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Futuro sem dinheiro? Entenda o que é ‘cashless’, tendência em todo o mundo

Por Redação

Em 23 de junho de 2022

Divulgação

Imagine que você acabou de terminar sua refeição em um restaurante, sozinho. No momento de pagar, é informado pelo garçom que a maquininha do cartão está sem sinal e inoperante.

Mesmo assim, está tudo bem! Você pode pagar por uma transferência PIX. Só tem um problema: seu celular descarregou há mais de uma hora, e se tornou inútil para qualquer operação. O que você faria?

Bom, se você respondeu que pegaria o dinheiro de emergência que deixa guardado na carteira ou andaria até uma agência bancária para sacar a quantia, você tem sorte de viver em uma sociedade em que ainda existem cédulas em circulação. Em países como o Canadá, Noruega e Suécia, por exemplo, isso já não seria tão possível.

Nesses países, a “cashless society” já é quase uma realidade. Ou seja: quase não existe mais dinheiro vivo em circulação.

Há quem defenda que o Brasil já tenha se tornado uma “sociedade sem dinheiro”, principalmente após a implementação do método de transferência PIX. Porém, o assunto é mais antigo: cartões de crédito e débito, carteiras digitais e aplicativos de pagamentos já fazem parte da rotina da maioria dos brasileiros e comerciantes.

“Com o uso de cartões, carregar moedas ou notas é um hábito que começou a desaparecer entre os jovens, o que mostra que a próxima geração já está familiarizada com a nova forma de consumir”, aponta Yael Israeli, especialista em finanças e cofundadora da Mozper, fintech de gerenciamento financeiro familiar.

Mais facilidade ao comprar, mas menos segurança

O contador e especialista em tributos Alison Santana Silva avalia que a moeda “digital” pode ser considerada um acelerador da economia. Se antes a pessoa que andaria sem dinheiro representaria a perda de uma venda, hoje esse dinheiro digitalizado já está circulando.

“A mercadoria está sendo vendida, o serviço está sendo prestado”, destaca.

A digitalização integral da moeda e o fim da circulação do papel também beneficiaria as instituições bancárias, segundo Santana. Isso porque passariam a economizar cerca de R$ 10 bilhões com segurança, movimentação e estrutura física para esse dinheiro ficar mais seguro.

Mas o professor Amaury Fernandes da Silva Junior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pensa diferente. Segundo ele, os custos hoje gastos com segurança física seriam transferidos para gastos com segurança digital.

Essa é uma das razões pela qual Amaury, que trabalhou por anos como chefe do setor de projetos de Papel-Moeda da Casa da Moeda, no Banco Central, acredita que o dinheiro físico não vai deixar de existir, pelo menos no Brasil. O especialista também aponta outros fatores importantes para essa avaliação, entre eles as pequenas transações rotineiramente feitas em dinheiro para fugir de impostos e fiscalização.

Além de haver pessoas que preferem receber em espécie para não pagar a tributação referente à transação bancária, há também atividades ilegais que se prevalecem do papel irrastreável.

“Criminosos preferem dinheiro na mão, porque não é possível saber de onde veio ou para onde ele foi depois”, esclarece.

Pobreza impede acesso às tecnologias

Na contramão do avanço, a rapidez com que os pagamentos eletrônicos substituíram a cédula física pode ser um problema para as classes mais pobres e pessoas sem acesso às novas tecnologias. Quem fala mais sobre o assunto é o professor Eduardo Diniz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que também é pesquisador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira.

“Nem toda a sociedade está digitalizada ainda. Estamos, de certa forma, lidando com um mecanismo de exclusão também”, aponta.

Diniz concorda que o uso de meios digitais para pagamento, como cartões e transferências instantâneas, reduz os custos de operação do dinheiro, mas pondera que o abismo social se expande ainda mais. O professor lembra que não é preciso apenas ter um celular para acessar o internet banking, por exemplo, mas também é preciso conhecer as funções e saber como gerenciar seu dinheiro através de aplicativos para realizar pagamentos digitais.

Mesmo assim, esse não é — ou, pelo menos, não deveria ser — um problema prioritário.

“Temos problemas maiores, com famílias na miséria. Quando a pessoa que tem fome conseguir se alimentar, ter um celular vai passar a ser sua próxima necessidade”, acrescenta.

*Com edição de Estela Marques.

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