Três presidentes no exercício de seu mandato e 11 que já deixaram seus cargos; 90 políticos de alto escalão, congregações religiosas e artistas de fama mundial, bilionários e até o presidente de um banco central — toda uma constelação de personagens poderosos da América Latina fez uso de paraísos fiscais ao longo dos anos. Apesar de habitar a região mais desigual do planeta, essa elite se valeu de um emaranhado de sociedades fiduciárias, empresas de fachada e documentos mercantis opacos em lugares como as Ilhas Virgens Britânicas e o Panamá para evitar o escrutínio público sobre uma parte substancial de seus bens. É uma estrutura que vem à luz agora com a publicação dos Pandora Papers. O vazamento, obtido pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), se baseia em 11,9 milhões de arquivos que reúnem o trabalho de 14 assessorias para offshores. Esta massa de informação foi revista e verificada por uma equipe de 600 jornalistas, da qual o EL PAÍS participou junto com The Washington Post, The Guardian, BBC e diversos outros veículos de todo o mundo.
Os resultados, de impacto mundial, ganham especial relevância na América Latina, onde a cada ano escapam do fisco cerca de 40 bilhões de dólares desviados para paraísos fiscais. Como publicarão nos próximos dias este jornal e outros veículos que participaram da apuração, 14 dos 35 presidentes ou ex-presidentes mencionados nos documentos pertencem a esta região. A maioria é de tendência conservadora. Entre eles se destacam três presidentes no exercício de seus mandatos: o chileno Sebastián Piñera, o equatoriano Guillermo Lasso e o dominicano Luis Abinader. Também emergem 11 ex-mandatários, sendo os mais conhecidos os colombianos César Gaviria e Andrés Pastrana, o peruano Pedro Pablo Kuczynski; o paraguaio Horacio Cartes e os panamenhos Juan Carlos Varela e Ricardo Martinelli.
No caso do mandatário chileno, a investigação feita pelos sites chilenos CIPER e LaBot revela entre seus negócios offshore a aquisição, nas Ilhas Virgens Britânicas, da mineradora Dominga, em sociedade com o empresário Carlos Alberto Délano, seu amigo de infância. Em dezembro de 2010, nove meses depois de Piñera iniciar seu primeiro mandato, a família presidencial transferiu o negócio para as mãos de Délano com uma minuta assinada no Chile, que mencionava um valor de 14 milhões de dólares, e outra nas Ilhas Virgens, falando em 138 milhões de dólares. O montante deveria ser saldado em três parcelas, com uma condição: o último pagamento dependia de que não fosse estabelecida uma área de proteção ambiental sobre a zona de operações da mineradora, como pleiteavam grupos ambientalistas. A decisão sobre a viabilidade da mineradora Dominga ficou, portanto, nas mãos do Governo de Piñera. A área de proteção afinal não foi estabelecida, e a terceira parcela foi paga. Apesar dessas sombras, o gerente das empresas da família Piñera alegou que o presidente não dirige seus negócios há 12 anos, não foi informado sobre o processo de venda da Dominga, e que a investigação judicial sobre a operação acabou sendo arquivada.
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