”, segundo o Governo em nota, busca atualização da base de dados; modernização e facilitação na entrega para uma “destinação correta de alimentos” através do controle digital.
Aldeias de Sidrolândia passaram a receber ainda ontem (14) funcionários do programa Mais Social – devidamente identificados, como frisa a titular da Sead, Patrícia Cozzolino -, que nessa semana estendem o trabalho até Dois Irmãos do Buriti.
Segundo a secretária, o recadastramento dos povos indígenas segue um dos pilares do Governo de Mato Grosso do Sul: “tornar os serviços digitais, modernos e cada vez mais transparentes”.
“É garantir que o alimento chegue a essas pessoas que mais precisam e ter esse controle digital”, expõe a titular da Sead em nota.
Basicamente, os cartões com QR code servirão como uma espécie de crachá, com o nome do programa “Mais Social In Natura MS”, logo do governo diferenciados apenas pelas colorações (azul e verde).
Isso porque, os de coloração azul trazem a identificação do beneficiário em si, contendo:
- Foto;
- Nome e iniciais;
- Etnia e
- Número de NIS.
Já os de cor verde, servirão para que pessoas autorizadas pelo titular possam retirar o alimento, caso o beneficiário não possa comparecer, contendo as seguintes informações:
- Nome e iniciais;
- Foto (opcional)
- Etnia
- Número de RG (Registro Geral)
Cesta ‘culturalmente incorreta’
Conforme o Governo do Estado, as cestas entregues em 86 aldeias de 27 municípios seguem trazendo os mesmos itens há tempos, contendo:
- Arroz,
- Feijão,
- Sal,
- Macarrão,
- Leite em pó,
- Óleo,
- Açúcar,
- Fubá,
- Charque,
- Canjica e
- Erva de tereré.
Originária do povo Terena, da Aldeia Bananal, a chefe sul-mato-grossense de renome – com partições inclusive como especialista convidada no reality culinário MasterChef BR -, Kalymaracaya Nogueira, já comentou ao Correio do Estado o quanto os alimentos ofertados pelo Governo fogem da cultura tradicional.
Segundo a chefe, em entrevista ao Correio do Estado em agosto do ano passado, a cesta oferecida pelo Governo do Estado aos indígenas de Mato Grosso do Sul só continha dois itens “culturalmente corretos”.
Sendo que, à época, o fubá e a farinha de mandioca eram os únicos corretos na cesta conforme a chefe, agora, o segundo nem aparece na relação atualizada dos itens fornecidos pelo Governo do Estado.
“Culturalmente correto não porque alguns itens são causadores de doenças como: sal, sardinha enlatada (hipertensão); açúcar, trigo (diabete) óleo de soja (colesterol)”, frisa Kalymaracaya.
Conforme a chefe, estudos indígenas já sinalizavam que era viável para esses povos originários produzirem os próprios alimentos, devido ao trabalho tradicional junto à terra; por possuírem as sementes orgânicas e terem, principalmente, o conhecimento ancestral necessário para o cultivo.
Ainda que os povos originários já pratiquem atividades como: a produção de milho; extração de castanhas do cerrado; plantações de abóboras, não há uma política pública em destaque que fomente essas práticas.
“Mas o que o governo busca fazer: colocam para dar essas cestas justamente para ganhar algo com isso, é mais importante para eles a entrega do que nós mesmos trabalharmos a terra”, complementa ela.
Fonte: Correio do Estado