As ações da Americanas afundavam nesta quinta-feira após a revelação na véspera que os balanços da companhia podem ter um rombo de 20 bilhões de reais relativo a transações com bancos e fornecedores. O movimento arrastava outras empresas do setor para baixo, em meio a receios de investidores de que os problemas na classificação dessas operações possam ocorrer em outros grupos.
O ex-presidente da Americanas Sergio Rial, que assumiu em 2 de janeiro e ficou 9 dias no cargo antes de renunciar na véspera, participou de uma conferência fechada na manhã desta quinta-feira e citou que os problemas decorrem de diferenças de contabilização do custo financeiro de dívida bancária em relação à dívida com fornecedores.
A Americanas não se manifestou sobre o assunto desde o início da noite da véspera, em que divulgou o fato relevante sobre a descoberta “preliminar” de “inconsistências contábeis” da ordem de 20 bilhões de reais,
Segundo Rial, a falta de clareza em torno de classificação de operações de “risco sacado”, uma espécie de antecipação de recebíveis dos varejistas junto aos bancos, como dívida bancária é algo que permeia o setor de varejo nacional “desde a década de 1990”.
Em sua fala, transmitida apenas em parte pelo canal do BTG Pactual no YouTube, o executivo afirmou que identificou “sinais de que talvez o nível de transparência e talvez a vontade da própria gestão em querer falar de problemas e desafios não estivesse tão fluída na organização como deveria”.
A CVM não comentou o assunto, como também não o fez a empresa responsável pela auditoria da Americanas, a PwC.
A varejista afirmou na quarta-feira que a decisão de Rial de renunciar ao comando da Americanas refletiu a “alteração de prioridades da administração” e que ele continuará como assessor dos acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
A Americanas afirmou na ocasião, apesar de não conseguir determinar todos os impactos no balanço da empresa neste momento, acreditar que “o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”.
Como referência, o patrimônio líquido da companhia no fim de setembro era de 14,7 bilhões de reais.
Uma série de corretoras colocou as recomendação das ações da Americanas em revisão desde a noite de quarta-feira.
A equipe do Bradesco BBI, por exemplo, classificou o episódio como “inconsistência contábil considerável e sem precedentes” e considerou a notícia “bastante negativa”.
Enquanto isso, analistas da XP Investimentos citaram que a saída de Rial, que enxergavam como pilar importante para sustentar o processo de transformação da Americanas, representa um risco para a tese de investimento na empresa, enquanto o escândalo contábil pode implicar maior alavancagem e riscos de processos judiciais nos Estados Unidos.
Já o Citi considerou que a “claramente, este ainda é o começo de uma longa e complexa história”. O Morgan Stanley retirou a recomendação “overweight” para as ações da Americanas.
Para analistas da BB Investimentos, as chamadas operações de risco sacado são comuns no setor varejista e a transparência das informações divulgadas “pode variar de companhia para companhia”.
(Reportagem Paula Arend Laier e Tatiana Bautzer)