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Por que brasileiros são tão fascinados por reality shows

Por Redação

Em 19 de janeiro de 2022

Foto: Divulgação

A 22ª edição do Big Brother Brasil estreou nesta segunda-feira (17/01) com a maior audiência da TV brasileira em 2022 e cerca de 5,6 milhões de telespectadores por minuto apenas na cidade de São Paulo.

Antes mesmo da exibição do primeiro episódio, o programa já havia mobilizado multidões nas redes sociais, com discussões acaloradas sobre os participantes.

No ar pela TV Globo há duas décadas, o programa passou por diversas alterações para se manter vivo na grade e já se tornou o reality mais longevo do país. Seu sucesso é inegável e mesmo quem não o assiste regularmente sabe quando está no ar.

Na edição de 2021, o programa atingiu um alcance médio diário de 39,8 milhões de pessoas e quebrou o recorde de maior participação de sua história, com 3,6 milhões de votos por minuto.

A popularidade não foi suficiente para bater o recorde de audiência da televisão brasileira, que pertence à novela ‘Selva de Pedra’ de 1986, mas impressiona diante da enorme variedade de produtos de entretenimento disponíveis hoje.

O atual sucesso do reality brasileiro se torna ainda mais impressionante quando comparado às versões estrangeiras do mesmo programa. A última edição do Big Brother Estados Unidos, por exemplo, teve como recorde uma audiência de 3,33 milhões de pessoas, enquanto a versão alemã terminou com uma média de 890.000 telespectadores em 2020.

Mas afinal, por que os brasileiros são tão fascinados pelo reality show?

Diversos estudiosos das áreas de comunicação, marketing e psicologia já se debruçaram sobre o gênero televisivo em que pessoas comuns ou celebridades vivem seu dia a dia e enfrentam desafios específicos.

Todos eles concordam que a principal explicação por trás da atração despertada está na identificação com os participantes.

‘Gente como a gente’

Uma pesquisa desenvolvida pelo professor de Psicologia Jonathan Cohen, da Universidade de Haifa, em Israel, mostrou que os telespectadores dos reality shows desenvolvem grandes sentimentos de empatia pelos participantes e, muitas vezes, se reconhecem em suas escolhas e ações.

O experimento entrevistou 183 pessoas sobre 12 reality shows diferentes, incluindo produções que contam com versões em diversos países, como Big Brother, MasterChef e Supernanny. Os resultados mostraram que quanto mais as pessoas gostam de um programa, maior é a identificação e a vontade de um dia fazer parte da atração.

“No passado, muitos assumiam que o interesse pelos reality shows estava ligado a uma espécie de voyeurismo, ou gosto por presenciar situações de humilhação e dificuldade”, diz Cohen.

“Mas pesquisas mais recentes mostram que os telespectadores se veem nas situações vividas pelos participantes, torcem por eles e compartilham o entusiasmo da competição”.

Segundo Cohen, os realities por vezes levam vantagem sobre peças de ficção justamente por se tratarem de obras da vida real. “O fascínio está justamente no fato de serem pessoas reais, que correm riscos reais e sentem emoções reais”, diz. “É difícil assistir às provas e desafios sem imaginar como nos sairíamos no lugar dos participantes”.

“As pessoas tendem a se projetar naqueles participantes com quem mais se identificam”, diz Mariana Munis, professora de Marketing e especialista em Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas. “Justamente por isso, os competidores mais carismáticos e honestos acabam se transformando quase que em fenômenos”.

As últimas edições do Big Brother Brasil ainda adicionaram um elemento a mais ao jogo com a inclusão de celebridades entre os “brothers”. “Para os fãs daquele artista ou influencer é uma oportunidade única de ver seu ídolo em situações do dia a dia”, avalia a especialista.

Herança brasileira

Entre os brasileiros, há também um elemento de tradição que colabora para o sucesso dos reality shows. O primeiro programa do gênero produzido e exibido no país foi lançado pela MTV em 2000 e chamava-se 20 e Poucos Anos. A atração, que mostrava a vida efervescente de jovens no início da vida adulta, durou três temporadas.

No mesmo ano, a TV Globo lançou o programa No Limite, inspirado no americano Survivor. A emissora ainda adquiriu os direitos para produzir a versão brasileira do Big Brother, que deveria estrear como o primeiro reality de confinamento do Brasil. Poucos meses antes do lançamento, porém, o SBT saiu na frente com Casa dos Artistas.

Mas muito antes de qualquer rivalidade entre canais de televisão, os brasileiros já haviam sido fisgados pelo entretenimento que se baseia na imprevisibilidade e antecipação.

A paixão pelos programas seriados, cujos capítulos são exibidos aos poucos, data dos folhetins. As histórias de ficção e romance publicadas de forma parcial e sequenciada em jornais e revistas de todo o país atingiram seu pico de popularidade no final do século XIX e serviram de inspiração para as rádio e telenovelas.

“Os realities conservam um elemento que era central aos folhetins e que também foi herdado pelas novelas que é a imprevisibilidade”, diz Elmo Francfort, pesquisador da televisão brasileira e professor do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Anhembi Morumbi. “Os brasileiros foram fisgados pelos sentimentos de curiosidade e antecipação despertados por esse gênero e adoram torcer pelos personagens, sejam eles fictícios ou reais”.

Feitos para encantar

Para além de qualquer fascínio ou tradição, as emissoras televisivas usam e abusam de técnicas de marketing para atrair telespectadores. A fórmula do sucesso, baseada em boas narrativas, um elenco diversificado e muita propaganda, faz com que seja difícil resistir às espiadinhas.

“Tudo que envolve o processo de produção de um reality show é pensado para satisfazer as necessidade e desejos do consumidor”, diz a professora Mariana Munis. “As provas precisam ser emocionantes, os participantes devem ser pessoas muito diferentes entre si para causar conflito e até mesmo o tempo de duração do programa é planejada para que haja uma história envolvente, com começo, meio e fim”.

Para as redes de televisão, o formato também costuma ser uma aposta certeira e barata. “É mais barato produzir um reality do que uma novela, em que se gasta muito com atores, cenários e edição”, diz Elmo Francfort, da Universidade Anhembi Morumbi. “Além disso, os programas costumam seguir a mesma fórmula em todas as suas edições, garantindo uma previsibilidade de sucesso”.

Relevância social

E se no passado muitos realities eram considerados fúteis e perda de tempo, esses programas ganharam mais credibilidade ao discutirem temas de relevância social. O Big Brother, em especial, movimentou grandes debates em suas últimas edições que alavancaram sua audiência.

Por meio de atitudes controversas dos participantes, alguns deles acusados de machismo, racismo e xenofobia, as redes sociais foram inundadas de textos e vídeos que contribuíram para manter a população mais informada.

A própria Globo percebeu a relevância dessas discussões e passou a dar mais visibilidade a elas, ao passo que abandonou práticas e quadros que sexualizavam algumas das participantes. “O público passou a encarar o programa de forma diferente graças a esses debates. Ao mesmo tempo, telespectadores mais jovens e que não costumam assistir televisão aberta foram atraídos”, avalia Francfort.

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