Depois de passar próximo à Terra na última semana, proporcionando vistas impressionantes o recém-descoberto “cometa verde” – cujo nome científico é C/2022 E3 (ZTF) – está chegando perto de Marte. E esse encontro será transmitido ao vivo pela internet.
Desde quinta-feira (9), o objeto já pode ser visto nos arredores do Planeta Vermelho no céu noturno, perto do qual permanecerá pelas próximas quatro ou cinco noites. Isso significa uma excelente oportunidade de observação do cometa usando binóculos ou através de um telescópio, já que Marte é um ponto de referência fácil de encontrar.
Se você preferir assistir no conforto de sua casa, pelo menos duas lives estão programadas no YouTube.
Uma delas será conduzida pelo astrônomo Gianluca Masi, do Virtual Telescope Project (Projeto Telescópio Virtual), um serviço prestado pelo Observatório Astronômico Bellatrix, com sede em Roma, na Itália.
O horário da transmissão, no entanto, é um pouco chato: será a partir das 4h da madrugada (pelo fuso de Brasília). Isso porque eles querem aproveitar o momento em que o cometa estará a aproximadamente um grau de distância de Marte, o que deve proporcionar imagens incríveis.
Essa aproximação, vale destacar, é apenas aparente. De acordo com Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, Marte e o cometa verde estarão, na verdade, a cerca de 80 milhões de km um do outro.
Já a outra transmissão começa bem mais cedo – e tem a vantagem de ser em português. A partir das 19h, o Observatório Nacional fará uma nova edição do evento virtual de observação astronômica “Céu em sua casa: observação remota”. Na ocasião, astrônomos amadores e profissionais parceiros do projeto exibirão imagens comentadas do cometa.
NASA escolhe encontro de dois cometas como imagem astronômica do dia
Diariamente, desde 1995, a NASA divulga a chamada APOD (sigla em inglês para “Imagem Astronômica do Dia”). O projeto, em parceria com a Universidade Tecnológica de Michigan, nos EUA, consiste em um website no qual a cada dia uma foto diferente do Universo é publicada, acompanhada de uma curta descrição feita por um astrônomo profissional.
A imagem escolhida nesta sexta-feira (10) é de autoria do astrofotógrafo alemão Stefan Bemmerl, que flagrou o encontro entre dois cometas no espaço: o C/2022 E3 (ZTF) e o C/2022 U2 (ATLAS).
“Capturado na noite de 6 de fevereiro de um observatório de jardim na Floresta Bávara da Alemanha, o campo estrelado de vista em direção à constelação Auriga abrange cerca de 2,5 graus”, diz a descrição da foto. “Descobertos por projetos de levantamento do céu em 2022 (o Zwicky Transient Facility e o Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System, respectivamente) esses cometas de longo período estão de saída, atingindo o periélio no mês passado”.
De acordo com o descrito, o cometa ATLAS, “muito mais fraco”, fez sua maior aproximação com a Terra em 29 de janeiro, chegando a uma distância de cerca de 4,6 minutos-luz, em comparação a meros 2,4 minutos-luz que o cometa ZTF alcançou em 2 de fevereiro.
Diferentemente do ZTF, o cometa ATLAS não tem caudas bem desenvolvidas, mas ambos ostentam comas de cor esverdeada.
O cometa da Era do Gelo
Chamado de “cometa verde” graças a uma reação química que emite um brilho esverdeado em torno da bala de canhão cósmica, o corpo celeste foi visto pela primeira vez em março de 2022, vindo em direção à Terra a partir da Nuvem de Oort, uma coleção de objetos gelados no Sistema Solar externo.
Sua recente passagem próxima da Terra foi um momento muito especial, principalmente em razão de seu longo período de órbita solar. Segundo o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, esse trajeto dura cerca de 50 mil anos, de modo que a última vez que ele passou tão perto do nosso planeta foi no Paleolítico Superior.
Isso significa que a oportunidade anterior mais recente que os humanos tiveram de observá-lo foi durante a última Era do Gelo. Nessa época, os últimos neandertais ainda estavam vivos, já que eles foram extintos cerca de 10 mil anos após o último perigeu, quando os primeiros homo sapiens estavam surgindo.