Alta de insumos e guerra elevam em 42% custo da produção de soja

Foto: Reprodução/Governo do Estado

O custo da produção de soja em Mato Grosso do Sul aumentou 42,14% em dois anos. Conforme estimativa da Associação dos Produtores de Soja e Milho de MS (Aprosoja-MS), na safra 2020/2021, o valor investido por hectare era de R$ 4.826,26, para 2022/2023, a projeção é que o produtor tenha de investir R$ 6.860,08.

As principais justificativas para a alta nos custos são o aumento dos insumos e a falta deles no mercado mundial, em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia.

“Aumento do dólar, redução da oferta de insumos relacionado com a guerra entre Rússia e Ucrânia, menor produção de insumos no mundo, aumento dos preços no mundo e alta demanda por insumos” são alguns dos fatores que influenciam no aumento dos custos, de acordo com o doutor em economia Michel Constantino.

Ainda segundo o economista, a alta de juros influencia no valor do crédito para o produtor que faz empréstimos para implantar a saca. A taxa básica de juros, a Selic, saiu de 2% ao ano em março de 2021 para os atuais 13,75%.

Para o mestre em economia Eugênio Pavão, a produção atual também é afetada pelo alto custo de transportes, fertilizantes e principalmente a alta da Selic. “As altas dos custos se deram pela alta dos insumos, transportes [com o aumento do diesel e dos fretes] e das máquinas agrícolas”, avalia.

No comparativo com a safra 2021/2022, a alta no custo da implantação das lavouras de soja é projetado em 26,6%, conforme análise do setor econômico da Aprosoja-MS. O produtor rural investiu R$ 5.419,01 por hectare plantado no ciclo anterior.

A análise considera fatores como despesas diretas e indiretas, custos fixos e variáveis. Entre eles, o custo variável que engloba insumos como sementes, fertilizantes, fungicidas, herbicidas e inseticidas é o maior responsável pelo aumento, com participação de 91,17% no custo total.

“Com as variáveis descritas pela apuração é possível calcular o custo de produção para qualquer propriedade rural, considerando suas peculiaridades, e isso auxilia o produtor na identificação dos gargalos e na tomada de decisão”, ressalta o presidente da Aprosoja-MS, André Dobashi.

De acordo com a entidade, fertilizantes e herbicidas passaram de 140% de valorização e foram os itens que mais contribuíram para os avanços dos custos. Tratamento de sementes, correção de solo e as operações com máquinas e implementos subiram acima da casa dos 50%.

SACA

Na conversão para saca, o custo da próxima safra de soja representa cerca de 40 sacas por hectare, ao preço de R$ 170. Nos anos anteriores, o investimento foi de 48 sc/ha no ciclo 2020/2021 e 41 sacas por hectare na safra passada.

“Em pleno ano pandêmico, o preço dos insumos se elevou, culminando em um aumento do custo para produção da soja. Todavia, o preço da saca do grão também teve um aumento significativo, acima do patamar de R$ 150 por saca como na safra passada. Dessa forma, ao considerar o custo em número de sacas, houve pouca alteração”, detalha a análise da Aprosoja-MS.

A saca com 60 kg de soja fechou cotada a R$ 170 no mercado físico de Mato Grosso do Sul. Conforme dados da Granos Corretora, a oleaginosa variou entre R$ 169 na praça de Chapadão do Sul e R$ 179 em Dourados.

Em 2022, o preço médio da saca de soja chegou a custar R$ 192,75 em 7 de março e atingiu R$ 182,94 no dia 10 de junho.

No comparativo com agosto do ano passado, a saca aumentou 8,9%, naquele período, o valor praticado no mercado local era de R$ 156 em média.

Com o aumento dos custos, o produtor acaba muitas vezes reduzindo sua margem de ganhos. Para se ter uma proporção do estreitamento da margem do agricultor ou do risco de prejuízos, pode-se destacar a produtividade média da safra 2021/2022 em MS, que chegou a 38,65 sacas por hectare, média baixa por conta de uma estiagem severa.

E mesmo em um ano de safra recorde, como foi 2020/2021, o investimento para o próximo ciclo representaria mais da metade da média colhida, que foi de 62,64 sacas por hectare.

Com a seca influenciando em produção menor dos Estados Unidos, o mercado projeta a soja batendo a casa dos R$ 200 ainda em 2022, o que pode ser positivo para o produtor.

De acordo com o site Notícias Agrícolas, o mercado da soja subiu quase 30 pontos na Bolsa de Chicago. Por volta das 11h50min (horário de Brasília), as cotações trabalhavam com ganhos próximos de 2%, levando novembro a US$ 14,64 e março a US$ 14,70 por bushel. Ainda no complexo soja, mais de 1% de avanço tanto no farelo quanto no óleo de soja.

ESTRATÉGIA

Apesar da redução da margem de lucro do agricultor, o investimento ainda compensa, de acordo com os economistas. Para os especialistas, o investimento na tecnologia e o consequente aumento da produtividade é a melhor saída para o produtor não ter uma margem de ganhos tão estreita.

“O produtor pode tentar reduzir essa conta aumentando a produtividade, e isso já vem acontecendo. Além disso, a receita de venda aumentou, o que já compensou os insumos. Os produtores acabam estocando a soja, o milho, e outros para vender quando os preços estão mais altos. O investimento compensa, e esse fato é comprovado com o aumento da produção e da safra”, analisa Constantino.

O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, disse em entrevista ao Correio do Estado concedida no mês passado que a tecnologia é chave para evitar prejuízos.

“A safra ficou mais cara do que a que nós fizemos no ano passado, isso implica que ele [produtor] vai ter de investir em tecnologia, boa produtividade para que ele tenha uma remuneração adequada”, avalia.

O economista Eugênio Pavão ainda ressalta que a situação da crise criada pela guerra na Ucrânia afeta a produção agrícola principalmente para soja e milho e corrobora sobre a adoção de tecnologia no campo.

“Os custos da cultura de soja têm na tecnologia um fator de redução de custos, assim quanto mais inovação, menor o custo de produção”, finaliza.

Ainda não há projeção oficial para a produtividade da próxima safra de soja no Estado.

Na safra 2021/2022, os produtores enfrentaram problemas climáticos que fizeram o resultado ser o menor dos últimos cinco ciclos. Foram retiradas do solo 8,6 milhões de toneladas da oleaginosa ante projeção de 12,7 milhões de toneladas.

Já no ciclo anterior, 2020/2021, o Estado colheu safra recorde com 13,3 milhões de toneladas de soja.

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