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Consultor que atuou no apagão de 2001 prevê racionamento em 2022

Por Redação

Em 21 de junho de 2021

Foto: CEBRI/Reprodução

O brasileiro deve acostumar-se com dois fatos indigestos quando o assunto é energia elétrica: o aumento das contas e a possibilidade de falhas no fornecimento. A escassez de chuvas durante a maior crise hídrica dos últimos 91 anos escancarou problemas que o setor enfrenta e erros do governo na condução da geração, distribuição e administração do sistema.

Adilson de Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), participou da reforma do setor elétrico como consultor do Ministério de Minas e Energia durante o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em maio de 2001, o governo criou a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE) para lidar com problemas de geração e apagões. À época, o país sofria constantes blecautes. Para o docente, o momento atual é crítico e exige atitudes mais duras.

Em entrevista ao Metrópoles, o especialista falou da crise de energia, do custo aos consumidores, criticou a privatização da Eletrobras e apontou erros da gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução das políticas públicas. Oliveira afirma que o Brasil viverá situação crítica a partir de agosto e setembro. “Um apagão generalizado acho que o governo tentará evitar, mas medidas restritivas, como racionamento, acho que é possível”, alerta.

Nas últimas semanas, o governo anunciou medidas na tentativa de conter a crise, como a compra de energia produzida por países vizinhos, mudanças na vazão dos reservatórios das hidrelétricas e ativação das usinas termelétricas — que aumentam os custos ao consumidor.

O ex-consultor avalia que somente isso não basta. “O governo deveria ter agido em 2019”, vaticina. E emenda: “Provavelmente, podemos não ter racionamento neste ano, mas teremos no próximo. É uma questão de tempo”.

Na conversa exclusiva, o especialista defende reforma ampla no setor e critica a privatização da Eletrobras, aprovada pelo Senado e que agora vai à Câmara. “No momento que vivemos a pior crise você quer privatizar os principais reservatórios”, pondera. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.

Qual a avaliação do senhor sobre a atual situação do sistema energético?

A situação hídrica é evidentemente muito grave. Todos os indicadores que nós temos são pessimistas, e a projeção é que deve se prolongar para o próximo ano. Viveremos uma situação crítica a partir de agosto e setembro. O governo começa a trabalhar, mas sempre passando os custos para os consumidores. Isso é muito preocupante. No ano que vem, a retomada da economia vai sofrer muito com esse processo. Um dos exemplos é o parque industrial, que não estará tão competitivo como os externos.

O Brasil está próximo de um apagão?

É difícil prever. A perspectiva de ter cortes, em particular em áreas centralizadas, é muito provável que venha acontecer. Acredito que vamos ter de conviver com esse tipo de fenômeno. Agora, um apagão generalizado acho que o governo tentará evitar, mas medidas restritivas, como racionamento, acho que é possível. Raciona para evitar o colapso do sistema como um todo. Seria inimaginável assistir ao Brasil inteiro sem energia por dois dias. Seria um caos.

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