A agricultura é um setor fundamental para a economia de muitas regiões, e suas vulnerabilidades a fatores externos podem ter consequências significativas para a segurança alimentar e a estabilidade econômica. O Rio Grande do Sul, no Brasil, e a Ucrânia, têm enfrentado desafios severos que resultaram em perdas significativas na produção de grãos. Apesar das diferenças nas causas – desastres climáticos no Brasil e conflitos armados na Ucrânia – ambos os casos ilustram a fragilidade das cadeias produtivas agrícolas diante de circunstâncias adversas.
Perdas no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, as enchentes recentes provocaram uma perda estimada de 851 mil toneladas na safra de grãos. As culturas mais afetadas foram arroz, soja e trigo. Este desastre climático foi descrito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como o pior já registrado no estado. O arroz, que é uma cultura de destaque no Rio Grande do Sul, responsável por 74% da produção nacional, sofreu uma perda de 202 mil toneladas. A soja teve uma perda ainda maior, de 457 mil toneladas. No entanto, a produção de grãos em outras regiões do Brasil compensou parcialmente essas perdas, resultando em uma revisão positiva da produção nacional de grãos, que deve atingir 295 milhões de toneladas este ano.
As enchentes não apenas destruíram colheitas, mas também causaram danos significativos à infraestrutura de armazenamento. Armazéns com capacidade estática de 1 milhão de toneladas foram afetados, prejudicando a estocagem de soja e outros grãos. Em resposta, o Brasil planeja aumentar as importações de arroz para garantir a estabilidade do abastecimento interno, com uma programação escalonada de até 1 milhão de toneladas.
Perdas na Ucrânia
A situação na Ucrânia, por sua vez, é profundamente influenciada pelo conflito armado com a Rússia. A guerra resultou em uma drástica redução da área semeada com trigo de inverno, caindo de mais de seis milhões de hectares em 2022 para cerca de 3,8 milhões de hectares em 2023. Essa redução na área cultivada levou a uma queda acentuada na produção de trigo, que despencou de 32,2 milhões de toneladas em 2021 para 20,2 milhões de toneladas em 2022. Estima-se que a produção total de grãos da Ucrânia possa cair para entre 35 e 40 milhões de toneladas em 2023, bem abaixo dos 86 milhões de toneladas recorde de 2021.
A guerra tem impactado todas as etapas da cadeia produtiva agrícola na Ucrânia, desde o plantio até a colheita e a distribuição. A insegurança e a destruição de infraestruturas essenciais dificultam a manutenção da produção agrícola em níveis anteriores ao conflito. Isso não só compromete a segurança alimentar da Ucrânia, mas também afeta mercados globais, dado o papel crucial da Ucrânia como um dos maiores produtores e exportadores de grãos do mundo.
Apesar das diferenças nas causas das perdas – com o Rio Grande do Sul enfrentando um desastre climático e a Ucrânia um conflito armado – ambos os casos sublinham a vulnerabilidade da agricultura a eventos externos. No Brasil, a capacidade de outras regiões compensarem as perdas do Rio Grande do Sul mostra uma certa resiliência do sistema agrícola nacional. No entanto, a necessidade de importação de arroz para garantir o abastecimento demonstra que mesmo um sistema diversificado tem seus limites.
Na Ucrânia, a redução drástica na produção de grãos devido à guerra destaca a fragilidade das cadeias produtivas em contextos de conflito. A dependência do país na exportação de grãos para sua economia torna essa situação ainda mais crítica, com implicações severas para a segurança alimentar global.
Ambas as situações reforçam a importância de estratégias de mitigação de riscos e de adaptação para enfrentar desastres climáticos e conflitos armados. Investimentos em infraestrutura resiliente, diversificação de culturas e regiões de produção, bem como políticas eficazes de importação e exportação, são essenciais para minimizar os impactos adversos e garantir a segurança alimentar e a estabilidade econômica a longo prazo.
Fonte: Maikon Leal