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EUA veem avanço “sem precedentes” em instalações chinesas com potencial nuclear

Por Redação

Em 3 de novembro de 2021

Foto: Divulgação

A construção rápida em três campos de silos suspeitos na China – que poderiam eventualmente ser capazes de lançar mísseis nucleares de longo alcance – parece indicar que Pequim está investindo esforços e recursos substanciais no desenvolvimento de suas capacidades nucleares, de acordo com análise de novas imagens comerciais de satélite.

Especialistas da Federação de Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês), uma organização não-partidária de pesquisa e defesa de segurança nacional, descobriram que a China fez progressos significativos em campos de silos suspeitos na parte ocidental do país.

“Para a China, este é um avanço nuclear sem precedentes”, escreveram Matt Korda e Hans M. Kristensen, os autores do relatório da FAS, divulgado nesta terça-feira (02).

Os autores observaram que, “os campos de silos de mísseis ainda estão há muitos anos de se tornarem totalmente operacionais, e resta saber como a China os armará e operará.”

No entanto, relatórios recentes de atividades chinesas aumentaram as preocupações das autoridades americanas sobre o rápido progresso militar da China. A suspeita de desenvolvimento de um primeiro campo de silo de míssil foi relatada no final de junho.

Após outro relatório da FAS divulgado em julho sobre a suspeita de desenvolvimento de um segundo campo de silo na China, o Comando Estratégico dos EUA tuitou : “Esta é a segunda vez em dois meses que o público descobre o que temos dito sobre a crescente ameaça que o mundo enfrenta, e o véu de segredo que o cerca. ”

O almirante da Marinha Charles A. Richard, chefe do Comando Estratégico dos EUA, disse, em agosto, que “estamos testemunhando um recuo estratégico da China”.

“O crescimento explosivo e a modernização de suas forças nucleares e convencionais só podem ser o que descrevo como de tirar o fôlego. E, francamente, essa palavra de tirar o fôlego pode não ser suficiente”, disse ele.

Avaliação feita pela Federação de Cientistas Americanos (FAS) sobre o desenvolvimento das instalações chinesas ao longo do tempo / Planet Labs e FAS

As imagens de satélite comerciais, produzidas pela Maxar Technologies e Planet Labs, analisadas pela FAS oferecem algumas das imagens mais detalhadas de três campos de silos de mísseis suspeitos, onde os chineses parecem estar construindo cerca de 300 novos silos de mísseis.

“O que é notável é a escala e a velocidade, que está muito além do que os chineses já fizeram em silos de mísseis antes”, disse Kristensen à CNN.

A CNN entrou em contato com o governo chinês para comentar o novo relatório.

O desenvolvimento contínuo dos silos pela China ocorre em um momento em que o país está reforçando significativamente suas capacidades militares.

Os EUA disseram que a China testou uma arma hipersônica nos últimos meses, que o presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, Mark Milley, chamou de “muito preocupante”. Ele também disse que “as capacidades militares chinesas são muito maiores” do que a apresentada durante os testes.

No entanto, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que o teste de agosto foi “uma espaçonave, não um míssil”.

A China há muito se comprometeu com uma política de dissuasão mínima, o que significa que mantém seu arsenal nuclear no nível mínimo necessário para impedir um adversário de atacar. Acredita-se que ela tenha cerca de um décimo das armas nucleares da Rússia e dos EUA, além de uma política de não usar primeiro, conhecida como “No first use – NFU”.

Uma mudança na abordagem da China?

Alguns especialistas e autoridades dizem que os desenvolvimentos recentes levantam questões sobre o compromisso da China com a política NFU.

Nicholas Burns, embaixador dos Estados Unidos na China nomeado por Biden, disse, durante sua audiência de confirmação em outubro, que os chineses “estão deixando para trás essa postura”, de não usar primeiro, “e estão rapidamente envolvidos na construção de suas armas nucleares, incluindo os desenvolvimentos perturbadores de tecnologia hipersônica”, disse Burns.

Benjamin Friedman, o diretor de política do think tank chamado Prioridades de Defesa, com sede em Washington, disse acreditar que a China não mudou a sua política. “Não deveríamos considerar o desenvolvimento de mais mísseis necessariamente como uma abordagem diferente da parte chinesa, pode ser que eles pensem que a mesma abordagem requer mais armas do que antes”.

Segundo Friedman, “os Estados Unidos continuam, há muito tempo, buscando aumentar sua capacidade de primeiro ataque contra todos os adversários nucleares”. Isso significa, de acordo com o especialista, incrementar o número de armas nucleares capazes de destruir o arsenal adversário “de uma só vez”.

Para ele, a postura da China significa muito mais fortalecer suas opções para uma eventual resposta. Para isso, o país acredita que possa “precisar de um pouco mais de segurança” um primeiro ataque americano.

Kristensen, da FAS, disse que a construção dos campos de silos “provavelmente tem a ver com o fato de que a liderança chinesa acabou de decidir que a China tem que ser grande militarmente, e as forças nucleares têm que se igualar a isso”.

Ele também observou que, o incremento do arsenal da China “reduz a possibilidade de qualquer um derrubá-la em um ataque surpresa.”

Não está claro se os EUA serão capazes de saber se esses silos estão cheios de mísseis, o que levanta muitas dúvidas para o país com relação à determinação de como conter ou competir com o desenvolvimento militar da China.

Alguns especialistas apontam que isso pode fazer parte da estratégia da China.

Vipin Narang, professor de ciência política com foco em proliferação nuclear e estratégia do MIT) Instituto de Tecnologia de Massachusetts), diz que, a estratégia da China pode fazer com que os Estados Unidos tenham que dispensar um arsenal maior em uma eventual necessidade de destruir os novos silos para conter a ascensão chinesa. “Teríamos que nos comprometer a destruir todos (os silos). Se for esse o caso, os Estados Unidos terão de comprometer talvez o dobro de ogivas”, disse

A implicação disso, segundo Narang, seria os Estados Unidos terem que repensar o planejamento nuclear.

As imagens dos documentos americanos também revelam que a China parece estar construindo outros tipos de instalações de apoio ao redor dos silos, disse Kristensen. Essas instalações têm quase o tamanho de um estádio de futebol e estão voltadas para proteger a área de construção do silo de fatores ambientais.

Os especialistas que produziram os documentos também observaram que os abrigos podem ter sido construídos para “esconder detalhes técnicos” da vista dos satélites americanos que sobrevoam a área em busca de informações sobre o desenvolvimento do arsenal militar chinês.

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