A drástica queda de temperaturas em São Paulo tem sido duramente sentida por quem vive na rua na maior cidade do país.
Na noite de quarta-feira (28/7) e madrugada de quinta, ao menos duas mortes foram registradas pelas equipes que acompanham estas pessoas, informa à BBC News Brasil o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua.
A primeira é a de um homem de 65 anos, encontrado morto às 23h de quarta-feira na rua Araguaia, no bairro do Pari, no Centro de São Paulo, informa a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
“Contudo, é importante esclarecer que não há como confirmar se a vítima era morador de rua, já que trabalhava na região”, diz a nota da secretaria.
“Policiais militares foram acionados para atender a ocorrência e no local encontraram uma viatura do SAMU (de atendimento a emergências) que realizava o atendimento à vítima, constatando o óbito.” O caso está sendo investigado como “morte suspeita”.
Segundo Júlio Lancellotti, uma segunda morte nas ruas, também de um homem, foi confirmada na Vila Prudente, bairro da zona Leste da capital.
Lancellotti diz que não há dúvidas, pelas informações disponíveis, de que as duas mortes foram decorrentes do frio intenso — embora a hipotermia em si não seja necessariamente a causa de um óbito, ela potencializa problemas como infartos ou outros males de saúde prévios, diz o padre.
Frio recorde
Meteorologistas de diversos órgãos anunciaram que a chegada de uma forte massa de ar polar no país começou a causar uma queda histórica nas temperaturas em todas as regiões do Brasil.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma estação de medição de temperatura na zona Sul de São Paulo registrou temperatura de 4,1°C, a mais baixa em três anos, no amanhecer desta quinta-feira.
No mirante de Santana, na zona Norte da cidade, a temperatura ao amanhecer foi de 5,3°C, a menor nos últimos cinco anos.
A previsão é de que as temperaturas historicamente geladas se repitam na madrugada de sexta-feira, despertando preocupação entre quem dá assistência às populações de rua.
“Ontem (noite de quarta) tivemos mais de 50 agentes da Pastoral circulando pela cidade (para dar assistência aos moradores de rua), e vão estar nas ruas nesta noite também”, diz Lancellotti.
A Paróquia de São Miguel Arcanjo, onde ele é pároco, abrigou 20 pessoas na última noite. A estação Dom Pedro 2º do metrô paulista, que pela primeira vez foi aberta para acolher moradores de rua, recebeu outras 50 pessoas.
Segundo Lancellotti, o local tem espaço para 400 pessoas, “mas ainda é uma coisa nova para uma população que geralmente sequer pode entrar no metrô”, então a expectativa é de aumentar a ocupação do local à medida que ele se torne mais familiar aos moradores de rua.
O Centro de Convivência São Martinho, na região do Belenzinho (Centro), terá mais 40 vagas nesta noite.
Diversas organizações se mobilizaram para ajudar a população desassistida neste período de frio histórico.
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social do governo paulista afirmou ter entregue, na manhã de quinta, 7,5 mil cobertores, mil sacos de dormir e 2 mil pares de meias para entidades, a serem distribuídas à população de rua.