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Crise em cascata dos planos de saúde gera queixa de R$ 1 bi em pagamento atrasado

Por Redação

Em 8 de maio de 2023

O chefe do médico da UTI, Everton Padilha Gomes, examina uma radiografia de tórax de um paciente em um hospital de campo criado para tratar pacientes que sofrem da doença por coronavírus (COVID-19) em Guarulhos, São Paulo

A crise dos planos de saúde, que fecharam 2022 com prejuízo operacional de R$ 11,5 bilhões, o pior patamar mensurado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) em 20 anos, provoca um efeito cascata no mercado e pode ficar ainda mais profunda do que sinalizam os indicadores do setor.

Distribuidores e importadores de produtos como próteses, válvulas cardíacas e outros materiais especiais usados em tratamentos e cirurgias dizem que estão subnotificados os casos de falta de pagamento das mercadorias que vendem aos planos de saúde e hospitais.

Os próprios hospitais também se queixam de atraso e atribuem aos planos a responsabilidade pela dilatação dos prazos.

De acordo com a Abraidi (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde), cresceu no último ano a prática da retenção de faturamento, ou seja, o fornecedor entrega uma prótese de joelho ou um stent para uma cirurgia, mas o comprador, que pode ser o plano de saúde ou o hospital, exige que ele atrase a emissão da nota fiscal, mantendo a transação sem registro oficial por mais tempo.

Segundo levantamento da entidade com cerca de 300 associados, há mais de R$ 1 bilhão em vendas cujas notas fiscais ainda não foram emitidas, um aumento de quase 50% em relação à sondagem realizada há um ano. Ainda segundo a pesquisa, o tempo médio até a emissão da nota fiscal está em torno 48 dias, mas alguns fornecedores dizem ter casos atrasados por mais de seis meses.

A Abraidi afirma que os fornecedores se submetem e aceitam postergar o faturamento porque se trata de um setor muito pulverizado, com inúmeros distribuidores regionais de porte pequeno e médio, que têm receio de retaliação comercial dos compradores, os quais são, geralmente, companhias maiores, com poder de compra fortalecido.

“Isso acontece depois que a cirurgia foi executada, e o paciente voltou para casa curado. Não é que o fornecedor não consegue cobrar. Ele não consegue nem emitir a nota fiscal daquilo que foi usado na cirurgia. Para nós, isso representa um prazo extremamente dilatado de recebimento. Se eu levo 90 dias para faturar e outros 120 para receber, o meu prazo de recebimento é de 210 dias”, diz Sérgio Rocha, presidente da Abraidi.

Hella Gottschefsky, diretora jurídica da associação, afirma que a prática posterga o reconhecimento de dívidas com fornecedores, podendo gerar uma falsa impressão positiva nos balanços de hospitais e planos.

A entidade diz que está reunindo dados para denunciar à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e que vê analogia com o caso da Americanas. Questionada pela reportagem se o problema tem chamado a atenção, a CVM afirma que acompanha informações e movimentações, tomando medidas cabíveis quando necessário.

A ANS afirma que não interfere na dinâmica da relação entre a operadora e o prestador, mas avalia que o atraso das notas, por si só, não gera impacto nos números de sinistralidade porque é estimado um provisionamento.

“Mesmo para aquelas despesas ainda não comunicadas (ocorridas e não avisadas) as operadoras estimam, a partir do seu histórico, a expectativa de aviso das mesmas, provisionada nas demonstrações financeiras (provisão de eventos ocorridos e não avisados). Este processo independe de nota fiscal”, diz a ANS.

A outra parte da preocupação dos fornecedores é com a fiscalização tributária em um momento em que o governo intensifica os esforços para buscar alternativas de arrecadação perdida.

O receio entre os fornecedores é o de serem autuados por sonegação, já que a mercadoria circula sem a emissão de nota. Além do ICMS estadual, a preocupação abrange a incidência dos tributos federais, como Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, Contribuição Social e Pis/Cofins.

Pelos dados da Abraidi, do total de R$ 1,1 bilhão de faturamento retido, quase R$ 503 milhões correspondem a produtos entregues para hospitais privados e mais de R$ 470 milhões são de convênios, planos de saúde e seguradoras. O SUS abrange outros R$ 111 milhões. O problema representa 12% das receitas das distribuidoras e importadoras associadas à entidade.

Antônio Britto, diretor da Anahp (associação de hospitais privados), afirma que o cenário é ainda mais complexo. “A realidade é que estamos enfrentando um momento de uma crise no sistema todo, onde os planos, para melhorar o fluxo de caixa, vêm atrasando o pagamento aos hospitais. E os hospitais não podem pagar os fornecedores sem ter recebido dos planos de saúde”, diz.

Entre os hospitais ligados à Anahp, o indicador de glosas, que são os questionamentos feitos pelos planos às faturas enviadas pelos hospitais e prestadores de serviço, subiu mais de 20% entre 2021 e 2022, e o prazo médio de recebimento cresceu 7%, para 73 dias.

A Abramge, associação que reúne planos de saúde, afirma que as empresas têm obrigação regulatória de provisionar 100% dos valores ainda não pagos.

Fonte: Correio do Estado

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