Uma pesquisa realizada com 150 pacientes hospitalizados que sofriam de Covid-19 grave no centro médico-acadêmico Michigan Medicine, nos Estados Unidos, revelou que 73% dos indivíduos experienciaram episódios de ‘delirium’ ou alucinações enquanto permaneceram internados.
Os dados apurados no início da pandemia da Covid-19, mais precisamente entre 1 de março e 31 de maio de 2020, foram recentemente divulgados na publicação científica BMJ Journals e citados pela revista Galileu.
Porém, não é a primeira vez que é estabelecida uma relação entre a infeção pelo novo coronavírus e episódios de confusão mental ou nos casos mais graves de alucinações.
Já em maio do ano passado, um estudo composto por 3.550 pacientes sugeria que pessoas internadas com o novo coronavírus SARS-CoV-2 podiam experienciar delírios, confusão e agitação mental. Ainda que até ao momento os cientistas não estejam completamente certos sobre que mecanismo possa estar por trás destas aflições.
E de modo a tentar discernir com maior precisão o porquê da ocorrência destes casos de declínio cerebral, agora os investigadores norte-americanos analisaram registros médicos de pacientes e basearam-se em informações facultadas através de entrevistas por telefone após os doentes afetados receberem alta hospitalar, de forma a tentar encontrar um padrão comum entre os indivíduos que haviam experienciado episódios de alucinações durante o internamento.
De acordo com os acadêmicos, confirma-se que a própria gravidade da doença está diretamente relacionada ao aumento do risco de padecer do quadro. Isto é, os pacientes que sofreram de disfunção cognitiva tinham passado mais tempo em Unidades de Cuidados Intensivos, necessitaram de ser sujeitos a ventilação mecânica por vários dias e estavam ainda mais propensos a precisar de hemodiálise.
Também, já era de conhecimento que a Covid-19 em si pode provocar a diminuição drástica de níveis de oxigênio no cérebro, assim como intensificar o risco de incidência de coágulos sanguíneos, que por sua vez podem gerar um comprometimento cognitivo.
Mais ainda, destaca a revista Galileu, os investigadores detectaram que os marcadores inflamatórios nos pacientes que experienciaram alucinações estavam bastante elevados durante o período de internação, potencialmente indicando que a confusão e agitação podem ter sido igualmente o resultado da inflamação cerebral.
Por fim, uma correlação direta entre os episódios de delírio e a administração de sedativos durante o estudo também foi notória. Tal, indicando que os doentes com Covid-19 que experienciaram um estado de confusão mental eram sedados mais frequentemente e, muitas vezes, em doses mais altas.
“Descobrimos que os pacientes com Covid-19 grave eram inerentemente mais delirantes e agitados no início do estudo, talvez levando ao uso de mais sedativos”, disse Phillip Vlissides, médico do Departamento de Anestesiologia do centro médico acadêmico Michigan Medicine e autor da pesquisa, num comunicado emitido à imprensa.