Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) revelam que o número de jovens com planos de saúde caiu nos últimos anos no País, enquanto o de idosos, em especial os mais velhos, aumentou de forma expressiva no mesmo período.
Ao longo da próxima semana, o jornal Correio do Estado publicará uma série de reportagens sobre o tema, com diversos aspectos que influenciam na saúde da população de Mato Grosso do Sul.
Segundo o sociólogo Paulo Cabral, se nada for feito quanto ao desequilíbrio de clientes, os custos podem aumentar a ponto de o plano de saúde passar a ser um artigo de luxo em um futuro bem próximo.
“A gente observa uma redução da quantidade de usuários nos planos de saúde e vários fatores levam a essa situação”, pontuou.
De acordo com Paulo Cabral, o Sistema Único de Saúde (SUS) representa a possibilidade de o cidadão ser atendido pelo Estado.
“Todos os brasileiros, todas as pessoas que moram no Brasil têm direito ao atendimento pelo SUS, portanto, há uma garantia de as pessoas serem atendidas”, argumentou.
Ele recorda que existe uma situação a respeito do SUS porque, especialmente nos últimos quatro anos, durante o governo do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro (PL), a qualidade foi largamente perdida.
“Entretanto, apesar do governo negacionista, houve uma grande atuação do SUS no que diz respeito à Covid-19”, ressaltou.
A despeito disso, completa o sociólogo, outros segmetos da área de saúde sofreram perdas, principalmente a vacinação.
“A queda da imunização da população brasileira é um caso clássico. Tínhamos uma cobertura de 95% e, após o governo Bolsonaro, caiu 65%”, alertou.
Então, prossegue Paulo Cabral, há uma clara situação de comprometimento do SUS, tanto que a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, vem atuando no sentido de reorganizar o sistema.
“O que é possível porque as pessoas estão preocupadas e elas sempre estiveram comprometidas com a causa da vacinação”, projetou.
De acordo com ele, diante disso tudo, atualmente o País tem um quadro de queda do número de jovens clientes de planos de saúde privados e o aumento da quantidade de idosos.
“Isso é um fator quase que óbvio, que é a falta de dinheiro em razão da crise econômica, impedindo que as pessoas consigam pagar pelos planos de saúde. Não podemos nos esquecer de que as operadoras aumentam os valores dos planos e o salário das pessoas nem sempre acompanha, fazendo com que o que antes era essencial se torne um artigo de luxo no futuro”, alertou.
O sociólogo acredita que, com a probabilidade de melhora das condições econômicas, o quadro pode mudar, porém, no cenário atual, os jovens não se interessam por gastar com planos de saúde.
“Os jovens não se interessam porque a probabilidade de adoecer é muito baixa, tanto que o custo das mensalidades dos planos de saúde para os mais novos é muito menor em razão da falta do risco de doenças graves, então, eles sentem-se seguros, agradecem às operadoras dos planos de saúde e pulam fora”, ressaltou.
ANS
Por isso, conforme o levantamento da ANS, a perspectiva dos usuários de planos de saúde é sombria, já que o perfil da população está mudando, com o número de idosos crescendo vertiginosamente e os planos querendo cobrar cada vez mais caro deles.
Para a maioria da população, os planos de saúde são como uma poupança, ou seja, os clientes gastam menos quando jovens para gastar mais quando idosos, entretanto, as operadoras de planos de saúde não previram isso e, agora, tentam aplicar aumentos descabidos para compensar.
O fenômeno apontado pela ANS amplia o desafio de equilibrar as contas do setor para operadoras de saúde e usuários, escancarando a urgência de alterações no modelo de prestação de serviço, que deve ter foco maior no acompanhamento de doenças crônicas e prevenção de complicações.
Se nada for feito, os custos podem aumentar a ponto de o plano de saúde passar a ser proibitivo, afinal, historicamente, o maior volume de jovens entre os clientes ajuda a compensar o aumento de custos que acontece durante o envelhecimento, período da vida em que os beneficiários utilizam mais os planos.
No Brasil, o envelhecimento populacional acontece de forma mais acelerada do que em outros países que passaram pelo processo, o que explica o aumento de clientes idosos. Por outro lado, as crises econômicas de 2015 e dos anos de pandemia reduziram o número de empregos formais e, consequentemente, de beneficiários mais jovens.
Isso porque 83% dos cerca de 50 milhões de brasileiros que têm convênio médico são clientes de planos empresariais. No levantamento da ANS, o número de beneficiários na faixa etária dos 20 aos 39 anos caiu 7,6% entre 2013 e 2023, enquanto o de maiores de 60 anos saltou 32,6% no período, índice muito superior à alta de 5,3% no total de clientes de convênios médicos.
A faixa etária com a maior queda foi a dos 25 aos 29 anos, com redução de 18,1% nos últimos dez anos. Já na outra ponta, o grupo de idosos de 70 a 74 anos aumentou 41,9%. A segunda faixa etária com maior aumento foi a de clientes com 80 anos ou mais – alta de 39,5%.
Com isso, a proporção de idosos entre o total de clientes de convênios passou de 11,4% para 14,4% na última década.
Fonte: Correio do Estado