
O preço do ouro atingiu a marca de US$ 3.000 (R$ 17.000) por onça (31 gramas) pela primeira vez na história, à medida que a demanda pelo metal precioso aumenta em meio à incerteza econômica sobre o impacto de uma guerra comercial global.
O ouro atingiu um recorde de US$ 3.004,86 por onça nesta sexta-feira (14/3), com os preços subindo 14% desde o início de 2025.
O ouro é visto como um ativo mais seguro pelos investidores e é frequentemente procurado em tempos de instabilidade econômica.
A crescente guerra comercial entre os Estados Unidos e muitos de seus maiores parceiros comerciais agitou os mercados financeiros e levantou preocupações sobre o impacto nas economias e consumidores em todo o mundo.
A implantação de tarifas nos Estados Unidos sobre produtos importados do exterior alimentou temores de inflação de preços, o que levou os investidores recorrerem ao ouro.
Quando tarifas são impostas a produtos, as empresas enfrentam custos extras, que devem ser repassados por meio de aumento nos preços dos produtos vendidos aos consumidores – aumentando o custo de vida.
Na quinta-feira (13/3), o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou implantar uma tarifa de 200% sobre qualquer álcool que entre nos Estados Unidos a partir da União Europeia (UE), na mais recente reviravolta da guerra comercial.
O anúncio foi uma resposta aos planos da UE de criar um imposto de 50% sobre as importações de uísque produzido nos Estados Unidos como parte da primeira retaliação do bloco às tarifas gerais de Trump sobre todas as importações de aço e alumínio para os EUA de qualquer país.
O presidente dos EUA também aumentou as taxas sobre as importações chinesas para os EUA para pelo menos 20%.
“Em um cenário de incerteza geopolítica e mudanças tarifárias em andamento, o apetite por ouro continua forte”, diz Suki Cooper, analista de metais preciosos do Standard Chartered.
Victoria Hasler, chefe de pesquisa de fundos da Hargreaves Lansdown, sugeriu que havia dois principais impulsionadores por trás do atual aumento do preço do ouro.
“Entre as tarifas de Trump e os comentários nas redes sociais, além das tensões em andamento no Oriente Médio e na Rússia/Ucrânia, a incerteza é alta e parece estar aumentando”, disse ela.

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Incertezas mexem com mercado
“Os mercados odeiam incertezas. Essa dinâmica ajudou a levar o preço do ouro a novas máximas.”
O segundo grande impulsionador foram os bancos centrais comprando ouro, disse Hasler. Mas as razões exatas para isso eram difíceis de determinar. “É provavelmente seguro assumir que pelo menos parte do motivo seja o desejo de diversificar as reservas para longe dos dólares americanos.
“Ambos os fatores acima permanecem intactos e não consigo vê-los diminuindo num futuro próximo.”
Picos e quedas no preço do ouro ocorreram em alguns dos principais momentos da história econômica. No início da crise financeira global em 2007, os investidores compraram ouro como um ativo de refúgio, o que levou a um aumento em seu preço.
Russ Mould, diretor de investimentos da AJ Bell, citou números do World Gold Council (Conselho Mundial do Ouro), que mostraram que os bancos centrais adicionaram cerca de 1.045 toneladas de ouro às suas reservas em 2024 – o terceiro ano consecutivo em que mais de 1.000 toneladas foram compradas.
Ele disse que estávamos em uma “era em que o ouro está realmente começando a brilhar”.
Desde que o metal caiu abaixo de US$ 1.200 (R$ 6870) por onça no final de 2018, Mould disse que os preços “marcharam inexoravelmente mais alto”, impulsionados por vários fatores, incluindo a pandemia de covid-19 e maiores déficits, levando investidores a “se aquecerem para o ouro mais uma vez”.
“Qual dessas questões é agora o principal impulsionador do renascimento do ouro é difícil de adivinhar, especialmente porque as tarifas de Donald Trump estão provocando um debate sobre o quão inflacionárias (ou estagflacionárias) elas podem provar ser. E quão eficazes elas podem ser no financiamento dos cortes de impostos esperados pelo novo presidente dos EUA”, disse ele.
Fonte: BBC