
O Procon-RJ realizou uma vistoria e interditou a venda de bilhetes do trem que leva ao Cristo Redentor, na manhã desta segunda-feira (17). O sistema de vans que leva ao monumento também foi paralisado.
Os passageiros foram orientados a remarcar as viagens ou pedir o dinheiro de volta.
A interdição ocorre um dia após um turista de 54 anos morrer ao passar mal nas escadarias de acesso ao monumento. Ele foi identificado como Jorge Alex Duarte e era do Rio Grande do Sul.
O turista passou mal às 7h39, mas o posto médico só abre às 9h. Ele foi atendido pelo Samu, que chegou ao local às 8h13, de acordo com o Santuário do Cristo Redentor. O turista chegou a tirar uma foto com a família no Centro de Visitantes Paineiras, no começo do passeio.
Ao g1, a nora da vítima, Melissa Schiwe, 24, relatou demora para chegada do socorro e afirmou ter iniciado, por contra própria, os primeiros socorros.
“Comecei a gritar pra todo mundo no parque ‘é parada cardíaca'”, afirma ela, que é formada em enfermagem.
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O turista Jorge Alex Duarte — Foto: Reprodução/Instagram
Melissa afirma que por cerca de 5 minutos fez massagem cardíaca no sogro. Depois, contou com ajuda de pessoas que se aproximaram, entre elas, o padre João Damasceno, da capela do local. A nora estima que a ambulância do Samu tenha chegado cerca de 35 minutos após Jorge passar mal.
Gutemberg Fonseca, secretário de Defesa do Consumidor, explica que a bilheteria abre às 7h, mas o posto médico não.
“O posto médico só funciona a partir de 9h. E, às 17h, ele fecha. Se os consumidores subirem, estiverem lá e precisarem de posto médico não tem”, disse Fonseca.
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Jorge Alex Duarte tirou uma foto no Centro de Visitantes Paineiras, antes da subida para o Cristo Redentor. — Foto: Reprodução
Jogo de empurra
O Santuário do Cristo Redentor, que administra o monumento, afirmou que o posto médico estava fechado na hora que o homem passou mal.
Em nota, o Trem do Corcovado afirma que funciona há 140 anos sem qualquer problema de operação e que disponibiliza uma enfermaria com todos os equipamentos necessários aos primeiros socorros no alto do Corcovado. Sobre a morte do visitante, o Trem do Corcovado afirmou que não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o Samu.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICM-Bio, que administra o Parque Nacional da Tijuca, afirmou que a responsabilidade de atendimento médico é do Trem do Corcovado, o que está previsto no contrato de concessão.
O ICMBio afirma ainda que não recebeu ofício ou comunicado da Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor e nem do Procon informando, previamente, que faria uma ação de vistoria no Corcovado. “O ICMBio demonstra preocupação com a atitude da Secretaria, que causa prejuízo aos visitantes nacionais e internacionais no Corcovado. Tão logo o instituto seja formalmente notificado, irá avaliar e tomar as medidas cabíveis, principalmente para restabelecer o acesso pleno ao Corcovado de todos os visitantes”, diz o texto da nota.
“Há duas semanas, notificamos o ICM-Bio, estamos recebendo diversas denúncias sobre problemas e eles nos responderam dizendo que deveríamos falar com o Iphan. Lamentavelmente, aconteceu o episódio do falecimento de um turista. O que não pode é ficar um jogando para a conta do outro. A responsabilidade é de todos e da concessionária”, disse Gutemberg.
Reunião
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O Procon-RJ realizou uma vistoria e interditou a venda de bilhetes do trem que leva ao Cristo Redentor enquanto o posto médico estiver fechado. — Foto: Reprodução/ TV Globo
De acordo com Gutemberg, uma reunião para elaborar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) será firmado em uma reunião prevista para começar às 17h.
“[Apuramos] Que o posto médico não estava funcionando. Tem a relação de consumo, tem a parte de venda e o mínimo que o consumidor precisa não estava funcionando. Viemos hoje e está interditado. Vamos fazer uma reunião com todos os órgãos competentes para firmarmos um TAC para que o consumidor não seja lesado”, disse o secretário.
O Procon-RJ destaca que, entre as medidas solicitadas, estão questões de acessibilidade e funcionamento do monumento no mesmo horário da presença do atendimento médico no local.
O g1 esteve no posto de venda do trem no Largo do Machado e funcionários informaram que a comercialização estava suspensa nesta segunda.
Nas redes sociais, o Trem do Corcovado informou que, para solicitação de reembolso, os interessados devem entrar em contato pelo e-mail: cancelamento@tremdocorcovado.rio.
No Cosme Velho, onde ocorre o embarque, havia pouco movimento na tarde desta segunda. Denilson Julião, turista que veio de Fortaleza-CE, iria embora do Rio na terça (18), quando decidiu visitar o Cristo Redentor com a família nesta segunda.
Ele afirma que ficou frustrado ao chegar no parque e não poder visitar o monumento. “Agora só nos resta voltar para o hotel. E nem se fosse amanhã daria tempo, nosso voo sai pela manhã”.
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Posto de venda do Trem do Corcovado — Foto: Dayane Zimmerman/g1
O que diz o Santuário
Acerca da interdição dos acessos à visitação ao monumento Cristo Redentor, esclarecemos que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que se autodenomina o poder concedente da área do entorno do Santuário Cristo Redentor, é a autoridade pública responsável por garantir a correta execução do contrato de concessão firmado com as concessionárias Trem do Corcovado e Paineiras Corcovado.
Isso significa que, ainda que a operação do posto médico tenha sido delegada à concessionária Trem do Corcovado, o dever de fiscalização e de garantir que o serviço esteja em funcionamento é exclusivamente do ICMBio, conforme prevê a Lei nº 8.987/1995.
Caso o órgão tivesse exercido sua função de forma diligente e identificado a falha na prestação de serviço, deveria ter aplicado as sanções cabíveis conforme previsto no contrato. No entanto, o ICMBio permaneceu inerte, permitindo que uma situação crítica de desassistência ocorresse dentro de um dos pontos turísticos mais visitados do mundo.
O Alto Corcovado não possui ambulância, acessibilidade universal, pontos de hidratação, brigadistas, banheiros adequados com acessibilidade, escadas rolantes e elevadores em pleno funcionamento, nem internet e sinal de telefonia de acesso público que permita que os visitantes possam fazer ligações.
A tentativa do ICMBio de transferir toda a responsabilidade à concessionária é uma manobra inaceitável, que escancara a negligência do órgão e sua incapacidade de garantir a segurança e o bem-estar dos visitantes.
O Santuário Cristo Redentor não aceitará que esse triste episódio seja tratado com indiferença e exige que as medidas cabíveis sejam tomadas imediatamente, para que outra tragédia não ocorra por omissão do poder público.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro busca a todo momento colaborar com o desenvolvimento do Alto Corcovado, mas esbarra nos entraves burocráticos impostos pelo ICMBio. Diversos projetos estão sem o devido andamento sem nenhuma justificativa legal para tal, inclusive o de colocar uma ambulância de prontidão no Alto Corcovado.
Atualmente, existem dois Projetos de Lei tramitando no Congresso que objetivam devolver o Complexo do Alto Corcovado à Arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável por sua construção há quase um século.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro está prestando todo o apoio e suporte à família, enviando ao Rio Grande do Sul, nesta segunda-feira, 17 de março, o sacerdote que conduziu o velório realizado na Capela Laudato Si, no Santuário, para acompanhar a família até a cidade de São Leopoldo.
Fonte: g1