O holandês Boyan Slat tinha 16 anos quando, em uma viagem para fazer mergulho submarino na Grécia, encontrou mais sacolas plásticas do que peixes no mar. Da experiência ele tirou inspiração para criar um dispositivo que recolhe o lixo plástico do oceano.
Hoje com 27 anos, Boyan virou CEO da iniciativa The Ocean Cleanup, que garante ter meios para retirar 80% do plástico no mar até 2030, e cerca de 90% até 2040. A promessa consta em uma carta enviada pelo jovem à organização da Conferência do Oceano da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece em Lisboa até esta sexta-feira (1).
Com a criação, o ativista ganhou fama: em 2014 ele recebeu o título de “Campeão do Planeta” da ONU, o que lhe rendeu a aparição em diversas listas de jovens promissores, como a Forbes 30 Under 30 e a da revista Time. No site da iniciativa que ele comanda, há detalhes sobre o sistema de limpeza, mas também são vendidas camisetas e garrafas reutilizáveis com sua marca – Boyan virou quase uma celebridade.
O principal sistema criado por ele funciona como uma espécie de barragem móvel, que é levada por dois barcos. Esse coletor de lixo vai se enchendo conforme os barcos avançam a uma velocidade determinada, e conforme o plástico vai se movendo por conta das correntes marítimas
Quando fica cheia, essa espécie de rede é fechada, selada e levada até o barco, onde é descarregada. Depois que os navios que operam o sistema ficam cheios de plástico, o lixo é levado até um centro de reciclagem em terra firme.
Para encontrar os locais ideais para limpeza, a ONG utiliza modelos matemáticos que preveem em quais lugares do oceano o plástico tem mais chances de se acumular.
Além deste sistema de coleta no mar, a ONG comandada pelo holandês também desenvolveu um equipamento movido a energia solar para retirar o lixo dos rios antes mesmo que ele chegue até o oceano.
Chamados de “interceptores”, esses equipamentos também funcionam criando barreiras para o lixo plástico. Atualmente, a ONG já tem dez dessas sistemas funcionando em rios de diferentes lugares do mundo, da Jamaica à Indonésia, passando por países como Malásia e República Dominicana.
Sistema em ação
Boyan Slat tinha apenas 18 anos quando inventou, em 2013, o primeiro protótipo do sistema de limpeza dos mares. Logo depois, em 2014, ele recebeu um prêmio da ONU e começou a ganhar reconhecimento. Foi nessa época que ele passou a atrair investidores para o seu projeto, que atualmente incluem nomes como a banda Coldplay e a fabricante de refrigerantes The Coca-Cola Company.
Apesar disso, as primeiras operações de limpeza começaram apenas em 2018, quando a The Ocean Cleanup testou o equipamento System 001. Depois, em 2019, uma evolução do mesmo sistema fez a primeira extração de plástico na região conhecida como a Grande Ilha de Lixo do Pacífico. Desde então, o System 001 evoluiu para System 002 – conhecido também como Jenny – para realizar algumas operações de limpeza pontuais ao longo dos anos de 2021 e 2022.
Agora, o plano ambicioso da ONG é chegar a 10 sistemas em operação na região do Oceano Pacífico que mais concentra lixo plástico, e dobrar o número de equipamentos em funcionamento em rios a cada ano.
Seus planos de expansão incluem o Brasil porque, segundo ele, o país é um dos que tem mais rios com potencial para a remoção do lixo plástico.
“Certamente há muito trabalho para ser feito no Brasil, e nós adoraríamos trabalhar com empresas locais e governos para tentar levar os interceptores para os rios do Brasil também”, afirmou.
“É um bom investimento para os governos porque é muito mais caro limpar esse lixo na costa, depois que ele já afetou as praias e o turismo, do que simplesmente coletar enquanto ele ainda está nos rios”, completou.
Redução do lixo
A criação de Boyan é focada em meios para retirar o lixo que já está no mar, mas o próprio inventor reconhece que é necessário pensar também em estratégias para evitar que a produção de plástico se mantenha nos níveis atuais. Segundo a ONU, 89% do lixo plástico encontrado no mar vem de itens de uso único, como sacolas de plástico e embalagens.
De acordo com os dados mais recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o montante de plástico no oceano é estimado em algo entre 75 e 199 milhões de toneladas. Esse lixo afeta mais de 800 espécies marinhas e costeiras, seja pelo risco de emaranhamento no lixo, seja por mudanças no seu habitat.
Por conta disso, as discussões da Conferência do Oceano da ONU têm sido focadas na redução do uso de plástico e, a longo prazo, na completa substituição deste material, e não em iniciativas de limpeza pontuais como a que foi criada por Boyan.
Uma das iniciativas é o chamado Compromisso Global da Nova Economia do Plástico, que foi reconhecido por 22 novos países durante a conferência. Entre os novos signatários do acordo há ainda governos locais, como os dos estados de São Paulo, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, que juntos reúnem quase a metade da população brasileira.
Conferência do Oceano
Responsável por cobrir mais de 70% da área do planeta, o oceano é essencial para a manutenção da vida na Terra, mas sua saúde está em perigo – este alerta é o principal foco da Conferência do Oceano da ONU, que ocorre em Portugal até esta sexta (1º).
O evento reúne delegações de diversos países para promover o desenvolvimento de ações concretas, tanto de países como de instituições privadas, para que as metas da Agenda 2030, também conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sejam atingidas. No caso do oceano, trata-se do ODS 14, Vida no Mar, que inclui compromissos como a de reduzir significativamente a poluição marinha até 2025.
Além de fornecer alimento e trabalho, o oceano também tem um papel fundamental na regulação climática do planeta: é ele que garante que a temperatura da Terra fique em níveis adequados para a sobrevivência de diversas espécies, inclusive o homem.
Mas, por conta da ação humana, os mares têm sofrido diversos desafios, que passam pelo aumento da poluição, causada principalmente por plásticos, e também pela elevação da acidez da água, provocada pela alta nas emissões de carbono na atmosfera.