A procura por uma vaga no mercado de trabalho na adolescência é o principal motivo da saída de jovens de 15 a 17 anos da escola. O fator foi apontado pelo secretário estadual de educação, Hélio Queiroz Daher, que elenca também outros motivos como a segurança e o índice de reprovação.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 122 mil adolescentes na faixa etária de 15 a 17 anos de idade, 108 mil estavam devidamente matriculados em 2023, o que alerta para 14 mil jovens fora da escola. Em 2016, eram 116 mil adolescentes em MS, enquanto 100 mil desses frequentavam o colégio, totalizando 16 mil fora das salas de aula.
Mesmo com um número pequeno, comparado ao índice brasileiro, de 9 milhões de jovens de 14 a 29 anos fora da escola, divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, Hélio Daher revela que o governo estadual vem intensificando as ações para atrair essas pessoas para a sala de aula.
“Enquanto a gente tiver um aluno que não concluiu seus estudos, isso é preocupante. Por mais que esse número, se você considerar o grupo geral dessa idade, é um grupo inclusive menor do que na maioria dos estados brasileiros. Mas, a gente tem que trabalhar com a ideia de que não pode ficar nenhum fora”, destaca o secretário.
A doutora em educação, professora Nadia Bigarella, comenta ainda que apenas os dados estáticos não são suficientes, que é necessário fazer um recorte de renda, sexo e raça, para entender melhor os fatores que levam esses adolescentes para fora da escola, no entanto, esse índice já aponta que o direito a educação não está sendo garantido a todos.
“A educação é o primeiro direito social garantido no texto constitucional, ninguém, nenhuma pessoa, sendo brasileiro ou não, poderia ser desapropriado desse direito, pela sua importância e condição para o aprimoramento de todos os seres humanos”, afirma a professora.
O secretário pontua que a maioria desses estudantes fora da escola, visando uma renda, entende que é melhor aceitar um emprego, mesmo que seja sem registro, do que permanecer no colégio.
Devido a este fator, o secretário destaca que o foco do Estado é investir em educação profissional, ou seja, em alternativas que associam o ensino regular obrigatório com o ensino profissionalizante, para que esses estudantes sejam atraídos para a escola.
“Ou seja, o jovem entender que se ele permanecer na escola ele vai ser qualificado e vai poder entrar no mercado de trabalho mais rápido, e entrando de maneira qualificada, que é aquilo que o próprio mercado de trabalho espera da gente. Tem muito investimento hoje no Estado, vamos falar da área da celulose, da própria Rota Bioceânica, na área da tecnologia”, explica Daher.
O secretário destacou programas, como de cursos curtos focados no mercado de trabalho, ações de parcerias com empresas para que esses jovens sejam encaminhados, a oferta de cursos de educação de jovens e adultos (EJA), turmas de ensino médio no período noturno e na modalidade de Ensino a Distância (EaD), para que essas pessoas terminem os estudos.
Entres os outros pontos, a respeito da segurança, o secretário informa que ações já foram realizadas, como o monitoramento e rondas escolares. No entanto, outro motivo, a reprovação, ainda é algo que precisa ser melhorado, informa Hélio. Para o secretário, é necessário combater a reprovação, principalmente no ensino fundamental.
“Tem outra característica, de que 90% desses estudantes de 15 a 17 anos que deixam a escola reprovaram no ensino fundamental. Então tem uma outra situação para trabalhar, que é diminuir a reprovação no ensino fundamental, porque quando ele entra reprovado, perdeu um ano, dois anos no ensino fundamental, ele entra no ensino médio já com 16 para 17 anos, enquanto ele deveria entrar com 14 para 15 anos. Então ele já entra mais amadurecido e quer ir para o mercado de trabalho”, pontua o secretário.
A doutora em educação, Nadia Bigarella, também elenca à falta de êxito acadêmico como uma das causas da evasão e abandono escolar, o que acarreta também no “descompasso na trajetória” desse adolescente.
“A evasão acontece devido à falta de êxito acadêmico, causando prejuízos e na fase adulta, em especial na conquista de uma vaga de trabalho, muitas vezes, quando adulto, muitos retornam aos bancos escolares, no caso, na EJA. Estes números mostram que o poder público está negligenciando os direitos de uma parte da população”, expõe Bigarella.
Uma das alternativas para evitar a evasão escolar é o programa Pé de Meia, do Ministério da Educação. A iniciativa, que começou a remunerar alunos da rede pública de ensino em todo o país nessa semana, prevê uma bolsa de R$ 200 mensais, que podem ser sacados a qualquer momento, mais depósitos de R$ 1.000 ao final de cada ano letivo concluído.
“O estudante só pode retirar da poupança (o valor de R$ 1.000 por ano letivo concluído), após se formar no ensino médio. Considerando as dez parcelas de incentivo, os depósitos anuais e, ainda, o adicional de R$ 200 reais pela participação no Enem, os valores chegam a R$ 9.200 por aluno”, explica o MEC, no portal.
Fonte: Correio do Estado